Campanha pelo 'não' monitora eleitores há mais de seis meses

Criticado, movimento Better Together vai às ruas e anota chances de cada eleitor aderir ao voto contra a independência

PUBLICIDADE

Por EDIMBURGO
Atualização:
Moradores se manifestam contra a independência da Escócia em Edimburgo Foto: Andy Buchanan/AFP

Criticada pela maioria dos analistas políticos da Grã-Bretanha pelo tom pessimista e até catastrofista sobre a independência da Escócia, a campanha Better Together, que tenta impedir a secessão do país, faz um trabalho de formiga que pode surtir efeitos positivos na reta final do plebiscito.

PUBLICIDADE

Para enfrentar o discurso do distanciamento da classe política e da opinião pública, militantes vão às ruas e, há mais de seis meses, monitoram de perto cada eleitor, anotando as chances de adesão ao voto pelo "não" e até o horário em que pretendem ir às urnas.

Nos últimos dias, o Estado acompanhou ativistas do "sim" e do "não" nas ruas de Edimburgo, um trabalho colossal de convencimento. Esse trabalho é mais visível entre os militantes do Better Together, que já gastou o equivalente a US$ 4,39 milhões na campanha - um recorde histórico na Escócia -, dando prioridade ao contato direto com a população.

"Na Grã-Bretanha, temos a tradição do porta a porta. Mas percebemos que uma das grandes queixas dos eleitores favoráveis à independência era a desconexão com Westminster e os partidos políticos. As pessoas se queixam de que nossos deputados só aparecem na hora da eleição para pedir votos", conta Ian McGill, estrategista da campanha Better Together em sua seção eleitoral. "Por isso, decidimos voltar e mostrar que sim, estamos aqui e nos preocupamos com o que eles têm a dizer."

A estratégia exige uma mobilização de militância sem precedentes. Há seis meses, uma primeira visita foi feita, identificando os eleitores do "sim", os do "não" e os indecisos. Esses escoceses foram catalogados em planilhas que indicam o nome, o endereço, o número de integrantes da família e a preferência de cada um. Se são convictos do "sim", deixam de ser alvo de investidas. Se são do "não" ou indecisos, voltam a receber visitas periódicas para confirmar que a intenção de voto tenda pela rejeição à independência.

Esta semana, cada um desses eleitores vem recebendo novas visitas e voltam a ouvir os argumentos em favor da união. Os que confirmam o voto pelo "não" recebem um panfleto com lembrete para que vão votar - o voto é facultativo - e são questionados sobre o horário em que pretendem ir às urnas.

Esse foi o caso de Gavin Hastie, de 36 anos, partidário do "não". "Minhas razões são puramente econômicas. Será melhor se permanecermos juntos", disse, após receber a visita do médico aposentado Tim Brown, de 60 anos, voluntário do Better Together.

Publicidade

A pergunta sobre o horário em que os eleitores pretendem votar prova o quão persistente a campanha do "não" tem sido. "Se nos dizem que vão às urnas às 9h, às 9h de quinta-feira alguém de nós baterá à sua porta para estimulá-lo a ir votar", explica McGill, que viveu no Brasil durante um ano. / A.N.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.