CENÁRIO: Uma retórica para moldar o perfil do sucessor

Pela última vez, Barack Obama subiu ao pódio do Congresso, observando um antigo ritual com um novo propósito: moldar a história

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Por Mark Z. Barabak - Los Angeles Times
Atualização:

Pela última vez, Barack Obama subiu ao pódio do Congresso, observando um antigo ritual com um novo propósito: moldar a história. O discurso sobre o Estado da União, na terça-feira, não foi uma viagem nostálgica, embora o presidente e muitos dos presentes estivessem conscientes do momento propício, quase oito anos depois de uma vitória em Iowa lançar Obama numa improvável caminhada até a Casa Branca. 

Foi uma oportunidade para reflexão e um pouco de autocongratulação, principalmente por ele ter ajudado a nação a recuperar-se da pior crise econômica em mais de meio século. Obama teve o cuidado de dar crédito aos americanos. Foi também uma chance de abordar temas como controle de armas, desigualdade de renda e reforma da imigração, assuntos ainda não “fechados” em sua presidência.

Obama discursa em Washington, observado pelo vice-presidente Joe Biden e o presidente da Câmara Paul Ryan Foto: AFP

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Mas, acima de tudo, o discurso de quase uma hora foi um esforço do presidente para dizer como espera que seja seu substituto no Salão Oval. A próxima eleição poderá consolidar conquistas como o programa de saúde, o acordo nuclear com o Irã e avanços na contenção das mudanças climáticas – ou derrubá-las de um só golpe. 

O presidente não tem votos no Congresso para blindar essas conquistas, muito menos para aprovar outras medidas duramente negociadas de sua agenda presidencial. Seus índices apenas medianos de aprovação não ajudam com os críticos, ou mesmo com aliados impacientes. Mas Obama ainda concentra as atenções quando fala. No maior dos palcos da política americana, o agressivamente competitivo presidente parecia quase arrogante ao efetivamente dar o pontapé inicial em sua campanha para 2016.

“Essa história de declínio econômico dos EUA é conversa de político. Assim como quando se ouve que nossos inimigos estão ficando mais fortes e os EUA mais fracos”, afirmou, acenando com o dedo. “Vou dizer uma coisa: os EUA são a nação mais poderosa da Terra. Ponto. Nenhuma outra chega nem perto.”

Obama, claro, nunca mais vai precisar sujeitar seu nome às urnas, ou ter suas políticas julgadas num referendo público. Mas isso não significa que esteja imune ao julgamento dos eleitores, ou que suas deliberações não venham a ser avaliadas. 

O cálculo é simples, como explicou David Axelrod, por muito tempo conselheiro de Obama: “Quanto mais força ele puser na eleição, quanto mais fortes forem seus números, maiores as chances de os democratas manterem a Casa Branca”. 

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Na que talvez seja sua última, melhor chance, Obama tentará controlar a dura disputa que vê entre republicanos e seus amigos democratas. Ele admite as ansiedades sobre essa que desponta como uma raivosa e tumultuada campanha eleitoral. 

O ambiente mudou, disse ele, em parte graças à tecnologia e a uma economia mundial cada vez mais implacável, que fragmentou o contrato social entre trabalhadores e empregadores. As pessoas estão se sentindo tolhidas, avaliou, “mesmo quando têm emprego, mesmo quando a economia está crescendo”. / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ

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