Brasil não está entre as prioridades de Trump, mas isso pode ser uma boa notícia
colunista convidado
Por Lourival Sant'Anna
Atualização:
O governo brasileiro vai tentar tirar proveito do espírito pragmático e negociador de Donald Trump, e de sua rejeição ao México e à Parceria Transpacífico (TPP, na sigla em inglês), para estreitar as relações econômicas com os EUA e com vizinhos sul-americanos do lado do Pacífico. Diferentemente do México e da China, o Brasil tem déficit comercial perante os EUA, o que provavelmente o protegerá da animosidade do novo presidente, que parece pessoalmente ofendido por países que exportam mais do que importam, ainda mais quando o fazem por meio de empresas originalmente americanas, que se deslocaram para eles atraídas por mão de obra barata. Não é o caso do Brasil.
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Trump prometeu torpedear a TPP, que incluía EUA, Japão, Coreia do Sul, outros parceiros asiáticos – excluída a China –, México, Chile e Peru, num total de 12 países. A Colômbia tinha intenção de aderir também. Com o fim da TPP, o Brasil, banhado exclusivamente pelo Atlântico, considera que se abre um espaço para uma parceria com a Aliança do Pacífico, composta por México, Chile, Colômbia e Peru.
Integrantes do governo brasileiro não comemoram e sentem uma certa compaixão pela situação delicada vivida pelo México, que foi “escolhido para Cristo” por Trump, como se fosse o causador de todos os males da economia americana, juntamente com a China. Mas avaliam que o enfraquecimento do México e as perdas que já está sofrendo de investimentos – a Ford cancelou a construção de um fábrica de US$ 1,6 bilhão no país após ameaças de Trump – e provavelmente sofrerá com a renegociação do tratado de livre-comércio com os EUA podem trazer benefícios para o Brasil.
A ideia é que tanto o México quanto os outros países do Pacífico poderão ter mais interesse de se aproximar comercialmente do Mercosul. Isso por um lado. De outra parte, os EUA também poderiam vislumbrar mais oportunidades no Brasil, em contraste com o tratamento prioritário conferido ao México nessas duas décadas e meia de vigor do Acordo de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta).
É aí que entra em campo a tática de “mostrar serviço” à equipe de Trump, com a aceleração das negociações das parcerias mais viáveis. De um total de 50 acordos cujas negociações se arrastavam sem grande objetividade, o chanceler José Serra e o embaixador em Washington, Sérgio Amaral, selecionaram três – que estavam mais avançados e tinham chance de chegar a resultados rápidos – e investiram neles ainda com os funcionários do governo de Barack Obama, para estarem próximos da conclusão após a posse de Trump.
Dois deles estão relacionados à facilitação do comércio, com a desburocratização dos trâmites e a convergência de normas técnicas sobre produtos. Tarifas alfandegárias e cotas de importações, instrumentos clássicos do protecionismo, não são os únicos empecilhos. Como essas coisas são mais difíceis de negociar, porque envolvem interesses de setores produtivos de ambos os países, Brasil e EUA atacaram nos últimos meses as diferenças de normas técnicas.
Um programa-piloto foi desenvolvido no setor de cerâmica e já teve “forte impacto na expansão do comércio”, segundo o embaixador. Agora, será feito o mesmo com os têxteis. Ele acredita que regras fitossanitárias de produtos alimentícios também poderão ser harmonizadas.
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Veja fotos da posse de Donald Trump e de protestos nos EUA
1 / 47Veja fotos da posse de Donald Trump e de protestos nos EUA
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A poucos quilômetros do Capitólio, onde Donald Trump será empossado como presidente dos Estados Unidos, nesta sexta-feira (20), americanos protestam. ... Foto: AFP PHOTO / ZACH GIBSONMais
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O carro do presidente chega escoltado ao Capitólio. Foto: AP Photo/Cliff Owen
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Em Washington, cartaz pede a saída de Trump. Foto: AFP PHOTO / ZACH GIBSON
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Acompanhando o ex-presidente, seu marido Bill Clinton, Hilarry foi à posse do seu opositor nas eleições. Em sua página no Twitter, mais cedo, ela diss... Foto: Mais
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Uma mulher carrega um cartaz com palavras de Martin Luther King Jr., que diz: "Ódio não acaba com ódio, apenas amor". Foto: AFP PHOTO / Jewel SAMAD
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O presidente Donald Trump e sua esposa, Melania, na saída da chamada igreja dos presidentes, aSt. John's Episcopal Church. Foto: Micholas Kamm/AFP Photo
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Manifestantes protestam contra a posse de Trump, próximo à cordão de segurança. Um cartaz diz, em espanhol: "Eu também sou América". Foto: Jose Luis Magana/AP Photo
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Antes da posse, o casal Obama recebe Melania e Donald Trump na Casa Branca. A futura primeira-dama, Malania, deu Michelle com um presente, com a mesma... Foto: REUTERS/Jonathan ErnstMais
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Protestante entram em confronto com a polícia, próximo ao cordção de segurança. Foto: AP Photo/Jose Luis Magana
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Convidados de honra, como ex-presidentes e ex-primeiras-dama, se acomodam em frente ao Capitólio para a cerimônia. Foto: Alex Wong/Getty Images/AFP
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Pessoas continuam chegando para a posse de Trump Foto: AFP PHOTO
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Trump entra na suacerimônia de posse como o 45º presidente americano. Foto: Doug Mills/The New York Times
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Militante LGBT protesta contra posse de Trump, em Washington. Foto: Andre Chung/The Washington Post
