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Coreia do Norte merece medalha de ouro em diplomacia, dizem analistas

Mesmo sem resultados expressivos no esporte, norte-coreanos conseguiram projetar sua imagem e mostrar que contornam sanções ao mesmo tempo em que se aproximaram de Seul; especialistas temem, no entanto, que distensão na península não dure muito

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Por Redação
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GANGNEUNG, COREIA DO SUL - Os atletas norte-coreano voltaram para seu país com as mãos vazias depois dos Jogos Olímpicos de Inverno celebrados na Coreia do Sul, mas a Coreia do Norte merece uma medalha de ouro na diplomacia, afirmam analistas.

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Os especialistas, no entanto, temem que esta distensão na península não dure muito. A aproximação olímpica levou as duas Coreias a desfilar juntas na cerimônia de abertura, durante a qual o presidente sul-coreano deu um histórico aperto de mãos com a irmã do líder norte-coreano, Kim Jong-un. 

Atletas norte-coreanos deixam o Sul após o encerramento a Olimpíada de Inverno Foto: AFP PHOTO / POOL / KIM Hee-Chul

A Coreia do Norte enviou 22 atletas aos Jogos sem que nenhum deles se destacasse. Mas a participação da Coreia do Norte nos Jogos não tinha como objetivo obter medalhas, destacam os analistas.

"A questão era projetar uma imagem", explica Koo Kab-woo, acadêmico da Universidade de Estudos Norte-coreanos. "Eles provaram que não são um 'Estado renegado' e conseguiram contornar as sanções", acrescenta.

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Em 2017, a Coreia do Norte realizou seu teste nuclear mais potente, e disparou mísseis capazes de alcançar os Estados Unidos, elevando ao máximo a tensão com a Coreia do Sul e Estados Unidos.

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O líder norte-coreano, Kim Jong-un, e o presidente americano, Donald Trump, trocaram acusações, insultos e ameaças. No entanto, inesperadamente, Kim anunciou que seu país queria participar nas Olimpíadas de Inverno.

A Coreia do Norte negociou com o governo de Seul a presença de vários atletas, a formação de uma equipe unificada de hóquei feminino e o envio de 200 animadoras de torcida, que se converteram numa das atrações para os espectadores e meios de comunicação.

A imagem das atletas norte-coreanas abraçando as colegas sul-coreanas depois da última partida de hóquei emocionou muitos torcedores, apesar de, a princípio, Seul ter sido contrária à formação da equipe.

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Mas, principalmente, a peça fundamental da ofensiva diplomática norte-coreana foi designar a irmã do líder norte-coreano, Kim Yo-jong, para encabeçar a delegação norte-coreana. Ela foi a grande atração da cerimônia de abertura, durante a qual ofuscou a presença do vice-presidente americano Mike Pence.

Kim Yo-jong não manteve qualquer interação com Mike Pence na cerimônia de abertura, apesar de estarem a poucos metros de distância. Segundo os EUA, havia uma reunião prevista entre as delegações de Washington e Pyongyang nos dias seguintes, mas acabou sendo cancelada pelos norte-coreanos.

"Ela era a pessoa perfeita para entregar a mensagem e isso foi precisamente o que ela fez", assinala Andrei Lankov, professor da Universidade de Kookmin."Ela convidou o presidente (sul-coreano) Moon Jae-in para uma reunião e sorriu abertamente, usando da boa impressão e isso era exatamente o que os norte-coreanos queriam", acrescenta.

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Beco sem saída

A distensão olímpica abriu caminho para a possibilidade de uma cúpula entre Monn e o líder norte-coreano. No entanto, Lankov adverte: "O maior problema não é entre as duas Coreias. O maior problema está entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos". 

"Neste sentido, não há nenhuma quantidade de conversas entre o Sul e o Norte que vá alterar algo de forma significativa", observa.

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O presidente sul-coreano, menos inclinado a iniciar um diálogo com o Norte, se reuniu no domingo com o general norte-coreano Kim Yong-chol antes da cerimônia de encerramento. 

A delegação norte-coreana teria se mostrado disposta a dialogar com Washington, segundo Seul. No entanto, Pyongyang, que mantém uma postura desafiante, sempre defendeu que um diálogo com os Estados Unidos deve acontecer sem a existência de condições prévias.

Em resposta, a Casa Branca reiterou que primeiro Pyongyang deve dar passos concretos para uma desnuclearização de seu arsenal.

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Na sexta passada, os Estados Unidos anunciaram um novo pacote de sanções, que Trump descreveu como as mais duras impostas até agora.

Com os dois lados poucos dispostos a concessões, Lankov analisa que o momento de distensão atual "é uma relação breve, que provavelmente vai ser seguida de outra escalada, outro período de tensão, provavelmente no início de abril".

A Olimpíada de PyeongChang foi um dos casos mais exemplares de uma desescalada das tensões durante os 17 dias de duração do evento, diz Koo, mas temas sensíveis como o programa nuclear ou os exercícios militares foram evitados. "O problema é o que vem depois de PyeongChang", conclui. / AFP