BOGOTÁ - A formação escolar até o segundo grau não impediu o coletor de lixo José Gutierrez de levar o dom da leitura a milhares de crianças colombianas. Ele começou a resgatar livros do lixo há 20 anos, quando ele conduzia o caminhão de coleta à noite pelos bairros mais ricos da capital, Bogotá.
O material de leitura descartado começou a ser empilhado lentamente e agora o primeiro andar de sua pequena casa transformou-se em uma biblioteca comunitária improvisada. Os livros estão empilhados do chão ao teco e somam cerca de 20 mil unidades, que vão desde livros de química a clássicos infantis.
Gutiérrez diz que os livros são artigos de luxo para meninos e meninas em bairros de baixa renda, como o seu. Em toda Bogotá, há 19 bibliotecas públicas para uma população de 8,5 milhões. No entanto, elas costumam se localizar em pontos longe das áreas mais pobres.
"Elas deveriam estar em todas as vizinhanças, em cada esquina de cada bairro, em todas as cidades, departamentos (estados) e áreas rurais", diz Gutierrez. "Livros são nossa salvação e o que a Colômbia precisa."
Aos 53 anos, Gutierrez diz ser um amante da leitura, o que ele atribui a sua mãe, que sempre leu para ele, mesmo sendo tão pobre que não podia mantê-lo na escola.
"Ela costumava ler histórias todas as noites para mim", diz Gutierrez, que tem viajado para participar de feiras de livro no México e no Chile para dividir sua experiência de começar uma biblioteca com material descartado. "Para mim, livros são a maior invenção e a melhor coisa que já aconteceu ao ser humano." / AP