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Com Macron, desafio de Merkel será reformar Europa

Merkel deve fazer avançar reforma institucional de Bruxelas, apesar de visão divergente entre Alemanha e França, dizem especialistas

Por Andrei Netto e Templin
Atualização:

Prestes a conquistar sua quarta vitória consecutiva nas eleições gerais na Alemanha, a chanceler Angela Merkel terá como maior desafio de seu futuro mandato uma questão internacional: a reforma institucional da União Europeia. Ao lado do presidente da França, Emmanuel Macron, com quem ainda tem divergências, mas ótima relação, a chefe de governo se prepara para lançar as bases de uma transformação profunda de Bruxelas – cujo conteúdo ainda é desconhecido.

Merkel e Macron discutem mudanças na União Europeia Foto: EFE/Carsten Koall

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A perspectiva de reorganização das instituições do bloco econômico foi aberta pela vitória de Macron nas eleições presidenciais de maio. Pró-Europa e favorável a mais integração, o francês disputou uma eleição tida como crucial para a sorte da União Europeia e venceu todos os candidatos eurocéticos, de extrema direita à esquerda radical. 

Reformista, Macron prometeu mudanças em Bruxelas e encontra na chanceler da Alemanha a parceira ideal para levar as transformações adiante. “As condições para reformar a UE são melhores do que nunca. O primeiro elemento favorável é que Macron é muito pró-europeu e quer reformar as instituições. O segundo elemento é o Brexit. Por fim, Merkel entrará em seu último mandato. Creio que ela deseja preparar seu legado”, avalia Famke Krumbmüller, da consultoria OpenCitiz.

“O mais importante e mais urgente na relação entre Macron e Merkel é a reforma das instituições da UE. A França e a Alemanha têm visões opostas de como a UE deveria se organizar, e provavelmente não será nem como a França deseja, nem como a Alemanha quer. Mas será feito.”

Para Heinrich Oberreuter, cientista político da Universidade de Passau e próximo do Partido Democrata-Cristão, de Merkel, o próximo governo da chanceler terá mesmo de lidar com a reforma da UE. “Creio que seja cedo para dizer se Merkel vai estar próximas às ideias de Macron”, diz, referindo-se à criação de um ministro europeu da Economia e de um Parlamento da zona do euro, propostas francesas. “Há muitas questões sobre a UE na Alemanha, e uma maioria no país não quer uma integração ainda maior. Também será preciso olhar para os países do Leste, que são muito mais nacionalistas em função de suas experiências com a União Soviética.”

Stefan Seidendorf, cientista político do Instituto Franco-Alemão de Ludwigsburg, cita a reforma da UE como mais um exemplo do pragmatismo político da chanceler. “O discurso de Merkel mudou e agora ela faz parte dos que querem ir em frente nas reformas. Mas sua prática é a passos pequenos, sempre com maioria, evitando ficar em minoria”, diz o especialista. “Se houver uma maioria em favor de reformas profundas, as reformas ocorrerão. Caso contrário, ela vai seguir pragmática.” 

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