Com cerimônia simples, Obama toma posse do seu segundo mandato

Terminados os festejos, presidente dos EUA começa diálogos com oposição para evitar fracasso do segundo turno

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Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

Texto atualizado às 20h14

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WASHINGTON - Em menos de um minuto, o presidente dos Estados Unidos, Barack Hussein Obama, iniciou neste domingo, 20, seu segundo e último mandato em uma cerimônia simples na Casa Branca. Na segunda-feira, 21, no Congresso, fará seu juramento público. Terminados os festejos na terça-feira, Obama terá o desafio de construir um melhor diálogo com a oposição republicana, para evitar o fracasso de seu segundo governo. Involuntariamente, dará a largada nas apostas para sua sucessão, na eleição de 2016.

Apenas a primeira-família, 12 convidados, um único assessor e o presidente do Supremo Tribunal, John Roberts, diante de quem jurou cumprir a Constituição, assistiram ao juramento de ontem, no Salão Azul da Casa Branca. Não houve discursos nem acessos ao público em frente da sede do governo americano. "Bom trabalho", disse a filha caçula, Sasha, de 11 anos, ao referir-se aos últimos quatro anos. "Sim, fiz bom trabalho", respondeu Obama, que não mais mais poderá concorrer à Presidência dos EUA.

 O juramento do vice-presidente, Joe Biden, teve maior visibilidade e audiência de políticos e estrategistas de peso, entre os quais David Axelrod, a deputada Nancy Pelosy, líder democrata na Câmara, e a presidente do partido democrata, Debbie Schultz. Sua ambição de concorrer na eleição de 2016 foi reforçada no final da campanha de 2012 e, em seguida, nas missões especiais de finalizar a negociação do acordo tributário, no final de dezembro, e de compilar o pacote de controle de armas. Biden tem 70 anos."Podemos começar a fazer os cálculos políticos do número de delegados (para o Colégio Eleitoral) necessários para a escolha do candidato democrata. Posso ver um monte de delegados aqui", afirmou à imprensa a estrategista democrata Donna Brazile, presidente na cerimônia no Observatório Naval, em Washington.Obama já perdeu em seu gabinete uma potencial sucessora e concorrente de Biden nas primárias democratas de 2016, Hillary Clinton, ex-primeira-dama e ex-senadora. Hillary promete descansar, depois de quatro anos na liderança do Departamento de Estado e de viagens a mais de 100 paísesr. Apesar de sua recente hospitalização por causa de uma trombose e de seus 65 anos de idade, ela é tida como uma candidata capaz de obter consenso no partido e ser chamada por suas lideranças a concorrer em2016.Democrata mais apagado, o governador de Nova York, Andrew Cuomo, também é apontado como potencial candidato. Na oposição, o senador de origem cubana Marco Rúbio perdeu pontos na eleição passada, com a derrota do republicano Mitt Romney na Flórida. O ex-governador Jeb Bush, filho e irmão de presidente, mantém-se como forte aposta, assim como o carismático governador de Nova Jersey, Chris Christie, com os louros de sua operação de socorro às vítimas do furacão Sandy.Manobras políticas de curto prazo terão certamente impacto no jogo eleitoral de 2016. Obama terminou seu mandato com pobre qualidade de diálogo com a oposição republicana, ainda atrapada pelos radicais do Tea Party. A Casa Branca está em plena negociação com o Congresso sobre dois temas econômicos de suma importância para a sociedade americana e para o restante de sua gestão e também sobre sua política para o controle de armas.Obama deverá conseguir do Congresso autorizacão para elevar o limite de envididamento federal antes de meados de fevereiro, quando o atual teto de US$ 16,4 trilhões será alcançado. Portanto, tende a se livrar do risco momentâneo de ser obrigado a declarar a suspensão de pagamentos da dívida, de fornecedores e de servidores e militares pela primeira vez na História americana. Os efeitos previstos dessa atitude vergonhosa para qualquer governo - como a pressão para o aumentos dos juros aplicados no crédito para o consumidor e o investidor, em prejuízo para o consumo e o emprego - serão contornados. Mas Obama ainda está ameaçado de ter seu governo e a sociedade americana periodicamente expostos a esse mesmo risco. A bancada democrata na Câmara dos Deputados insiste em aumentar o teto da dívida por apenas três meses e resiste em dar ao presidente o poder para aumentar esse limite quando necessário. Trata-se de uma espécie de torniquete sobre o governo Obama, com poder de limitar o poder de barganha da Casa Branca em outros projetos de seu interesse, como a Reforma da Imigração, a regulamentação das reformas da Saúde e de Wall Street e o fim da Guerra do Afeganistão.Em outro tema econômico urgente, o acordo com o Congresso sobre os cortes de gastos públicos até 2022, Obama tenta preservar os gastos com programas sociais da ansiedade republicana em vê-los enxugados. O ajuste se faz se necessário por causa do grau de endividamento público do país, de quase 100% do Produto Interno Bruto (PIB) americano, e de sua tendência natural de aumentar. A discussão é complicada pelo alto grau de polarização ideológica dos dois partidos, percebido desde o início de 2011, e pela baixa tolerância de Obama a fazer concessões. A sociedade americana sofrerá com qualquer que seja a escolha final ou com a ausência de um acordo.Os programas de Saúde gratuita para os americanos pobres e deficientes e para os aposentados serão inevitavelmente alvos de cortes de gastos públicos a partir de 2013, assim como as aposentadorias e pensões da Previdência Social. Despesas com a Defesa não serão poupadas, e isso significará restrições na estratégia americana na Guerra do Afeganistão, em futuras ações militares dos EUA no exterior e nas contratações de empresas do setor. Mesmo dentro do país, já há planos para o fechamento de bases, com repercussão desastrosa para as economias locais.O peso desses cortes e seus de efeitos dependerá do acordo a ser firmado até 28 de fevereiro. Se não houver consenso, o governo de Obama será obrigado a reduzir em US$ 100 bilhões os gastos públicos apenas neste ano, sobretudo nas áreas Social e de Defesa. Entre 2014 e 2022, outros US$ 446 bilhões serão podados. A retração do ritmo de recuperação econômica do país, será inevitável.Posse. Obama iniciou seu segundo mandato com o país ainda imerso em desafios econômico-sociais. A taxa de desemprego, de 7,8% em dezembro de 2012, foi a mais baixa desde igual mês de 2008, mas ainda é considerada alta. Significa a presença de 12,2 milhões de trabalhadores sem ocupação. Outros 2,6 milhões desistiram de procurar um posto e não entram nas estatísticas do desemprego. Dentre os 143,3 milhões empregados, 26,8 milhões trabalhamem meio-período. Seu maior desafio interno será alavancar investimentos privados para gerar mais postos de trabalho. Segundo David Ploufffe, conselheiro sênior da Casa Branca, Obama deverá fazer um hoje um discurso de 20 minutos, do lado de fora do Congresso, focado especialmente no estímulo para que os cidadãos americanos - sobretudo os democratas - se envolvam mais no processo político e pressionem o Congresso. Sua agenda para este e os próximos anos será detalhada em seu principal discurso anual à Nação, o Estado da União, a ser feito no Congresso em 12 de fevereiro.

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