PUBLICIDADE

Cresce temor de que protestos estudantis ganhem periferias

Autoridades francesas se preparam para uma possível repetição dos distúrbios que atingiram os subúrbios de Paris no ano passado

Por Agencia Estado
Atualização:

Homens mascarados empunhando tacos de beisebol emergem em meio à multidão de manifestantes pacifistas. Baderneiros tiram vantagem da desordem para chutar e empurrar outros manifestantes. Celulares, maquinas fotográficas e filmadoras são roubadas. Este é o saldo final das últimas marchas contra "Contrato Primeiro Emprego", nova lei que prevê a redução de garantias trabalhista para os jovens com menos de 26 anos. Para a polícia, já é possível traçar um paralelo entre onda de violência que tem dominado os recentes protestos estudantis com os distúrbios que tomaram conta dos subúrbios de Paris entre outubro e novembro do ano passado. As forças de segurança francesas temem um novo levante liderado pelos descendentes de imigrantes norte-africanos. "Há alguns valentões de certas vizinhanças problemáticas que são os mesmos agitadores dos distúrbios de novembro", disse o ministro do interior francês, Nicolas Sorkozy, em referência ao desfecho violento da marcha desta quinta-feira. Para o ministro, que no ano passado gerou revolta ao chamar os jovens das periferias de Paris de "escória", os baderneiros estão usando os protestos para "vandalizar e atacar". Sarkozy fez as declarações após um discurso em que parabenizou a atuação dos policiais que combateram a violência. Já para o prefeito socialista de Paris, Bertrand Delanoe, a situação é "explosiva". Delanoe acusou o governo conservador de Jacques Chirac de "criar uma situação extremamente perigosa". Chirac, por sua vez, classificou a violência de "intolerável e inaceitável" e ordenou que as autoridades persigam e punam os responsáveis pelos problemas "com a severidade necessária". Como nos protestos que duraram três semanas entre outubro e novembro do ano passado, jovens colocaram fogo em carros - embora em número menor - e enfrentaram a polícia. Coração de Paris Mas, diferentemente dos distúrbios do ano passado, que concentraram-se quase todos nos subúrbios mais pobres, a violência agora acontece no coração de Paris - nas redondezas da Universidade Sorbonne e, na quinta-feira, na Esplanada dos Inválidos, uma vasta planície em frente à tumba onde está enterrado o corpo do imperador Napoleão. Após a marcha de quinta-feira, gangues de jovens e homens mascarados balançando tacos de Beisebol e pedaços de madeira atacaram primeiro as forças policiais, para depois ir para cima dos estudantes. Celulares e câmeras fotográficas foram roubadas. Pedaços de concreto retirados de uma calçada também foram lançados contra os policiais e manifestantes. Feridos Noventa policiais ficaram feridos nesta quinta-feira, disse Sakozy. Já entre os manifestantes, foram 33 feridos - um foi hospitalizado em estado grave, segundo um hospital de Paris. Alguns estudantes acusaram a polícia de não intervir rápido o bastante para dispersar a violência. "Os policiais estão sempre ameaçando a gente, mas quando nós realmente precisamos deles, eles não se movem", disse um jovem estudante de 19 anos. Segundo as autoridades, 630 pessoas foram presas nos confrontos em todo o país, e 227 em Paris. De acordo com Sarkozy, 1.420 pessoas foram presas desde o início das marchas, em 11 de março. Cerca de 453 policiais ficaram feridos. A lei O Contrato Primeiro Emprego foi aprovado neste mês, e deve começar a valer a partir de abril. A lei permite que os empregadores despeçam, durante os dois primeiros anos de trabalho e sem o pagamento de indenizações, os funcionários com menos de 26 anos. Com a medida, o governo espera flexibilizar o mercado de trabalho francês, encorajando assim os empregadores a contratar. Segundo os organizadores do movimento, que temem a precarização das leis trabalhistas, dizem que os protestos continuarão, mesmo com a violência. "Nós somos um movimento pacífico", disse o secretário geral União Nacional dos Estudantes Franceses (UNEF), Anne Delbande.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.