Assembleia acusa Maduro de golpe de Estado e o ameaça com impeachment

Em sessão tensa, com invasão de manifestantes chavistas ao Parlamento, oposição denuncia golpe contra Constituição e diz que presidente chavista deve ser julgado por abusos; medida deve ser repelida pelo governo e pelo Judiciário

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Por Redação
Atualização:

CARACAS - Em uma sessão tensa, marcada por protestos de manifestantes chavistas que invadiram o plenário, a Assembleia Nacional venezuelana, controlada pela oposição, aprovou uma resolução acusando o presidente Nicolás Maduro de promover um golpe de Estado, após a Justiça Eleitoral do país, acusada pelos antichavistas de atender aos interesses do governo, ter suspendido o referendo revogatório do mandato do bolivariano.

A Assembleia, controlada pela coalizão opositora Mesa da Unidade Democrática (MUD), também promete estudar uma maneira de pedir o impeachment do líder chavista, proposta defendida pelo presidente do Legislativo, Henry Ramos Allup, e pelo líder da oposição Julio Borges. Os chavistas alegam uma suposta fraude no referendo, mesmo após a primeira fase do processo ter sido validada pela Justiça eleitoral.

Militantes chavistas invadem sessão da Assembleia Nacional, controlada pela oposição, na tarde deste domingo Foto: REUTERS/Marco Bello

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“Precisamos de um julgamento político e jurídico de Maduro para ver se ele tem responsabilidade nessa ruptura institucional”, disse Borges. “Na Venezuela foi dado um golpe de Estado contra a Constituição.”

Um grupo de dezenas de chavistas invadiu a Assembleia durante o discurso do opositor Enrique Márquez. Após 45 minutos de tumulto, a sessão foi restabelecida. Os chavistas vaiaram e lançaram objetos contra os deputados que entraram na sede parlamentar e gritavam frases como “não há referendo” e “esta Assembleia vai cair”.

Apesar de a oposição ter maioria para aprovar o julgamento político de Maduro, dificilmente o processo prosseguiria, uma vez que o chavismo tem bloqueado todas as iniciativas parlamentares da oposição por meio do Tribunal Supremo de Justiça, onde os juízes foram nomeados pelo governo. 

Revolta. “O povo tem direito à rebelião”, acrescentou Borges, que é do partido do líder opositor Henrique Capriles.  Ao ler a ordem dos debates, Ramos Allup afirmou que também será abordado um “abandono do cargo” por parte de Maduro, que está em uma viagem ao Oriente Médio, e o tema da suposta dupla nacionalidade, venezuelana e colombiana, do presidente, que segundo a oposição o inabilita para exercer a função.

“A Assembleia Nacional assume a responsabilidade histórica de restituir a democracia e a justiça ao povo venezuelano. É impossível nos tirar o direito de escolher o futuro que queremos”, disse Borges.

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A suspensão do referendo aumentou ainda mais a tensão política no país, que enfrenta uma grave crise econômica, com escassez de alimentos e medicamentos, além de uma inflação para 2016 calculada em 475% pelo FMI. 

Petróleo. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, pediu ontem um reforço da cooperação entre os países produtores de petróleo para estabilizar os preços, durante uma visita ao Irã.

“Para estabilizar os preços do petróleo, é preciso refletir, aumentar as consultas entre os países produtores, Opep e não Opep”, declarou Maduro em um encontro com o presidente do Irã, Hassan Rouhani, segundo o site da Presidência iraniana. “Os países produtores devem buscar um acordo justo para estabilizar os preços.”

“O Irã apoiará qualquer ação para estabilizar o mercado, assegurar um preço e cotas justas”, afirmou o presidente iraniano, que considerou que a cooperação entre países da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep) e os que não fazem parte dela é “necessária”. / REUTERS e AFP