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Candidatos buscam voto dos 75% de argentinos preocupados com segurança

Percepção de insegurança faz com que a repressão ao crime se torne um dos principais temas da campanha presidencial

Por Rodrigo Cavalheiro e CORRESPONDENTE
Atualização:

BUENOS AIRES - A Argentina é um dos países com menor índice de criminalidade da América Latina, mas como os argentinos não acreditam nisso o reflexo na campanha eleitoral é direto. Três em cada quatro eleitores sentem-se inseguros, razão pela qual ações contra o narcotráfico são tão ou mais mencionadas do que soluções para a economia pelos presidenciáveis, dias antes da disputa de domingo. Entre 2011 e 2015, a sensação de insegurança no país subiu de 57% para 75%, segundo levantamento da Universidade Católica Argentina (UCA). No mesmo período, a proporção de entrevistados que disse ter passado por algum caso de violência subiu de 29% para 31%. Há um ano, o representante comercial Martín Rodríguez passou do primeiro para o segundo grupo. Ele dirigia em Lanús, município da Grande Buenos Aires - região que tem 25% dos eleitores do país -, quando teve o carro roubado em uma área de classe média baixa. "Para a população normal, a segurança é pouca. Agentes de trânsito e polícia não trabalham e subornos são comuns. Alguém chama e não aparecem. É muito perigoso andar de noite aqui. Saí de Lanús por isso", reclamava Rodríguez no início do mês, ao voltar à antiga vizinhança para comprar produtos de limpeza na loja de um conhecido, que gradeou a porta de entrada, todo o balcão e disse não ter sido assaltado "porque conhece o pessoal". Eleitor indeciso de 32 anos, Rodríguez tem o voto mais cobiçado em uma eleição em que a necessidade de um segundo turno deve ser decidida por margem pequena. O governista Daniel Scioli precisa chegar aos 40% e abrir 10 pontos sobre o segundo colocado para encerrar a disputa. A maioria das pesquisas aponta que ele está próximo disso, mas não consegue o voto de eleitores independentes como Rodríguez. Governador da Província de Buenos Aires, que têm 37% do eleitorado - incluindo a Região Metropolitana -, Scioli tem como grande projeto de segurança ampliar o plano de polícias municipais, que ele diz ser eficaz, mas parte dos estudiosos considera perigoso. "Deixar policiais sob as ordens de alguns prefeitos que exercem o poder há décadas pode levar a mais problemas", avalia o sociólogo Carlos de Angelis, da Universidade de Buenos Aires (UBA). Segundo colocado nas pesquisas, o conservador Mauricio Macri propõe a criação de uma agência especial contra o crime organizado e o projeto "Paco Zero", com o qual pretende tirar das ruas a droga similar ao crack em cinco anos. Quando precisa resumir seu projeto, Macri fala em "recuperar a economia, unir o país e combater o narcotráfico". O último tema apareceu com destaque em seu discurso só depois que o ex-kirchnerista Sergio Massa começou a subir nas pesquisas com propostas mais conservadoras contra a violência. Em 2013, Massa rompeu com o governo e liderou o grupo de parlamentares que impediu a aprovação de uma nova Constituição que permitiria que Cristina Kirchner tentasse o terceiro mandado. Ele era favorito até o ano passado. Segundo a última pesquisa do instituto M&F, Scioli tem 38,3%, Macri obtém 29,1% e Massa, 20%, Depois de ter sua proposta de aliança recusada por Macri, Massa evitou a polarização entre os rivais prometendo prisão perpétua para narcotraficantes, redução da maioridade penal e uso do Exército não só para proteger fronteiras, mas também nas favelas dominadas por traficantes. Nenhum dos três convence Rodríguez, que apesar de ter seguro perdeu boa parte do valor do carro por outro problema crônico argentino, a inflação - de 15%, segundo o governo, e 25%, conforme consultorias. "Paguei 60 mil pesos (R$ 24 mil) pelo carro, o seguro me deu 70 mil pesos (R$ 28 mil) e quando fui comprar estava 95 mil pesos (R$ 39 mil). Comprei um pior, que quase não uso", lamentou. "Não sei qual dos candidatos diz a verdade. Na Argentina, todos prometem tudo. Mas, quando assumem, não são mais vistos."

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