Chanceler: 'Se há um anão diplomático, o Brasil não é um deles'

Chefe da diplomacia brasileira rebate Israel; Planalto articula com sócios do Mercosul declaração condenando ataques em Gaza

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Por Tania Monteiro , Iuri Dantas e BRASÍLIA; Denise Chrispim Marin
Atualização:

(Atualizada às 22h) A réplica de Israel à dura nota do governo brasileiro, que classificou quarta-feira de “inaceitável” a escalada desproporcional da ofensiva militar sobre Gaza, mexeu com os brios do Itamaraty e do Planalto e resultou numa tréplica do ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo. Mas na avaliação de diplomatas e assessores presidenciais a ordem é encerrar a escalada verbal entre os dois países e evitar bate-boca.

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Com o cuidado de não aprofundar o incidente diplomático, Figueiredo revidou a declaração do porta-voz da chancelaria de Israel, Yigal Palmor, de que o Brasil é um “anão diplomático” e “parceiro diplomático irrelevante”. Ao Estado, o chanceler argumentou que Brasil e Israel, na condição de nações amigas, podem “discordar entre si, sem problemas”. Figueiredo emendou, em clara lição de diplomacia a Tel-Aviv, que o Itamaraty “não usa termos que desqualifiquem governos de países amigos”.

“O Brasil vive há mais de 140 anos em paz com seus vizinhos e é um dos raros países com relações diplomáticas com todos os membros das Nações Unidas”, afirmou Figueiredo. “O Brasil sempre defendeu a paz e a segurança e teve sua voz ouvida internacionalmente. Construímos uma rede de amizades e de entendimento com os nossos vizinhos e também nosso lugar nas reuniões da ONU. Se existe algum ‘anão diplomático’, não se trata do Brasil”, completou.

"Somos um dos 11 países do mundo que têm relações diplomáticas com todos os membros da ONU e temos um histórico de cooperação pela paz", declarou Figueiredo Foto: ANDRE DUSEK/Estadão

A resposta do ministro brasileiro teve como pano de fundo a avaliação do Palácio do Planalto de que o governo israelense “passou do ponto” e foi “fora do tom”. Uma fonte resumiu: “Não podemos aceitar isso calados”, avaliação que resultou nas declarações de Figueiredo.

Até a noite de quinta-feira, 24, o governo de Israel não havia entrado em contato com Brasília para abrandar o impacto da declaração de Palmor. Diante disso, o governo brasileiro iniciou consultas com os demais sócios do Mercosul para a emissão de uma declaração de condenação do uso desproporcional da força por Israel contra a Faixa de Gaza. O texto deverá ser aprovado durante a reunião de cúpula do bloco, segunda e terça-feira, em Caracas.

Nos bastidores, o governo nega que esteja sendo duro com Israel e está apenas reagindo a uma ação despropositada do país contra os palestinos. Em linha com essa avaliação, o assessor internacional da presidente Dilma Rousseff, Marco Aurélio Garcia, disse na noite de quarta em entrevista ao SBT que “o que estamos assistindo no Oriente Médio, pelo amor de Deus, é um genocídio, é um massacre”. A solução para a violência israelense na Faixa de Gaza seria “usar pressão política e diplomática” e não enviar tropas das Nações Unidas à região, respondeu Garcia quando indagado se era o caso de intervenção.

Segundo fontes ouvidas pelo Estado, não há interesse do governo brasileiro de seguir com a divergência por meio da imprensa. O Itamaraty sempre optou pela discrição para conseguir interlocução com os mais diferentes atores. Foi esse o tom da resposta de Figueiredo a Israel: o Brasil faz parte do pequeno grupo de 11 países que se relacionam com todos os membros da ONU.

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A posição brasileira em relação à invasão da Faixa de Gaza por Israel teve início no dia 17, em uma nota com tom ameno, institucional, fiel ao estilo diplomático nacional. Ali, o governo Dilma pedia que se retomasse o diálogo. No mesmo dia, Dilma afirmou publicamente que era “lamentável” o acirramento do conflito. / COLABOROU VERA ROSA

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