Candidato francês nega uso eleitoreiro do Fórum Social

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Por Agencia Estado
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O candidato do Partido Verde às eleições presidenciais francesas de abril, Noël Mamre, declarou à Agência Estado, antes de embarcar em Paris para Porto Alegre, estar pronto para assinar, durante o Fórum Social Mundial, um manifesto em favor da supressão imediata das subvenções à agricultura européia, consideradas um dos maiores entraves ao projeto da globalização solidária. "Assino na hora, porque os verdes sempre lutaram contra a política agrícola comum, que consome 50% do orçamento da União Européia com seus subsídios, esses balões de oxigênio para uma agricultura produtivista prejudicial ao meio ambiente, à saúde e responsável, em grande medida, pela fosso econômico e social existente entre o Norte e o Sul", salientou. O candidato verde também diverge dos demais líderes franceses presentes em Porto Alegre na apreciação da denúncia de José Bové, segundo a qual os políticos vieram fazer "a recuperação do Fórum para fins eleitorais". Mamre acha que Bové tem razão e manifesta-lhe "apoio irrestrito", mas ressalva sua posição: "Sou candidato, sim, mas nem eu nem meus correligionários - e a história está aí para comprová-lo - viemos instrumentalizar o movimento social reunido em Porto Alegre para fins politiqueiros ou eleitoreiros. Há anos, os ecologistas lutam por uma globalização solidária." Noël Mamre declarou-se cético quanto à possibilidade imediata de o Fórum Social, aglutinando as forças de esquerdas, e o Fórum Econômico Mundial de Davos, de vocação liberal e que se realiza nesta semana em Nova York, estabelecerem diálogo em torno de um projeto comum de desenvolvimento, apto a diminuir as desigualdades entre o Norte e o Sul. E explicou: "O diálogo não é impossível, mas muito difícil agora, porque o Fórum Econômico não chega a defender o liberalismo selvagem, mas encampa sem maiores indagações o liberalismo o mais desabrido. As passarelas para um compromisso entre Porto Alegre e Davos só se tornarão viáveis quando a resistência da cidadania mundial colocar o primeiro em situação bastante firme e segura na correlação de forças." Ele duvida também que, sob os efeitos do 11 de setembro, a ordem econômica vigente possa mudar proximamente de perfil: "Depois dos atentados abomináveis que o mundo inteiro condenou, pensávamos que Washington evoluiria de suas posições unilaterais para um multilateralismo à altura das aspirações do Sul por uma democratização das relações internacionais. Mas o que se viu em Doha, na reunião da OMC (Organização Mundial do Comércio), foi a reconstituição do Clube dos Ricos contra os países pobres." Mamre não se deixa, contudo, vencer pelo desânimo: "Há nas novas gerações européias e nos demais continentes, poderoso elã de solidariedade em torno da causa do desenvolvimento. O pessoal que vai a Porto Alegre de diferentes horizontes não admite que as grandes democracias defendam o princípio da livre circulação das idéias e dos homens e, no domíno econômico, mantenham suas fronteiras fechadas ao Sul." De seu programa de candidato às eleições presidenciais francesas, um dos principais pontos se refere "à ética e às normas atualizadas do direito que devem ser introduzidas no funcionamento do mercado internacional".

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