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Filhos de Trump, da esquerda para a direita, Tiffany, Donald Jr, Ivanka, a esposa deDonald Jr, Vanessa, e o esposo de Ivanka, Jared Kushner, na cerimô... Foto: AFP PHOTO / Timothy A. CLARYMais
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Depois de declarações polêmicas de Trump sobe o meio ambiente, manifestantes protestam pedindo resistência a Trump e justiça ao clima. Foto: AFP PHOTO / Jewel SAMAD
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Barack Obama cumprimenta Donald Trump no começo da cerimônia de posse. Foto: EFE/JIM LO SCALZO
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Confusão entre manifestantes e polícia wm Washington. Foto: REUTERS/Adrees Latif
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Milhares assistem a posse de Trump no Capitólio, em Washington. Foto:
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Uma mulher presta primeiros socorros a um protestante, que foi atingido por spray de pimenta, em confusão com a polícia. Foto: REUTERS/Bryan Woolston
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Vice-presidente eleito, Mike Pence, é abraçado pelo presidente eleito, Donald Trump. Foto:
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Manifestante, fantasiado de urso, leva um cartaz com os dizeres: "humanos podem fazer melhor". Foto:
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Pela primeira vez, um presidente faz o juramento com mais de uma bíblia: a segunda foi presente de sua mãe. Foto: EFE/JUSTIN LANE
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Manifestantes se acorrentam em protesto contra a posse de Trump. Foto: REUTERS/Bryan Woolston
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"Já não aceitamos mais políticos que apenas falam, que estão o tempo todo reclamando, mas que nunca fazem nada para mudar. (...)Vocês não serão mais i... Foto: Doug Mills/The New York TimesMais
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Barack e Michelle Obama durante a carimônia de posse. Foto: REUTERS/Carlos Barria
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Minutos antes de ser chamado na cerimônia de posse. Foto:
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Manifestante faz um boneco de Donald Trump. Foto: AFP PHOTO / ZACH GIBSON
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Visão geral da cerimônia de posse, no Capitólio, no momento em que Trump faz o juramento e se torna o 45º presidente dos EUA. Foto: Alex Wong/Getty Images/AFP
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Candidata à presidência derrotada, e ex-primeira-dama, Hillary Clinton cumprimenta Melania Trump, a nova primeira-dama. Foto: REUTERS/Yuri Gripas
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Protesto anti-Trump mostra cartaz com a cara de Trump ao fundo e a explicação de cultura do estupro: "sociedade ou ambiente que normaliza o abuso sexu... Foto: Mais
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Já empossado, Donald Trump deixa a cerimônia ao lado de Barack Obama. Foto: AFP PHOTO / POOL / J. Scott APPLEWHITE
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Eleitora de Trump acompanhaa cerimônia de posse. Foto:
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Uma protestante em frente ao cordão policial Foto: AP Photo/John Minchillo
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Agora ex-presidente, Barack Obama acena antes de entrar no helicóptero que o levou para a base aérea, onde pegou um avião para a California. Foto: AFP PHOTO / JIM WATSON
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Trump beija seu filho Eric Trump, após a cerimônia de posse Foto: Alex Wong/Getty Images/AFP
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Um dos mais de cem detidos no confronto entre manifestantes e polícia, na possa de Trump Foto: AFP PHOTO / ZACH GIBSON
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Presidente e a primeira dama, Melania Trump, no almoço inaugural em Washington. Foto: REUTERS/Yuri Gripas
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Protestantes tentaram passar pelo bloqueio da polícia e entrar onde pessoas assistiam a cerimônia. Foto: Mario Tama/Getty Images/AFP
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Família de Trump e líderes do Congresso acompanham o recém-empossado presidente assinar as nomeações no gabinete da presidência do Senado. Foto: Scott Applewhite / POOL POOL
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Polícia atira gás de pimenta contra protestantes Foto:
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Trump cercado de lideranças do Congresso norte-americano. Foto: EFE/EPA/J. Scott Applewhite / POOL
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Manifestanteusa máscara do Anonymous Foto:
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Presidente quebra protocolo e desce do carro, no caminho para a Casa Branca Foto: AP Photo/Carolyn Kaster
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De um lado da avenida, manifestantes protestam contra Trump Foto: EFE/EPA/KEVIN DIETSCH / POOL
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De outro, eleitores de Trump comemoram sua posse Foto: EFE/EPA/KEVIN DIETSCH / POOL
Trump presidente
Presidente Donald Trump e primeira-damaMelania Trump acenam para a plateia Foto: REUTERS/Evan Vucci/Pool
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Protestantes queimam e quebram os vidros de uma limosine. Na lateral, se pode ler: "Nós, o povo" Foto: Victor J. Blue/The New York Times
O terceiro acordo diz respeito à facilitação dos investimentos, também com a convergência de regras de entrada do dinheiro e das operações no outro país. Segundo Amaral, essa era uma demanda de empresas brasileiras, cujo estoque de investimentos nos EUA soma US$ 24 bilhões. A Gerdau tem oito siderúrgicas nos EUA. A JBS gera 60 mil empregos no país. Trump provavelmente gostará de saber disso.
O Brasil certamente não está entre as prioridades de Trump. Mas isso pode ser uma boa notícia. O México que o diga.