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Catalães protestam contra repressão de Madri 

Violência policial durante plebiscito provoca greve na Catalunha e amplia pressão por independência; ato reúne 700 mil, segundo polícia local

Por Andrei Netto , Correspondente e Paris
Atualização:

Milhares de partidários da independência da Catalunha aderiram nesta terça-feira, 3, à greve geral convocada por sindicatos em protesto contra a violência policial de domingo, dia do plebiscito reprimido pela Guarda Civil e pela Polícia Nacional da Espanha. A forte mobilização ampliou ainda mais a pressão sobre o premiê, Mariano Rajoy, e levou o rei Felipe VI a quebrar o silêncio e realizar sua primeira declaração pública sobre o tema.

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O porto de Barcelona, terceiro da Espanha, e o principal mercado atacadista de alimentos da cidade ficaram quase paralisados com a greve hoje. Foto: Jaume Sellart/EFE

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Segundo a polícia municipal de Barcelona, onde o protesto foi realizado, 700 mil pessoas se concentraram na Praça da Catalunha e nas suas vias de acesso. Segundo a ministra do Trabalho da Catalunha, Dolors Bassa, que apoiou o movimento, foi a mais importante greve da história recente da região, envolvendo 1 milhão de trabalhadores parados, superando a mobilização de 1988.

+ Vídeo: Entenda o movimento de independência da Catalunha

A violência de domingo deixou mais de 400 feridos, segundo Madri, e quase 900, segundo os catalães. As cenas chocantes que circularam pela internet após o plebiscito ajudaram a sedimentar as manifestações de ontem. Grupos protestaram em frente à sede do Partido Popular (PP), de Rajoy, e à prefeitura. 

A mobilização serviu como uma nova demonstração de força depois do plebiscito, que deu a vitória à independência com 90% dos votos – ainda que com baixa taxa de participação de 42%. A concentração de hoje teve apoio do presidente da região, Carles Puigdemont, que insiste em abrir um canal de comunicação com o governo de Rajoy, se possível com a intermediação da União Europeia. 

O objetivo do governo regional seria obter pelo menos uma autorização para realizar um plebiscito de autodeterminação pactuado, ou seja, legal e com aplicação compulsória, qualquer que seja o resultado – inclusive a vitória dos separatistas. Puigdemont vem sendo pressionado por grupos separatistas radicais para proclamar a independência unilateral da Catalunha ainda nesta semana – que não viria acompanhada do reconhecimento da comunidade internacional. Na terça-feira, Jordi Cuixart, presidente do movimento Omnium, que patrocina grande parte da campanha nacionalista pela independência, pediu urgência na declaração. 

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Um dos obstáculos à intenção, entretanto, é o fato de o plebiscito de domingo ter sido realizado “fora dos padrões internacionais”, segundo conclusão de uma das missões de observadores externos que esteve em Barcelona e no interior durante a votação. “A missão deve concluir que o plebiscito, tal como foi realizado, não pôde cumprir os padrões internacionais”, afirmou hoje a avaliação do High Center for Strategic Studies. 

Segundo a entidade, o uso excessivo da força acabou prejudicando o controle sobre o processo eleitoral, abrindo espaço para denúncias de múltiplos votos por um mesmo eleitor. Em razão da pressão policial, as autoridades da Catalunha de fato cancelaram a necessidade de título eleitoral, de assinaturas nas listas e de seções de voto fixas, o que prejudicou a lisura do processo.

Fala do rei. Diante da pressão crescente sobre Madri, o rei da Espanha, Filipe VI, fez hoje seu primeiro pronunciamento em rede de TV para advertir que o país atravessa “um grave momento”. O monarca criticou “determinadas autoridades da Catalunha, que de uma maneira reiterada, consciente e deliberada, têm descumprido a Constituição e seu estatuto de autonomia, que é a lei que reconhece, protege e ampara suas instituições históricas e seu autogoverno”. 

Filipe VI também acusou Puigdemont – sem citar seu nome – de ter “violado de forma sistemática as normas aprovadas legitimamente, demonstrando deslealdade inadmissível aos poderes do Estado”. 

O rei espanhol culpou os líderes do movimento independentista, que demonstraram uma “conduta irresponsável” e podem “colocar em risco a estabilidade econômica e social da Catalunha e de toda a Espanha”.

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