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Calote cada vez mais próximo

As medidas anunciadas pelo presidente Maduro não tranquilizaram os bancos com relação ao futuro da Venezuela

Por Sebastian Boyd
Atualização:

O presidente Nicolás Maduro perdeu uma oportunidade de salvar a arruinada economia da Venezuela na quarta-feira ao adotar medidas sem consistência que não tranquilizaram os analistas de bancos como Barclays e Citigroup no sentido de que o país conseguirá evitar um calote da sua dívida este ano.

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Maduro elevou o preço da gasolina mais cara para 6 bolívares o litro, mas ela ainda continua a mais barata do mundo, e prometeu alterar a taxa de câmbio oficial de 6,3 para 10 bolívares por dólar. A finalidade das medidas é melhorar as finanças do governo com um corte de subsídios e garantindo uma fatia maior das receitas do petróleo que vêm diminuindo.

“Essas medidas são cosméticas, o aprimoramento de políticas falidas”, disse Siobhan Morden, chefe do setor de estratégia de renda fixa latino-americana na Nomura Holdings.

O BNP Paribas também manifestou descrença. Maduro “está cobrindo o sol com a peneira”, disseram os analistas do banco em informe para seus investidores na quinta-feira.

A desvalorização da taxa de câmbio foi tão pequena que seu impacto fiscal será desprezível e o aumento do preço da gasolina não é suficiente para impedir as finanças do governo de continuarem se deteriorando em razão da queda dos preços do petróleo, afirmaram os analistas. A estatal venezuelana Petroleos de Venezuela S.A. (PDVSA) contabilizou uma receita de apenas US$ 77 milhões no mês passado, uma redução de mais de 90% em relação a janeiro de 2015, informou o presidente Maduro na quarta-feira, quando anunciou para a população o aumento do preço da gasolina, o primeiro em quase 20 anos.

O bolívar mais fraco significa que o governo provavelmente aumentará o custo dos alimentos subsidiados dos quais muitos venezuelanos dependem hoje, ao mesmo tempo em que o preço do combustível sofre um aumento.

Quando a Venezuela elevou o preço da gasolina em 1989 a medida desencadeou uma onda de protestos com a morte de centenas de pessoas durante os distúrbios conhecidos como Caracaço e abriram caminho para a ascensão de Hugo Chávez ao poder. Maduro disse que o aumento da gasolina será benéfico para todos, afirmando que isso ajudará a financiar os pagamentos da previdência social.

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Embora o governo consiga resgatar os títulos com vencimento para 26 de fevereiro, a capacidade de fazer os pagamentos em outubro e novembro “é extremamente limitada”, segundo analistas do Citigroup. E depende quase que inteiramente dos preços do petróleo. O Produto Interno Bruto (PIB) da Venezuela encolheu 5,7% no ano passado, com um aumento de 181% no custo de vida, informou o Banco Central na quinta-feira.

Outras economias, como Iêmen e Serra Leoa, encolheram ainda mais no ano passado, de acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). Nenhum dos dois registrou uma inflação tão acentuada.

“A falta de um pacote consistente de medidas fiscais e cambiais significa que o financiamento do déficit continuará, provocando uma aceleração da inflação”, disse Francisco Rodríguez, economista-chefe do Bank of America Corporation. “Isso afetará a popularidade do governo uma vez que a escassez deve piorar.”

Segundo Rodríguez, a Venezuela tem ativos suficientes que poderia vender para evitar um calote este ano.

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Os títulos da PDVSA a vencer em outubro subiram 3,5%, e os títulos soberanos com vencimento em 2022 registraram aumento de 2,5%. Os títulos venezuelanos provocaram uma perda de 11% para os investidores este ano, o pior desempenho na região.

“O anúncio do presidente contribuirá muito pouco para neutralizar as profundas distorções da economia e a sua constante deterioração”, afirmou Risa Grais-Targow, analista do Eurasia Group.

“Na verdade, a desvalorização deve exacerbar temporariamente a inflação, contribuindo para o crescente descontentamento, e a escassez de produtos deve piorar com os preços mais baixos do petróleo. O que, por outro lado, contribuirá para forçar uma mudança do regime no final deste ano ou no começo do próximo”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO

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*SEBASTIAN BOYD É JORNALISTA