CENÁRIO: A volta da campanha sangrenta em solo indonésio

Nos últimos dois anos, centenas de indonésios viajaram para a Síria a fim de juntar-se ao Estado Islâmico (EI). Mais de 50 foram mortos, segundo o governo indonésio

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Por Thomas Fuller NYT
Atualização:

Nos últimos dois anos, centenas de indonésios viajaram para a Síria a fim de juntar-se ao Estado Islâmico (EI). Mais de 50 foram mortos, segundo o governo indonésio.Nos últimos meses, no entanto, jihadistas indonésios parecem buscar cada vez mais alvos no próprio país. Analistas de segurança dizem que a violência de ontem na capital, Jacarta, pode indicar a volta de uma intermitente, mas sangrenta campanha – frequentemente contra símbolos ocidentais – que vem assolando a Indonésia há 15 anos.

“Nos últimos seis meses, houve um crescimento da violência na Indonésia”, diz Sidney Jones, uma especialista em terrorismo no país e diretora do Instituto de Análises Políticas de Conflitos, em Jacarta. “Nenhum dos ataques foi em reação a políticas internas. O objetivo dos terroristas é provar que grupos jihadistas estão vivos, fortes e dispostos a aplicar a agenda do EI.” 

Polícia faz vistoria em complexo comercial após ataques em Jacarta Foto: AFP PHOTO / ADEK BERRY

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Em dois meses, a polícia indonésia prendeu uma dúzia de militantes suspeitos – três deles, acusados de envolvimento numa explosão na véspera do ano novo em Bandung, cidade da Ilha de Java. 

Com mais de 250 milhões de habitantes, a Indonésia é o país de maior população muçulmana do mundo, mas também tem uma tradição de tolerância com outras religiões. Apenas uma pequena fração da população é radical, segundo analistas. 

Recentemente, no entanto, a Indonésia tem vivido uma crescente tensão entre grupos moderados e de linha dura. Alguns desses grupos são pacíficos. Outros, de militantes empenhados em promover uma interpretação mais radical do Islã. 

Os islamistas violentos da Indonésia integram pelo menos três grupos pró-EI: Ansharut Daulah Islamiya, uma espécie de grupo guarda-chuva que se proclama a principal estrutura do Estado Islâmico no país; o Mujahedin da Indonésia Oriental, com base em Poso, na Ilha de Sulawesi, cujo comandante, Santoso, lidera uma força de 30 homens armados, vários da etnia uigur; e um grupo com base no centro de Java que, acredita-se, receba instruções diretamente de um combatente indonésio do EI na Síria. 

A Indonésia abriga também o reconstruído Jemaah Islamiyah, grupo acusado de vários ataques mortíferos no país. O Jemaah é contrário ao EI e apoia um grupo afiliado da Al-Qaeda na Síria, a Frente Al-Nusra. No momento, não parece interessado em violência interna. 

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Ataques contra alvos ocidentais, igrejas e grupos islâmicos mais moderados têm preocupado as agências indonésias de segurança nos últimos 15 anos. O mais grave foi o atentado à bomba na ilha resort de Bali, no qual morreram mais de 200 pessoas – na maioria, estrangeiros. Áreas turísticas de Bali sofreram ataques também em 2005, com 25 mortes. 

Em 2003, um atentado no hotel JW Marriott, em Jacarta, deixou 12 mortos. O hotel foi atacado novamente em 2009, quase simultaneamente ao Ritz-Carlton de Jacarta, onde oito morreram.

Navhaata Nurniyah, outra analista do Instituto de Análises Políticas de Conflitos, calcula que 2 mil pessoas se manifestaram na Indonésia em apoio ao EI, ou juraram fidelidade ao grupo.

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Alguns eram apenas “guerrilheiros de internet, não combatentes experientes”, escreveu ela na revista online Inside Indonesia. Não está claro qual foi o alvo preciso do atentado de ontem num dos pontos mais movimentados de Jacarta, onde estão, entre outros edifícios, escritórios regionais das Nações Unidas, grandes centros comerciais e hotéis cinco estrelas. Um dos locais atacados foi uma loja da rede de cafeterias Starbucks. 

“Se a Starbucks foi deliberadamente atacada, e não um posto policial próximo, terá sido o primeiro atentado (na Indonésia) contra um ícone ocidental desde as explosões nos hotéis em 2009”, disse Sidney Jones. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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