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China rejeita críticas de governos estrangeiros sobre morte de dissidente

Porta-voz da diplomacia chinesa disse que a condenação de Liu Xiaobo não tem ‘nada a ver com a liberdade de expressão’, e conceder o Nobel da Paz a ele foi uma 'blasfêmia'

Atualização:

PEQUIM - A China reagiu duramente às críticas de governos estrangeiros nesta sexta-feira, 14, um dia após a morte do dissidente e ganhador do prêmio Nobel da Paz Liu Xiaobo, mas não descartou claramente a eventual libertação da viúva dele, a poetisa Liu Xia.

O governo chinês fez um protesto oficial frente a EUA, Alemanha, França e Nações Unidas, informou o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Geng Shuang.

Detido há mais de oito anos por "subversão", Liu Xiaobo morreu aos 61 anos, vítima de um câncer de fígado em estágio terminal Foto: REUTERS/Will Burgess

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Detido há mais de oito anos por "subversão", o opositor político morreu na quinta-feira, aos 61 anos, vítima de um câncer de fígado em estágio terminal. Foi colocado em liberdade condicional no Hospital Universitário de Shenyang, onde recebia cuidados. Pequim se recusou a autorizar sua viagem para que fosse tratado fora do país alegando que não seria seguro em razão do seu estado.

Vários líderes estrangeiros, entre eles o americano Donald Trump, o francês Emmanuel Macron e a chanceler alemã Angela Merkel, prestaram homenagens a Xiaobo.

O porta-voz da diplomacia chinesa rejeitou as críticas e disse que são ingerências nos assuntos internos do país, afirmando que a condenação de Liu Xiaobo não tem "nada a ver com a liberdade de expressão".

Além disso, acrescentou o porta-voz, a concessão do Nobel a Liu em 2010 constituiu uma "blasfêmia" por terem premiado um "preso condenado conforme as leis da China". "Conceder o prêmio a uma pessoa assim contradizia o próprio objetivo do prêmio. O Prêmio Nobel da Paz foi uma blasfêmia", acusou o porta-voz.

A imprensa chinesa, em sua maioria, não divulgou a morte do dissidente, cujo nome continua sendo um tabu no país. O jornal Global Times noticiou o acontecimento e, no editorial, atacou as "forças estrangeiras", sem detalhar quais. "(As forças estrangeiras) usaram a doença de Liu para melhorar sua imagem e diabolizar a da China", denunciou a publicação, controlada pelo Partido Comunista.

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Em entrevista coletiva na quinta-feira à noite em Shenyang, os médicos de Liu Xiaobo garantiram ter feito todo o possível para salvar o paciente. O estado de saúde do ativista se deteriorou subitamente, após receber a visita de médicos ocidentais, que lhe ofereceram tratamento no exterior.

Os médicos chineses disseram que Xiaobo morreu acompanhado da mulher, Liu Xia. Ela está em prisão domiciliar desde 2010.

Representantes dos EUA e da União Europeia solicitaram a Pequim que coloque Liu Xia em liberdade e lhe seja concedida autorização para deixar o país, se ela assim quiser. Ao ser questionado sobre essa possibilidade, o porta-voz da Chancelaria não a descartou categoricamente, limitando-se a declarar que não se pronunciaria sobre o tema.

Liu Xia está privada de contato com o exterior e nunca pôde ser entrevistada pela imprensa estrangeira sobre o estado de saúde de seu marido. "Continua sob estreita vigilância", declarou o responsável pela Anistia Internacional na China, Patrick Poon. / AFP

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