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Britânicos insistem em novo plebiscito

A 14 meses do fim das negociações com a UE, cresce no Reino Unido a mobilização pela realização de uma nova votação sobre o Brexit

Por Andrei Netto , Correspondente e Paris
Atualização:

PARIS - Nos próximos 14 meses, negociadores britânicos e europeus terão de fechar um acordo sobre o divórcio entre Londres e Bruxelas. De olho nas pesquisas, o diretor da associação Open Britain, que atua contra o Brexit, espera convencer a opinião pública a realizar um novo plebiscito que impeça a ruptura.

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Thomas Cole é coordenador de uma das nove entidades britânicas, entre grupos políticos suprapartidários, associações e ONGs, que uniram forças no Grupo de Coordenação de Base (GCG, na sigla em inglês), para conscientizar os britânicos sobre os riscos econômicos do Brexit. “Os resultados foram conhecidos 20 meses atrás. Se o Brexit ocorrer como programado, estamos chegando à reta final. É importante levar a mensagem sobre o que isso significa para os britânicos”, disse ao Estado.

Bandeira do Reino Unido tremula em Londres; britânicos contrários à saída da UE se mobilizam para tentar realizar nova votação Foto: Bloomberg photo by Chris Ratcliffe

Faltando pouco para o fim das negociações, cresce no Reino Unido a mobilização desses grupos para um novo plebiscito sobre o Brexit. O GCG é liderado por entidades que, juntas, dizem representar 500 mil britânicos. A mobilização pretende impedir que a ala radical do Partido Conservador, que tem muita influência com a primeira-ministra britânica, Theresa May, leve o país a um “hard Brexit”, uma separação nos termos mais duros possíveis.

Na pior das hipóteses, eles defendem um “soft Brexit”, ou seja, a mínima separação possível. O cenário ideal, no entanto, seria o Parlamento convocar um novo plebiscito para decidir se a saída da União Europeia deve ser confirmada.

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Cole vê com entusiasmo as recentes pesquisas que indicam um apoio de até 60% por um segundo plebiscito, mas reconhece que os britânicos continuam divididos - as mesmas pesquisas confirmam a tendência de polarização registrada em junho de 2016, quando o Brexit venceu por 52% a 48%. “Acho que, nas próximas semanas, a ideia de uma segunda votação sobre o acordo ganhará terreno, mas não temos como antecipar se alguma coisa vai acontecer. Estamos vivendo em um tempo de muita incerteza”, afirma Cole.

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O grupo de parlamentares pró-Europa é liderado pelo deputado trabalhista Chuka Umunna, uma das novas estrelas do partido. “Se o povo começou o processo, ele deve decidir como vai acabar. E se, sim ou não, nós realmente partiremos”, disse Umunna, em entrevista à France-Presse.

A estratégia de lutar contra o Brexit não é consensual entre os grupos que debatem o futuro do país. Simon Usherwood, vice-diretor do UK in a Changing Europe, centro de estudo da universidade King’s College London, acredita que os grupos envolvidos no GCG não têm, necessariamente, objetivos comuns. Sua grande força, segundo ele, é a frustração com o resultado da votação de 2016.

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“Esses grupos não foram muito coordenados em seus objetivos até aqui. Há pessoas mais dedicadas a parar o Brexit no Parlamento. Outras, pedem uma nova consulta, mas apenas após o acordo com a Europa. E há ainda pessoas que não querem parar o processo, mas tentam obter uma relação mais próxima com a UE”, explica Usherwood. “Não temos uma recomendação a dar aos britânicos. Não somos um grupo de campanha, mas sim um grupo voltado a fornecer evidências para que eles tomem uma decisão.”

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A organização da sociedade civil para lutar contra o Brexit também tem inspirado militantes a criar novos partidos. Um deles, o Renew, inspirado no francês En Marche, iniciativa bem-sucedida do presidente Emmanuel Macron, pretende capturar a fatia do eleitorado inconformada com a saída da UE.

Uma das ambições do movimento é reunir líderes políticos insatisfeitos entre os partidos Conservador e Trabalhista - como seria o caso de Umunna. No entanto, para Usherwood, é “improvável” que o GCG se transforme em um rival direto das legendas tradicionais. Além disso, segundo ele, o grupo acabaria sendo uma espécie de anti-Ukip, o partido de extrema direita criado com o único objetivo de obter a ruptura com a UE que praticamente acabou após o Brexit.

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