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Criador do fórum de Davos critica Porto Alegre

Por Agencia Estado
Atualização:

O fundador, presidente e principal organizador do Fórum Econômico Mundial de Davos, o suíço Klaus Schwab, disse nesta segunda-feira que o Fórum Social Mundial, realizado pela primeira vez em Porto Alegre em janeiro deste ano, cometeu "um seqüestro negativo" do renome global da instituição por ele dirigida. "É pertubador; de uma forma muito inteligente, você se coloca contra um nome mundial e estabelecido como o do Fórum de Davos, e também se torna conhecido". Para Schwab, "se não houvesse Davos, ninguém teria ouvido falar de Porto Alegre". O fundador do Fórum de Davos diz que se sente "politicamente manipulado" pelo Fórum Social de Porto Alegre, que pode ser realizado novamente na capital gaúcha em janeiro, simultaneamente ao Fórum Econômico Mundial. "Eles criaram uma polarização que eu não aceito", observou Schwab. "O Fórum de Davos não promove a globalização, mas debate a globalização", continuou. Schwab observou que dezenas de representantes da sociedade civil e de organizações não-governamentais (ONGs) participam anualmente de Davos. "Já tivemos em um mesmo debate o Mike Moore (diretor-geral da Organização Mundial de Comércio, OMC) e o organizador das manifestações de Seattle", disse, referindo-se aos conflitos entre militantes antiglobalização e a polícia que marcaram a última e fracassada reunião da OMC. Schwab está em Buenos Aires, onde participa da Cúpula Econômica do Mercosul 2001, promovida pelo Fórum Econômico Global. Em 2002, a Cúpula Econômica do Mercosul deve ser realizada em São Paulo. Schwab relatou o episódio, nos anos 70, no qual convidou Dom Hélder Câmara, o falecido prelado brasileiro conhecido por suas posições de esquerda, para participar de Davos. Na época, recordou, não só os patrocinadores de Davos, que são em boa parte grandes corporações, se opuseram ao convite a Dom Hélder, mas a sua participação teria sido ameaçada por uma lei suíça que proibia "pessoas com visões extremistas" de participar de conferências públicas. A lei não existe mais, segundo Schwab. "Devo dizer que foi preciso coragem para manter o convite a Dom Hélder, mas para mim foi uma questão de princípio; ele tinha uma mensagem, e era possível discordar dela, mas era uma mensagem que eu achava que os chefes das grandes multinacionais deveriam ouvir." De acordo com o seu relato, Dom Hélder acabou indo a Davos, e "fez um pronunciamento muito forte". Esta abertura de Davos a vozes discordantes da globalização, continuou Schwab, é a razão pela qual ele considera "injusta" a polarização que teria sido criada pelo Fórum de Porto Alegre. "Eu sofro muito por causa disso", acrescentou. O presidente do Fórum Econômico Mundial disse também ter ouvido relatos de participantes do Fórum de Porto Alegre de que quando qualquer opinião não afinada com o discurso antiglobalização era expressada, a pessoa era vista como politicamente incorreta. "Em Davos, todo mundo pode expressar a sua opinião, sem ser desconsiderado", disse. Para Schwab, a melhor estratégia para lidar com emergência do Fórum Social Mundial é "sermos fiéis a nós mesmos e continuar a fortalecer a participação da sociedade civil em Davos". "A nossa estratégia é comunicar de uma forma ainda melhor o que somos - uma plataforma única para debater os problemas mundiais, buscar objetivos comuns e colaborar para resolvê-los" afirmou. Schwab garantiu que não teria nenhum problema em conviver com o Fórum de Porto Alegre se este fosse um local de debates aberto, mesmo que com uma inclinação antiglobalização, e que não criasse a polarização com Davos, colocando o Fórum Econômico como um promotor da globalização. "Se fosse assim, eu até participaria do Fórum Social, bastaria que me convidassem", acrescentou. A proibição das manifestações antiglobalização na última reunião de Davos, segundo Schwab, foi uma decisão independente da polícia suíça, depois que ela pediu, e lhe foi negado, a retirada do site de convocação dos protestos de uma incitação explícita à violência.

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