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Cenário: Mudar embaixada foi decisão política, não diplomática

Trump agiu contra a opinião de seus secretários e admitiu a natureza provocadora de sua decisão

Por Mark Landler
Atualização:

Dez dias antes de Donald Trump assumir a presidência, Sheldon Adelson foi à Trump Tower para uma reunião. Mais tarde, ele informou ao amigo Morton Klein que Trump lhe dissera que a mudança da Embaixada dos EUA de Tel-Aviv para Jerusalém era uma prioridade. “Adelson ficou muito entusiasmado, como eu também fiquei”, disse Klein, presidente da Organização Sionista dos EUA. 

Um idoso palestino discute com policial israelense perto do Portão de Damasco, na Cidade Velha de Jerusalém; o ancião, em diversos momentos chegou a colocar as mãos sobre a arma do oficial Foto: REUTERS/Ammar Awad

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Para Trump, o status de Jerusalém sempre foi menos um dilema diplomático que um imperativo político. Entre frustrar evangélicos e alarmar aliados e líderes árabes, enquanto punha em risco sua iniciativa de paz, o presidente ficou com os adeptos mais fiéis. Ao tomar sua decisão, ele se expôs à condenação de líderes estrangeiros para os quais a mudança foi precipitada e está condenada ao fracasso. Ele agiu também contra a opinião dos secretários de Estado, Rex Tillerson, e de Defesa, Jim Mattis, que advertiram para reações antiamericanas, e de diplomatas e militares no exterior.

+ Israelenses e palestinos opinam sobre a mudança da Embaixada para Jerusalém

Trump admitiu a natureza provocadora de sua decisão, mas parecia satisfeito por desempenhar um papel familiar: o de rebelde político que desafia a ortodoxia em nome dos que o elegeram. “As pessoas começam a perceber que o presidente não gosta de tons pastéis”, disse Christopher Ruddy, executivo de mídia e amigo de Trump. 

Uma lei aprovada pelo Congresso, em 1995, que nunca chegou a ser implementada, prevê a mudança da embaixada para Jerusalém. Ela dá ao presidente o poder de adiar a decisão a cada seis meses, se houver razões de segurança nacional. Em junho, Trump assinou o adiamento. Seu genro, Jared Kushner, que coordena a iniciativa de paz do presidente, disse que mudar a embaixada poderia minar o esforço diplomático. 

Adelson e outros apoiadores de Israel ficaram frustrados. Durante um jantar na Casa Branca, em outubro, Adelson queixou-se de Stephen Bannon, então o principal estrategista do presidente, que foi contra a mudança. Adelson é um grande financiador de grupos pró-Israel. No início de sua campanha, Trump cortejou o bilionário em busca de apoio financeiro.

Em março de 2016, Trump tentou reforçar suas credenciais de amigo de Israel dizendo ao Comitê de Assuntos Públicos Americano-israelenses, o mais poderoso lobby pró-Israel dos EUA, que mudaria “a embaixada americana para Jerusalém”. Adelson se convenceu e doou US$ 20 milhões para a campanha e US$ 1,5 milhão para a Convenção Republicana. 

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Desde a posse, Adelson fala regularmente com ele, por telefone ou visitando a Casa Branca, e usou esse acesso para pressionar pela mudança da embaixada. Mas ele não é o único defensor influente da ideia. Grupos evangélicos também pressionaram Trump, deixando claro que a mudança era prioritária. “Nas reuniões que participei, foi dito claramente que fiéis evangélicos defendiam um relacionamento especial com Israel”, disse Tony Perkins, presidente do Family Research Council. 

Agora, expirado o novo prazo de seis meses, Trump estava determinado. No dia 27, ele foi a uma reunião de chefes do Conselho de Segurança Nacional, que discutiam como resolver a questão da embaixada. Sua mensagem, segundo participantes, foi a de que esperava soluções mais criativas. 

Sua decisão teve apoio de Kushner e do enviado especial a Israel, Jason Greenblatt. Eles concluíram que dar uma sacudida no status quo mais ajudaria do que prejudicaria os esforços de paz. Embora admitindo que a decisão possa causar uma onda inicial de descontentamento, eles acreditam que o processo de paz seja suficientemente flexível para suportar o choque. 

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Em seu discurso, Trump não falou dos reflexos de sua decisão. Ele preferiu considerar a medida uma ruptura benigna com décadas de políticas fracassadas, as quais, segundo ele, “não nos deixaram mais perto de um acordo duradouro entre Israel e palestinos”. “Seria tolice supor que repetir a mesma fórmula vá produzir um resultado diferente”, disse.

Para Trump, os benefícios políticos da decisão superam claramente os custos. O Comitê Judaico Republicano comprou uma página inteira no New York Times para publicar uma foto de Trump rezando no Muro das Lamentações com a seguinte legenda: “Presidente Trump, o senhor prometeu e cumpriu”. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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