PYONGYANG - O governo da Coreia do Norte confirmou nesta quarta-feira que realizou um teste de um novo míssil intercontinental, o Hwasong-15. De acordo com Pyongyang, o armamento tem capacidade de atingir o território dos EUA. Na TV estatal, o governo de Kim Jong-un declarou que o míssil tem “vantagens muito maiores em suas especificações táticas e tecnológicas” do que o Hwasong-14, que foi testado duas vezes em julho.
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Analistas e funcionários de governos da Europa e dos EUA ainda aguardam a divulgação de imagens do lançamento para identificar com precisão quais as diferenças entre o Hwasong-15 e os mísseis lançados anteriormente pelo regime norte-coreano.
De acordo com a Coreia do Norte, o novo míssil foi lançado em uma trajetória verticalizada e voou por 53 minutos. O projétil atingiu no Mar do Japão (Mar do Leste). O governo norte-coreano disse que o míssil atingiu uma altitude de 4.475 quilômetros e percorreu 950 quilômetros.
“Se esses números estiverem corretos, se o míssil fosse lançado em uma trajetória padrão, em vez da trajetória verticalizada, o projétil teria um alcance de mais de 13 mil quilômetros”, afirmou a Union of Concerned Scientists, entidade com sede nos EUA. Isso significaria que cidades como Washington e Nova York estariam pela primeira vez dentro do alcance de um ataque da Coreia do Norte.
Após o teste, Kim declarou que a Coreia do Norte “finalmente concretizou a grande causa histórica de completar a força nuclear estatal”. Observadores internacionais, porém, afirmaram que ainda não estava claro o peso da carga que o míssil mais recente era capaz de carregar, nem se o equipamento poderia levar uma ogiva nuclear potente até os EUA.
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“O teste foi incomum por ter sido conduzido na calada da noite, o que talvez reflita preocupações dos norte-coreanos sobre evitar a interceptação do sistema de defesa americano contra mísseis balísticos”, declarou o Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais dos Estados Unidos.
O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, exortou Pyongyang a "desistir de tomar qualquer possível passo desestabilizador no futuro". Guterres qualificou o teste de "clara violação das resoluções do Conselho de Segurança" que "revela a completa falta de respeito pela visão conjunta da comunidade internacional".
Nesta quarta-feira, o presidente americano, Donald Trump, declarou pelo Twitter que os EUA aplicarão mais sanções contra o regime da Coreia do Norte. Em um comício no Estado de Missouri, organizado para defender sua reforma tributária, o presidente chamou Kim de “cachorrinho doente”. Anteriormente, ele já havia se referido ao líder supremo da Coreia do Norte como “pequeno homem-foguete”.
Em seu discurso na abertura da Assembleia-Geral da ONU, em setembro, Trump chamou regime norte-coreano de depravado e afirmou que “destruirá totalmente” a Coreia do Norte, se não tiver outra escolha. “Os EUA têm grande força e paciência, mas se forem forçados a defender a si ou a seus aliados, não teremos outra escolha além de destruir totalmente a Coreia do Norte.”
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Nesta quarta-feira, a porta-voz do Departamento de Estado americano, Heather Nauert, afirmou que a comunidade internacional deve dar o máximo em relação aos esforços diplomáticos e econômicos para conter as ameaças norte-coreanas. De acordo com ela, Washington convocou uma reunião com a Coreia do Sul e o Japão para expandir a ofensiva diplomática contra Pyongyang.
O presidente francês, Emmanuel Macron, declarou à emissora France 24 que busca o apoio dos governos da China e da Rússia para a imposição de sanções mais eficazes contra a Coreia do Norte. O Conselho de Segurança da ONU convocou uma reunião de emergência para tratar do tema. O encontro seria realizado na noite desta quarta-feira, em Nova York, e discutiria um novo pacote de sanções contra Pyongyang.
Escalada
O disparo desta quarta-feira representou uma escalada nas tensas relações entre o regime de Kim Jon-un e o Ocidente. Em 3 de setembro, a Coreia do Norte fez seu sexto teste nuclear, o mais potente até a data. Segundo Pyongyang, se tratava de uma bomba de hidrogênio capaz de ser colocada em seus mísseis de longo alcance.
Em 15 de setembro, menos de uma semana depois que o Conselho de Segurança da ONU adotou novas sanções contra o regime norte-coreano, Pyongyang disparou um míssil balístico que sobrevoou o Japão, a 3.700 quilômetros a leste de seu ponto de partida, segundo Seul.
Desde então, a ausência de lançamentos criou a expectativa de que o endurecimento das sanções da ONU dava frutos.
Washington pede especialmente à China, principal apoio econômico de Pyongyang, que pare de apoiar seu vizinho. Trump se mostrou confiante sobre este aspecto após sua recente visita a Pequim, apesar do ceticismo de muitos observadores.
Os Estados Unidos esperam que quando Kim Jong-un estiver totalmente isolado e submetido a um importante bloqueio econômico e sob as constantes ameaças militares do presidente americano, o líder norte-coreano acabará aceitando negociar seu programa nuclear. / AFP, AP, REUTERS e EFE