Brasileiro preso pelo chavismo foi confundido com americano, diz família

Jonatan Moisés Diniz foi detido em dezembro sob a acusação de ser um agente da CIA e tramar contra governo de Nicolás Maduro; segundo irmão de catarinense, ele está no Helicoide, sede do serviço de inteligência da Venezuela

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Foto do author Rodrigo Turrer
Por Rodrigo Turrer e Rodrigo Cavalheiro
Atualização:

O brasileiro Jonatan Moisés Diniz foi detido na Venezuela após ter sido confundido com um cidadão americano – ele vive nos EUA e portava uma carteira de motorista do país – e está preso na sede do serviço secreto venezuelano, segundo informações recebidas por sua família. O chavismo afirmou na manhã de ontem ao Ministério de Relações Exteriores do Brasil que o estado de saúde do brasileiro é bom.

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Segundo Juliano Diniz, irmão do brasileiro, as autoridades venezuelanas confirmaram que Diniz está na sede do Serviço Bolivariano de Inteligência Nacional (Sebin), na prisão Helicoide, um antigo projeto de shopping transformado em presídio, em Caracas. 

O brasileiro Jonatan Moisés Diniz, de 31 anos, que foi preso em Caracas acusado de conspirar contra o governo de Nicolás Maduro Foto: Reprodução / Jonatan Diniz / Facebook

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“Já sabemos que ele está nessa Helicoide, e disseram ao Itamaraty que ele está bem, mas ainda não tivemos contato direto com ele”, disse ao Estado Juliano Diniz. A prisão, destino de dezenas de presos políticos encarcerados sem o devido processo legal, é conhecida como “A Tumba”. 

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Segundo Juliano Diniz, a situação de seu irmão se agravou em razão de um mal-entendido. Como morava nos Estados Unidos e portava apenas a carteira de motorista do Estado onde morava, a Califórnia, as autoridades venezuelanas acreditaram que ele era cidadão americano. 

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Segundo o Estado apurou, a informação sobre um equívoco na identificação da nacionalidade de Diniz chegou ao Itamaraty, mas foi interpretada como uma justificativa fraca para uma prisão sem razões sólidas. Opositores acreditam que o regime teria interesse na detenção de americanos para usá-los como moeda de troca na disputa diplomática com os EUA. A Justiça americana condenou recentemente dois sobrinhos de Nicolás Maduro por tráfico de 800 quilos de cocaína. Eles ficaram conhecidos como “narcossobrinhos”.

De acordo com Juliano Diniz, a ONG Foro Penal Venezolano ajudou no processo de obter informações sobre o irmão. “Nós tivemos de procurar um advogado local para fazer todo o processo, porque o regime é muito fechado”, disse. “Eles ajudaram a fazer a intermediação e a descobrir o que aconteceu de fato com ele.”

Crise diplomática. A informação sobre a localização de Diniz foi dada um dia depois de o Itamaraty emitir uma nota cobrando detalhes do governo da Venezuela sobre o paradeiro do brasileiro e apelando para convenções internacionais das quais os dois países são signatários.

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O Itamaraty disse que recebeu informações de que o brasileiro está detido em um edifício de segurança na Venezuela – mas sem dar detalhes se era uma prisão ou uma delegacia. A diplomacia brasileira esperava que o Consulado do Brasil em Caracas obtivesse autorização para visitar Diniz.

Caso o chavismo autorizasse a visita, a tendência é de que ela fosse feita por um diplomata. A família do brasileiro não tinha informações sobre seu paradeiro desde o dia 26 de dezembro – sua detenção foi anunciada pelo número dois do chavismo, o deputado Diosdado Cabello, durante transmissão na emissora estatal venezuelana, no dia 27. 

Segundo autoridades venezuelanas, ele foi preso por tramar contra o governo de Nicolás Maduro. A família, no entanto, garante que ele trabalhava numa ONG destinada a ações humanitárias.

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O Itamaraty precisou reforçar os pedidos de informações sobre o brasileiro, usando para isso a Polícia Federal, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e o Ministério da Defesa para conseguir notícias do brasileiro. Em nota divulgada na quinta-feira, o Brasil solicitava à Venezuela que respondesse “aos diversos pedidos de informação sobre a localização de nosso compatriota e sua situação jurídica, bem como de visita consular, cursados nos termos das convenções internacionais e de acordo com as obrigações assumidas pelos dois países à luz do direito internacional”.

Diniz mora na Califórnia, nos EUA, mas viajou pelo menos quatro vezes para a Venezuela nos últimos dois anos. Em suas contas pessoais no Facebook e no Instagram, há fotos dele distribuindo roupas e alimentos e promovendo campanhas para arrecadar dinheiro. 

Diniz chegou a viver em Caracas, a capital venezuelana, por dois meses, no início de 2017, quando se envolveu mais profundamente com a crise na Venezuela. Procurado ontem para comentar as acusações contra Diniz, o governo da Venezuela não se manifestou. / COLABORARAM DAIENE CARDOSO E CARLA ARAÚJO

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