Cinzas de Fidel Castro deixam Havana

Caravana fúnebre percorrerá a ilha e chegará a Santiago de Cuba no sábado

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Por Cláudia Trevisan e Havana
Atualização:

As cinzas de Fidel Castro deixaram Havana nesta quarta-feira em direção a Santiago de Cuba, cidade onde o líder cubano declarou a vitória sobre o regime de Fulgencio Batista, no dia 1.º de janeiro de 1959. A caravana percorrerá a ilha e chegará ao destino no sábado. No dia seguinte, as cinzas serão depositadas no cemitério Santa Ifigênia, onde está enterrado José Martí, ideólogo da independência cubana.

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 Moradores de Havana se perfilaram em ambos os lados das ruas para ver o cortejo fúnebre, acenando bandeiras que haviam sido distribuídas pelo governo. Muitos faziam continência diante da urna, levada em um jipe militar. 

A urna com as cinzas saiu da Praça da Revolução, onde na noite anterior havia sido realizada a cerimônia oficial em sua homenagem. Também foi lá que centenas de milhares de moradores de Havana passaram, na segunda-feira, diante de uma foto de Fidel tirada em 1959, na qual ele aprece em uniforme militar levando uma mochila nas costas.

A estudante Carly Hernandez Herrera, de 15 anos, estava com colegas de sua escola à espera do cortejo no bairro Vedado. Ela chegou por volta das 6 horas e disse que estava emocionada. “Todos os cubanos têm verdadeira admiração por esse líder. Essa celebração é a prova de que suas ideias seguem mais vivas do que nunca.”

Luiz Antonio Benevides, de 47 anos, estava com duas filhas e chorou ao falar de Fidel. “É uma emoção muito grande ver a urna que carrega o restos de um líder tão grande, que mudou a vida de todo o país.” A família saiu de casa à 5h15 para pegar um bom lugar no trajeto. 

Opositores. Entre os que não participaram de homenagens ao revolucionário, poucos acreditam que a repressão a opositores diminuirá depois de sua morte. Juan del Pilar Goberna, vice-presidente da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional, afirmou que os atos de intimidação mudaram de natureza, com redução do número de prisões de dissidentes e aumento da vigilância, agressões físicas, detenções de curta duração e “atos de repúdio” a dissidentes promovidos por grupos que apoiam o governo. “Fidel era um líder obsoleto”, afirmou Goberna. “Raúl Castro é seu irmão mais novo e, enquanto ele estiver no poder, é improvável que haja mudança em Cuba.”

A jornalista independente Miriam Celaya acredita que tanto o governo quanto os dissidentes perderam a oportunidade de se aproximarem durante as negociações que levaram ao restabelecimento de relações diplomáticas entre Cuba e EUA, iniciadas em 2014. “A oposição deveria ter tido uma estratégia mais pró-ativa, com uma frente unificada”, avaliou Celaya. 

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Discursos. A principal cerimônia em homenagem a Fidel até agora ocorreu na noite de terça-feira na Praça da Revolução. O local já recebeu 400 mil pessoas em eventos anteriores e estava lotado. O ato teve caráter oficial, com uma sucessão de discursos de representantes de governos estrangeiros. Raúl foi o único cubano entre os 18 oradores. 

O mais aplaudido foi o venezuelano Nicolás Maduro, um dos quatro bolivarianos que discursaram na noite – os outros foram Rafael Correa, do Equador, Evo Morales, da Bolívia, Daniel Ortega, da Nicarágua. Além deles, o único orador da América Latina foi o presidente mexicano, Enrique Peña Nieto. O Brasil foi representado pelos ministros José Serra (Relações Exteriores) e Roberto Freire (Cultura), que não realizaram discursos.