Campanha contra secessão da Escócia chega às urnas com pequena vantagem

Nas pesquisas, escoceses que optam pela manutenção do Reino Unido representam 52% dos votos

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Por ANDREI NETTO e EDIMBURGO
Atualização:
Moradores indecisos devem definir resultado do plebiscito, mas apoadores do "não" são maioria, segundo pesquisas Foto: Ben Stansall/AFP

Após 307 anos de união, 4,2 milhões de eleitores residentes na Escócia poderão ir às urnas hoje em Edimburgo e no interior do país em um plebiscito histórico que definirá o destino da Grã-Bretanha, sexta maior potência econômica do mundo.

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Após dois anos e meio de campanha eleitoral, todos os prognósticos revelados ontem por institutos de pesquisas indicam um empate técnico, mas com ligeira vantagem para o "não" à independência, que teria até 52% das preferências. O "sim" teria até 49%. Em meio à incerteza econômica e política, 500 mil indecisos serão os árbitros da escolha. A média das últimas pesquisas feita ontem mostra diferença de 3,8 pontos porcentuais.

O plebiscito deve ser a maior demonstração democrática da história da Escócia, já que 97% dos eleitores estão inscritos nas seções eleitorais e poderão exercer o direito de votar, facultativo. A expectativa de afluência recorde às urnas se explica pelo acirramento da disputa entre as campanhas "Yes Scotland", independentista, e "Better Together", unionista, nos últimos 20 dias de propaganda.

Ontem, quando motoristas começavam a desfilar pelas ruas com bandeiras azuis e brancas presas a seus veículos, a polícia interveio, pedindo calma aos militantes de ambos os lados por temer confrontos. Forças especiais estão de sobreaviso para garantir a segurança da votação.

Na noite de ontem, em um final de campanha apoteótico, o primeiro-ministro da Escócia, Alex Salmond, líder do Partido Nacional Escocês (SNP), fez um discurso na capital no qual exortou os britânicos a respeitar a decisão das urnas. "A escolha é nossa, é nossa oportunidade, é o nosso momento. Todos buscamos mais igualdade, mas também amizade", disse o separatista, garantindo que em caso de vitória do "sim", Inglaterra, País de Gales e Irlanda do Norte - os remanescentes da Grã-Bretanha - serão os maiores amigos e aliados da Escócia independente. "Se o voto for contra a independência, peço a todos que aceitem o resultado com dignidade."

Do lado unionista, coube ao ex-premiê britânico Gordon Brown, trabalhista histórico, pronunciar o discurso mais importante do dia para a campanha "Better Together": "Não se trata de medo do desconhecido, mas de riscos que conhecemos". Ele descreveu sua visão de uma Escócia independente: "Um campo minado econômico, no qual problemas podem explodir a qualquer momento, um alçapão econômico do qual nunca vamos poder escapar".

Na noite de ontem, uma série de pesquisas de opinião divulgadas pelos institutos ICM, Panelbase e Ipsos-Mori chegaram a conclusões semelhantes sobre a possibilidade de cada lado, indicando que os unionistas têm mais chance de vencer. Das três pesquisas, duas dão vantagem ao "não" - uma indicou 52% a 48% e outra 51% a 49%. As sondagens variaram apenas em relação ao número de indecisos, que oscilou de 5% a 14%, dependendo do instituto.

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Os números indicam empate técnico, pois se situam dentro da margem de erro. A votação é ainda mais imprevisível porque, segundo Mark Diffley, diretor do Ipsos-Mori, a campanha "Yes Scotland" chega ao dia do plebiscito empurrada pela tendência de crescimento verificada nas últimas semanas. "Faltando horas para a abertura das urnas, está claro que o resultado será extremamente apertado", afirmou Diffley.

Os indecisos são o maior fator de instabilidade. Eles são em número suficiente para desequilibrar a votação para qualquer lado. Para o cientista político Daniel Kenealy, diretor adjunto do Departamento de Governança da Universidade de Edimburgo, a indecisão é produto das questões em aberto pela secessão e não respondidas pelas campanhas. "Para muitas questões abertas pelo plebiscito, não há respostas conhecidas. Sobre a relação com a União Europeia e com a Grã-Bretanha ou sobre a situação monetária, por exemplo", enumerou o professor ao Estado. Kenealy, aliás, se dizia indeciso até a manhã de ontem.

O certo, segundo o especialista, é que, ao contrário dos prognósticos iniciais, a decisão da maior parte dos escoceses não será emocional, mas racional, com base na visão de cada um sobre as perspectivas econômicas do país, eventualmente independente. "Não é um debate com base em história ou em orgulho nacionalista do passado. A questão é pragmática e econômica. Por isso, boa parte do eleitorado continua buscando fatos e números para tomar uma posição", explica. As seções eleitorais ficarão abertas das 7 - 3 horas em Brasília - às 23 horas. A estimativa é que os resultados sejam conhecidos amanhã cedo, madrugada no Brasil.

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