Corte de zeros não dará mais valor ao bolívar

Para especialistas, medida é cosmética, pois a Venezuela precisa é mudar sua política econômica

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Por Redação
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MEDELLÍN, COLÔMBIA - Frente a uma inflação quase incompreensível, as autoridades venezuelanas acharam que haviam encontrado uma solução: mudar a denominação das cédulas. Depois, anunciaram que cortariam três zeros. Quando isso não bastou, anunciaram um corte de mais dois zeros.

Um frango na Venezuela vale 14,6 milhões de bolívares (R$ 8,6) Foto: CARLOS GARCIA RAWLINS / REUTERS

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Essas táticas deixaram os venezuelanos como Yosmar Nowak, proprietária de uma cafeteria em Caracas, convencidos de que não há solução à vista e o governo não consegue nem mesmo reduzir o preço de uma xícara de café, pelo qual se paga o altíssimo valor de dois milhões de bolívares.

“Imagino que se a situação continuar assim vamos ter de fazer a mesma coisa em dezembro”, disse ela, que foi obrigada a aumentar o preço do seu café pelo menos 40 vezes este ano.

O corte dos zeros do bolívar é a última de uma série de mudanças econômicas adotadas pelo presidente Nicolás Maduro para tentar arrumar a arruinada economia do país. A inflação de cinco dígitos levou o FMI a fazer comparações com a hiperinflação do Zimbábue. A estimativa do órgão é que a inflação bata em 1.000.000% este ano.

A nova moeda será conhecida como “bolívar soberano”e será lançada na segunda-feira. Além disso, o presidente decretou medidas que seu Partido Socialista Unido relutou em adotar no passado: o aumento dos preços da gasolina para alguns motoristas e uma modesta flexibilização dos controles monetários que tornaram o dólar inacessível para muitos venezuelanos.

Mas essas mudanças não são suficientes para convencer os economistas. “É uma medida cosmética esse corte dos zeros”, disse Steve Hanke, professor de economia aplicada na Universidade John Hopkins. “Não significa nada a não ser que você mude a política econômica.”

O problema não é o que fazer com os zeros, mas o que causa o seu surgimento. O governo depende das vendas do petróleo para pagar suas dívidas. Mas a má gestão levou a uma forte queda da produção para 1,2 milhão de barris por dia em julho – similar à produção mensal em 1947. Diante dessa escassez , o governo recorreu ao Banco Central para imprimir mais moeda.

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Embora isso permita o pagamento das contas no curto prazo, quem arca com o custo são aqueles que possuem bolívares, uma vez que o novo dinheiro impresso desvaloriza ainda mais a moeda existente. E o pagamento das contas é apenas um dos problemas de Maduro. / NYT

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