Em pouco tempo, dois dos mais promissores mercados emergentes do mundo foram sacudidos por uma alarmante explosão de cólera da sua população. Os manifestantes acusavam o governo de agir sem ouvir a opinião pública. As autoridades eleitas acreditavam que tirar pessoas da pobreza fosse o suficiente para assegurar sua popularidade. Estavam erradas.
Nos últimos dois anos, Brasil e Turquia descambaram para o caos político mais profundo. O presidente turco Recep Tayyip Erdogan obteve uma vitória surpreendente nas eleições da semana passada e o seus ataques frontais contra inimigos políticos, reais e imaginários, continuarão. Hoje, o país está profundamente polarizado e podemos esperar novos confrontos políticos que desviarão os responsáveis do governo de reformas econômicas muito necessárias em 2016. Erdogan continuará a fazer campanha por mudanças na Constituição que lhe garantiriam maior poder político. Líderes oposicionistas e rivais dentro do seu próprio Partido da Justiça e Desenvolvimento aguardarão uma oportunidade de contestá-lo.
E podemos esperar mais protestos. A polícia reagirá com força, aumentando o riscos de os protestos se tornarem sangrentos.
A presidente Dilma Rousseff, hoje, está fortemente pressionada por uma economia frágil e um escândalo de corrupção que envolve um amplo segmento da elite política do Brasil e a Petrobrás. Há uma década, os preços historicamente altos das commodities que o país produz impulsionaram o crescimento brasileiro, mas o governo não reinvestiu suficientemente as receitas inesperadas nem atraiu o investimento externo necessário para corrigir a péssima infraestrutura do país.
A corrupção desenfreada e as oportunidades perdidas de oferecer para a classe média expandida melhores serviços públicos tiveram um impacto negativo e, agora que os preços das commodities caíram, o crescimento desacelerou e a corrupção ficou exposta.
No longo prazo, há boas razões para manter otimismo sobre os dois países. Na Turquia, Erdogan continuará a resistir de modo contundente às críticas e aos protestos, mas ele não é Vladimir Putin e a Turquia não é a Rússia. Seu partido reconquistou a maioria parlamentar que perdeu pela primeira vez há um ano, mas com menos de 50% dos votos. Ele jamais conseguirá o controle das instituições de governo, da mídia, dos tribunais e dos partidos de oposição como deseja. E também importante, sua maior realização – quase triplicando a renda per capita da Turquia e expandindo o motor de crescimento econômico para o vasto interior da Anatólia – sobreviverá a ele.
No Brasil, os protestos continuarão e Dilma jamais será tão popular quanto seu mentor, Luiz Inácio Lula da Silva. O escândalo da Lava Jato colocará fim às carreiras de muitos indivíduos poderosos no Brasil e poderá até levar ao impeachment de Dilma. Mas os promotores de justiça e a mídia terão maior liberdade no futuro para romper com a cultura de corrupção do país.
Inevitavelmente, serão realizados os tão necessários investimentos em infraestrutura, o grande obstáculo ao desenvolvimento do país. Como na Turquia, algumas das realizações do partido no poder serão irreversíveis. Milhões de pessoas saíram da pobreza.
Não há muito o que esperar de ambos nos próximos dois anos, mas Brasil e Turquia enfrentam hoje as crises de que necessitam para empreender mudanças positivas duradouras necessárias para suas economias realizarem seu potencial em longo prazo.