Paralisações de vias desafiam Macri em sua primeira greve geral

Sindicatos desafiam proibição a manifestações decretada na semana passada; governo promete reprimir bloqueio parcial de pista

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Por Rodrigo Cavalheiro
Atualização:

BUENOS AIRES - O presidente argentino, Mauricio Macri, enfrentou nesta quarta-feira, 24, sua primeira greve geral de servidores públicos. Algumas das principais vias de Buenos Aires foram cortadas, em desafio à ordem pela qual seu governo proibiu esse tipo de manifestação na semana passada e prometeu reprimir mesmo interrupções parciais de pistas. Manifestantes garantiam que uma liminar da Justiça, na noite de terça-feira, lhes deu o direito de fechar ruas em todo o país.

Essa é a forma mais usual de pressão de movimentos sociais no país. Organizados pela Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), que tem 200 mil afiliados no país e 32 mil na região metropolitana, os manifestantes bloquearam no fim da manhã e início da tarde a Avenida 9 de Julho, a principal da cidade. A estratégia do terceiro maior sindicato do país provocou um congestionamento contra o qual motoristas, sob um calor de 34ºC, buzinavam compulsivamente.

O presidente da Argentina, Mauricio Macri Foto: Reuters

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A razão principal do protesto são 8 mil demissões de funcionários públicos do governo federal desde a posse de Macri, em 10 de dezembro - segundo a ATE, são 20 mil se somadas às feitas por províncias e municípios. O governo alega ter excluído funcionários que não trabalhavam e mantinham o emprego por sua ligação com o kirchnerismo.

Outro motivo para a greve geral é próprio protocolo de resposta criado pelo governo contra o bloqueio de vias. Organizações de trabalhadores o consideram inconstitucional. "Sem que o Congresso aprove a nova ordem, ela não tem validade. E se o Parlamento validá-la, vamos todos presos, não deixaremos de protestar" disse ao Estado Pablo Reyner, diretor de relações internacionais da Central de Trabalhadores Argentina.

Grevistas se reúnem em protesto contra Macri na Praça de Maio Foto: Eitan Abramovich / AFP

A obstrução pelos chamados “piqueteros” é uma estratégia comum não só entre categorias organizadas. Falta de energia, crimes e demissões são razões para o uso dessa tática por pequenos grupos. No governo de Cristina Kirchner, a ordem era não reprimir. A ação policial em grandes atos é incomum e impopular na Argentina desde a crise de 2001, quando se registraram 28 mortes em protestos. 

Macri prometeu em campanha o fim de atos em que “poucos prejudicam milhares”. Em março, sindicatos renegociarão a correção anual dos salários e alguns prometem parar o país diante de aumento inferior a 30%. O governo sugere 25%, a meta de inflação para 2016. 

O texto de tolerância zero anunciado na semana passada prevê que a polícia dará um aviso para que a via ela seja liberada. A ordem é não permitir a presença mesmo sobre parte da pista, uma solução corriqueira hoje. “Se não saírem em 5 ou 10 minutos, vamos tirá­-los de lá”, prometeu a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, que estava nos EUA nesta quarta-feira. Não há unanimidade entre juristas sobre o tema. Andrés Gil Domínguez, professor de direito da Universidade de Buenos Aires, considera a medida constitucional porque veta o corte da via, não o protesto. Ele critica outros pontos, como a permissividade quanto ao uso de armas letais, embora o governo prometa não recorrer a elas.

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