Premiê espanhol aciona plano para suspender autonomia da Catalunha

Mariano Rajoy convoca para sábado ã reunião em que pretende reduzir as atribuições do governo catalão; medida seria uma tentativa de impedir a declaração de independência unilateral e poderia levar à dissolução do Parlamento regional

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Por Andrei Netto , correspondente e Paris
Atualização:

PARIS - O primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, convocou na manhã desta quinta-feira, 19, uma reunião extraordinária de ministros para sábado na qual deverá suspender a autonomia da Catalunha para "restaurar a legalidade" e impedir a declaração definitiva de independência da região.

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A medida deverá resultar na dissolução do Parlamento regional e na queda do governador Carles Puigdemont, que em carta havia informado que confirmaria a secessão caso Madri não voltasse atrás na prisão de líderes do movimento independentista. 

+ A Constituição espanhola e o Artigo 155

Os desdobramentos da crise catalã e espanhola acontecem no dia em que acabava o ultimato lançado há 10 dias pelo premiê Mariano Rajoy contra o líder catalão, Carles Puigdemont Foto: REUTERS/Gonzalo Fuentes

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Os desdobramentos da crise catalã e espanhola acontecem no dia em que acabava o ultimato lançado há 10 dias por Rajoy contra Puigdemont. O primeiro-ministro havia informado que acionaria o Artigo 155 da Constituição da Espanha, que estabelece as normas para a dissolução de um governo regional em caso de desobediência civil. As medidas serão discutidas em detalhes em uma reunião do Conselho de Ministros marcada para o sábado, em Madri. "O governo continuará as etapas previstas pelo Artigo 155 da Constituição para restaurar a legalidade", informou o governo espanhol em nota oficial publicada nesta manhã.

O comunicado é uma reação à resposta ao ultimato de Rajoy enviada minutos antes por Puigdemont a Madri. Na carta, o líder separatista acusa o Estado central de ter optado pela repressão em lugar do diálogo ao determinar a prisão de dois líderes independentistas, Jordi Sànchez, presidente da Assembleia Nacional Catalã, e Jordi Cuixart, presidente da Òmnium Cultural. As entidades foram as principais organizadoras e financiadoras da campanha pelo "sim" à independência no plebiscito realizado no dia 1.º de outubro. 

Declarada ilegal pelo Tribunal Constitucional, a mais alta instância da Justiça da Espanha, a votação foi realizada mesmo assim pelo governo catalão e resultou em 90% dos votos favoráveis à independência da Catalunha, em um universo de participação de 42% do eleitorado. A consulta popular acabou sendo prejudicada pela intervenção de forças de ordem da Guarda Civil e da Polícia Nacional, enviadas de Madri por ordem de Rajoy para impedir a abertura de seções eleitorais e confiscar urnas e cédulas.

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"Se o governo do Estado (central) persiste em impedir o diálogo e seguir a repressão, o Parlamento da Catalunha poderá proceder, se estimar oportuno, a um voto de declaração formal de independência, que ele não votou em 10 de outubro", ameaçou Puigdemont em sua carta.

No dia 10 de outubro, Puigdemont chegou a declarar a independência da Catalunha, mas "suspendeu" a decisão oferecendo ao governo um prazo para a abertura de negociações – cujos termos não foram descritos. Sem o voto do Parlamento, a declaração teve apenas caráter simbólico. Se vier a ser apreciada pelos legisladores, então ganhará status de lei na Catalunha, o que colocaria as autoridades regionais de Barcelona em confronto direto com o governo central, em Madri. 

Alternativas

De parte dos indepedentistas, duas opções são mais claras: a primeira, decretar a independência unilateral, em retaliação à falta de abertura para negociações de parte do governo de Rajoy. Essa é a linha defendida pelo Partido Democrata Europeu Catalão (PDeCAT, de centro-direita) e também pela Candidatura de Unidade Popular (CUP, de extrema esquerda), ambos membros da coalizão do governo. Os comunistas lançaram até uma campanha de “desobediência em massa” contra as prisões e pela liberdade dos “prisioneiros políticos”. A outra opção, mais moderada, seria Puigdemont convocar eleições parlamentares antecipadas com o objetivo de criar um fato político que poderia resultar no retorno dos independentistas ao poder. 

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Já Madri tem um arsenal de medidas previstas no Artigo 155 para aplicar contra os secessionistas. Uma delas é usar a suspensão da autonomia para forçar Puigdemont a convocar eleições antecipadas, o que também seria visto pelo governo de Rajoy como um “retorno à legalidade”. Essa alternativa seria valiosa porque os procedimentos de suspensão da autonomia podem se prolongar por semanas.

Caso a convocação de eleições não aconteça por parte dos independentistas, Rajoy terá de avaliar quais medidas dentre as previstas no artigo 155 vai tomar. O receio de autoridades espanholas é de que um rigor excessivo possa levar milhões de pessoas às ruas de Barcelona contra Madri e provocar a indignação de outras regiões com movimentos independentistas, hoje minoritários, como o País Basco e a Galícia. Hoje, o governador basco, Iñigo Urkullu, reprovou a perspectiva de perda da autonomia catalã.

Também temeroso das reações adversas, o Partido Socialista (PSOE), o maior da oposição, pediu que Rajoy o utilize de forma “muito limitada”, embora apoie a ativação do artigo. “A integridade territorial não se negocia e nós não podemos aceitar a coexistência de um Estado com um mini-Estado autoproclamado”, justificou Pedro Sánchez, líder do PSOE.

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