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Construção de centro islâmico em região dos EUA enfrentou resistência e protestos

Templo foi erguido próximo a uma igreja Batista; durante a construção, houve um incêndio criminoso no local

Por Cláudia Trevisan
Atualização:

MURFREESBORO - A pichação “não são bem-vindos” na placa que anunciava a construção do Centro Islâmico de Murfreesboro, em 2009, foi o primeiro sinal da controvérsia que marcaria a chegada do símbolo muçulmano ao território que integra o “cinturão da Bíblia” no Sul dos EUA. 

Nos quatro anos seguintes, houve protestos e um incêndio criminoso contra o local, além de uma tentativa judicial de proibir o seu funcionamento, barrada na Suprema Corte.

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Pouco antes de o centro abrir, em 2012, os dirigentes da vizinha Igreja Batista Grace fincaram 13 cruzes brancas em seu terreno. “Nós queremos que eles vejam as cruzes e saibam o que nós sentimos em relação às coisas”, disse na época Mack Richards, membro da congregação que construiu as cruzes. Nos meses seguintes, outras 16 foram colocadas no local.

Apesar de estarem separados por apenas alguns metros, os dois templos não dialogam. “Nós tentamos estabelecer contato com eles, mas não houve receptividade”, disse o imã Ossama Bahloul.

A ação para impedir a abertura do Centro Islâmico foi dirigida contra a municipalidade e questionava o processo de aprovação da obra. Entre os argumentos usados estava o de que o islamismo não é uma religião, por isso não deveria ter sido autorizado como local de culto. 

Segundo Bahloul, o procedimento adotado foi idêntico ao aplicado a outras instituições religiosas na mesma época. A resistência se tornou violenta quando o empreiteiro que construiria o edifício levou quatro máquinas ao local. No dia 28 de agosto de 2010, uma das retroescavadeiras foi incendiada. O FBI se envolveu na investigação do caso e ofereceu recompensa de US$ 25 mil para quem identificasse os autores do crime. Até hoje, ninguém foi punido.

“Foi um período duro, em que nossas crianças eram intimidadas nas escolas. Foi especialmente difícil para as mulheres, porque a cobertura de seus cabelos é uma óbvia indicação de que são muçulmanas”, explicou o imã. Mas ele disse que a resistência também foi uma oportunidade para o centro dialogar e criar vínculos com a comunidade de Murfreesboro. 

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A população foi convidada para ver cerimônias no local de culto dos muçulmanos e houve um esforço de comunicação com outras religiões. Os moradores também foram estimulados a fazer perguntas e muitos fiéis se transformaram em porta-vozes em defesa do centro.

Identidade. As duas filhas do sírio-americano Saleh Sbenaty foram ativas nesse processo. Dima, de 26 anos, é formada em biologia e química e faz mestrado em imunologia em Ohio. Lema, de 25, se formou em bioquímica e se prepara para estudar oftalmologia. “Esse processo ajudou a moldar a identidade de ambas”, afirmou Sbenaty.

Antes da campanha contra o centro, contou o sírio-americano, Dima e Lema não usavam o véu típico das muçulmanas. Depois, passaram a adotá-lo. Sbenaty também tem um filho de 18 anos, Salim, que estuda Engenharia Mecatrônica. “Eles são americanos e estão vivendo sua vida como todos os demais”.

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