Dez dias antes de Donald Trump assumir a presidência, Sheldon Adelson foi à Trump Tower para uma reunião. Mais tarde, ele informou ao amigo Morton Klein que Trump lhe dissera que a mudança da Embaixada dos EUA de Tel-Aviv para Jerusalém era uma prioridade. “Adelson ficou muito entusiasmado, como eu também fiquei”, disse Klein, presidente da Organização Sionista dos EUA.
Para Trump, o status de Jerusalém sempre foi menos um dilema diplomático que um imperativo político. Entre frustrar evangélicos e alarmar aliados e líderes árabes, enquanto punha em risco sua iniciativa de paz, o presidente ficou com os adeptos mais fiéis. Ao tomar sua decisão, ele se expôs à condenação de líderes estrangeiros para os quais a mudança foi precipitada e está condenada ao fracasso. Ele agiu também contra a opinião dos secretários de Estado, Rex Tillerson, e de Defesa, Jim Mattis, que advertiram para reações antiamericanas, e de diplomatas e militares no exterior.
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Trump admitiu a natureza provocadora de sua decisão, mas parecia satisfeito por desempenhar um papel familiar: o de rebelde político que desafia a ortodoxia em nome dos que o elegeram. “As pessoas começam a perceber que o presidente não gosta de tons pastéis”, disse Christopher Ruddy, executivo de mídia e amigo de Trump.
Uma lei aprovada pelo Congresso, em 1995, que nunca chegou a ser implementada, prevê a mudança da embaixada para Jerusalém. Ela dá ao presidente o poder de adiar a decisão a cada seis meses, se houver razões de segurança nacional. Em junho, Trump assinou o adiamento. Seu genro, Jared Kushner, que coordena a iniciativa de paz do presidente, disse que mudar a embaixada poderia minar o esforço diplomático.
Adelson e outros apoiadores de Israel ficaram frustrados. Durante um jantar na Casa Branca, em outubro, Adelson queixou-se de Stephen Bannon, então o principal estrategista do presidente, que foi contra a mudança. Adelson é um grande financiador de grupos pró-Israel. No início de sua campanha, Trump cortejou o bilionário em busca de apoio financeiro.
Em março de 2016, Trump tentou reforçar suas credenciais de amigo de Israel dizendo ao Comitê de Assuntos Públicos Americano-israelenses, o mais poderoso lobby pró-Israel dos EUA, que mudaria “a embaixada americana para Jerusalém”. Adelson se convenceu e doou US$ 20 milhões para a campanha e US$ 1,5 milhão para a Convenção Republicana.
Desde a posse, Adelson fala regularmente com ele, por telefone ou visitando a Casa Branca, e usou esse acesso para pressionar pela mudança da embaixada. Mas ele não é o único defensor influente da ideia. Grupos evangélicos também pressionaram Trump, deixando claro que a mudança era prioritária. “Nas reuniões que participei, foi dito claramente que fiéis evangélicos defendiam um relacionamento especial com Israel”, disse Tony Perkins, presidente do Family Research Council.
Agora, expirado o novo prazo de seis meses, Trump estava determinado. No dia 27, ele foi a uma reunião de chefes do Conselho de Segurança Nacional, que discutiam como resolver a questão da embaixada. Sua mensagem, segundo participantes, foi a de que esperava soluções mais criativas.
Sua decisão teve apoio de Kushner e do enviado especial a Israel, Jason Greenblatt. Eles concluíram que dar uma sacudida no status quo mais ajudaria do que prejudicaria os esforços de paz. Embora admitindo que a decisão possa causar uma onda inicial de descontentamento, eles acreditam que o processo de paz seja suficientemente flexível para suportar o choque.
Em seu discurso, Trump não falou dos reflexos de sua decisão. Ele preferiu considerar a medida uma ruptura benigna com décadas de políticas fracassadas, as quais, segundo ele, “não nos deixaram mais perto de um acordo duradouro entre Israel e palestinos”. “Seria tolice supor que repetir a mesma fórmula vá produzir um resultado diferente”, disse.
Para Trump, os benefícios políticos da decisão superam claramente os custos. O Comitê Judaico Republicano comprou uma página inteira no New York Times para publicar uma foto de Trump rezando no Muro das Lamentações com a seguinte legenda: “Presidente Trump, o senhor prometeu e cumpriu”. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