Catalunha vira fator decisivo para governo da Espanha

Enquanto Rajoy luta para manter poder, PSOE impõe ‘integridade territorial’ em negociação com esquerda radical

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Por Andrei Netto - Correspondente em Paris
Atualização:

O futuro da Catalunha e de seu movimento independentista tornou-se um fator decisivo para a definição de quem governará a Espanha. Com o primeiro-ministro Mariano Rajoy, do Partido Popular (PP, direita), em dificuldades para formar uma coalizão, as atenções estão voltadas a uma possível aliança entre dois partidos de esquerda, o socialista (PSOE) e o Podemos, que divergem quanto à realização de um plebiscito sobre a independência da região. A Espanha chega hoje ao 10.º dia de impasse político após as eleições que resultaram no fim do bipartidarismo e na divisão do Parlamento entre quatro grandes partidos. Com isso, ninguém sabe quem governará o país. Vencedor com 28,7% dos votos, Rajoy não consegue reunir o apoio necessário no Legislativo nem mesmo para aprovar a formação de um governo minoritário. Ontem, em encontro com o líder do Podemos, Pablo Iglesias, Rajoy recebeu mais um “não” sobre um eventual apoio. Com o passar dos dias, reforça-se a hipótese de que Pedro Sánchez, secretário-geral do PSOE, segundo colocado na eleição, com 22,02% dos votos, seja incumbido de buscar uma coalizão. Ontem, Sánchez voltou a evocar essa possibilidade. “Se Rajoy fracassar em sua intenção de formar um governo, o PSOE, como alternativa eleita pelos espanhóis, assumirá sua legítima responsabilidade”, advertiu, propondo desde já um plano de oito pontos para uma aliança suprapartidária, que incluiria reformas constitucionais e a consolidação do Estado de bem-estar social.

Catalunha é uma das regiões mais importantes da Espanha Foto: Albert Gea/Reuters

Entre os oito pontos, Sánchez mencionou o princípio da “integridade territorial”, uma alusão direta ao movimento independentista na Catalunha e no País Basco. “Não dialogaremos sobre questões prévias à política, como a integridade territorial da Espanha”, argumentou, em uma referência ao Podemos, partido que prega a realização do plebiscito. “A crise de convivência na Catalunha só se resolverá com um novo acordo, com a reforma constitucional federal que propomos.” A Catalunha é o principal ponto de divergência entre PSOE e Podemos. O partido radical defende o princípio da autodeterminação, que daria aos catalães o direito de escolher se querem fazer parte da Espanha ou se tornarem independentes. Ontem, o Comitê Federal do PSOE enviou um recado direto a Pablo Iglesias: ou o Podemos abre mão de sua bandeira, ou não haverá acordo para coalizão. Iglesias, por sua vez, manteve posição de desafio ao PSOE. Disse estar decepcionado com a conversa que teve com Sánchez na semana passada e acusou os socialistas de estarem a ponto de apoiar Rajoy na formação de um governo. “Estamos abertos a qualquer alternativa que permita que o PP não governe.”

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