O acordo energético de Itaipu negociado pelo presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, com o Brasil foi interpretado pela oposição como uma entrega de soberania realizada de forma consciente pelo governo, que levou a uma falta de confiança da população em seu presidente. Nessas negociações, os técnicos da Ande (estatal paraguaia), que se opunham a ele, foram substituídos por representantes da chancelaria, liderados pelo embaixador paraguaio em Brasília, Hugo Saguier, que renunciou na segunda-feira.
O outro agravante foi a reunião em que tudo foi decidido ter sido conhecida meses depois, revelada pelo presidente da Ande, Pedro Ferreira, após ele ter sido demitido na semana passada. A oposição recorreu a essa “movimentação secreta” e a esse “entreguismo” da chancelaria para encurralar o governo com interpelações parlamentares, manifestações de rua e a ameaça mais temida de um presidente paraguaio: um julgamento político. O próprio presidente não foi muito sábio ao afirmar em um evento público que o Paraguai vinha se comportando como um país “malandro”, por estar comprando energia excedente acima do que previa o contrato firmado com o Brasil.
A declaração foi um gatilho para uma sociedade que já vinha denunciando os altos salários que recebem os funcionários paraguaios de Itaipu, o destino mais cobiçado pelos políticos alinhados ao governo da vez. Além disso, o presidente é acusado de ter forjado um governo de cotas em resposta aos favores políticos adquiridos em sua campanha à presidência, que assumiu em 15 de agosto.
A imagem se segue à outra já instalada no país: a de que o governo não está preparado para enfrentar as negociações decisivas de 2023 sobre o Anexo C do Tratado de Itaipu, relativo ao valor da energia que o Paraguai vende a preço de custo ao Brasil. Os mais otimistas asseguram que a crise é uma oportunidade para que Abdo Benítez endireite o curso até as negociações, com a nomeação de técnicos de todos os setores políticos.
*É JORNALISTA