
Cláudia Trevisan, Correspondente / Washington, O Estado de S.Paulo
13 Abril 2017 | 05h00
Atualizado 13 Abril 2017 | 05h00
Os 12 meses da entrada de Rússia na guerra civil Síria completaram-se em setembro, mas até hoje a agência estatal de notícias Tass dá destaque na capa de seu portal para o balanço de um ano da operação, centrada em ataques aéreos ao lado das forças de Bashar Assad. A ênfase dada por Moscou à intervenção militar é um dos símbolos das dificuldades dos EUA em convencer Vladmir Putin a abandonar seu principal aliado no Oriente Médio.
Os laços entre Moscou e Damasco remontam ao período da Guerra Fria, quando a Síria permitiu a instalação de uma base russa em sua costa, que até hoje é o único ponto de manutenção e suprimento da Marinha russa no Mediterrâneo. Com exceção de uma ação em Kosovo em 1999, a intervenção na Síria é a primeira das forças do Kremlin fora da área da ex-União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) desde a invasão soviética do Afeganistão (1979-1989).
Mas Hanna Thoburn, especialista em Leste Europeu do Hudson Institute, diz que a motivação de Putin em apoiar Assad vai além de laços históricos. “A Rússia é obcecada com a noção de soberania nacional. Eles não gostam da ideia de que a comunidade internacional pode vir a intervir em assuntos russos.”
Segundo ela, sempre que recebe um novo secretário de Estado americano em Moscou, o ministro das Relações Exteriores Serguei Lavrov faz um retrospecto das interferências dos EUA em outros países que não terminaram bem, o que ocorreu nesta quarta-feira na visita de Rex Tillerson.
Outra motivação de Putin, na opinião de Thoburn, é a expansão da esfera de influência de Moscou na política externa propiciada por sua atuação na Síria. “Eles querem ser incluídos, eles querem estar de volta a um lugar em que o Império Russo tinha importância.”
Por fim, há o interesse de reforçar a indústria bélica russa, que tem na Síria uma espécie de show room em tempo real. “O poder do armamento russo impressionou potenciais clientes”, disse o texto da Tass, segundo o qual muitos equipamentos foram usados pela primeira vez na Síria. No ano passado, as exportações de armas da Rússia somaram US$ 56 bilhões, o maior patamar desde 1992.
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