WASHINGTON - O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, conversarão neste sábado, 12, por telefone, confirmou a Casa Branca na noite desta sexta-feira, 11. A informação surge depois que Washington afirmou que a Rússia reuniu tropas suficientes perto da Ucrânia para lançar uma grande invasão nos próximos dias.
"Eles vão falar no sábado de manhã. A Rússia propôs uma ligação na segunda-feira. Fizemos a contraproposta para o sábado, e eles aceitaram", disse, mais cedo, um funcionário do governo à agência Reuters. De acordo com o Kremlin, a conversa está marcada para às 11h dos EUA (horário da Costa Leste, 13h de Brasília).
Pouco antes da conversa deste sábado, os Estados Unidos ordenaram a retirada de quase todos os soldados que mantinham na Ucrânia para "reposicioná-los para outros lugares da Europa", anunciou o porta-voz do Pentágono, John Kirby. De acordo com o Departamento de Defesa, 160 soldados da Guarda Nacional da Flórida "que assessoravam e treinavam as forças ucranianas" foram transferidos para destinos não divulgados.
"Este reposicionamento não constitui uma mudança em nossa determinação de apoiar as forças ucranianas, mas dará flexibilidade para tranquilizar nossos aliados e evitar qualquer agressão", disse Kirby. Desde 2015, os reservistas da Guarda Nacional dos EUA se revezam para treinar o Exército ucraniano junto com os soldados de outros países da Otan, principalmente canadenses e alemães.
Biden deve receber a ligação na residência presidencial de Camp David, no Estado de Maryland, para onde ele foi na tarde desta sexta-feira. Será a primeira conversa direta entre os dois líderes desde 30 de dezembro, quando Biden e Putin delinearam suas diferenças sobre a Ucrânia em um telefonema.
Desta vez, a conversa acontecerá depois que os EUA pediram a seus cidadãos que deixem o território ucraniano nos próximos dois dias devido à "clara possibilidade" de a Rússia atacar a Ucrânia durante os Jogos Olímpicos de Inverno, que estão sendo realizados até o próximo dia 20 de fevereiro, em Pequim.
Antes da reunião com o presidente americano, Vladimir Putin conversou por telefone com o presidente francês, Emmanuel Macron, em mais uma tentativa dos aliados ocidentais de diminuir a pressão em torno da Ucrânia. De acordo com a agência de notícias russas Interfax, a conversa entre Putin e Macron durou 01h40min. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, não forneceu detalhes do que foi discutido entre os dois presidentes, , mas o Palácio do Eliseo informou que Macron e Putin "expressaram vontade" de prosseguir com o diálogo para implementar os acordos de Minsk e as condições para a estabilidade e segurança da Europa.
Ainda de acordo com o Eliseo, Macron disse a Putin "um diálogo sincero não é compatível com uma escalada militar" e "transmitiu as preocupações de seus sócios europeus e aliados".
A Casa Branca alertou para a possibilidade de uma invasão russa à Ucrânia nos próximos dias, provavelmente envolvendo um ataque avassalador contra a capital, Kiev. Biden voltou a pedir que todos os americanos deixem o território ucraniano nas próximas horas. Reino Unido, Japão, Coreia do Sul e Holanda também pediram que seus cidadãos deixem o país imediatamente.
Funcionários do governo americano, ouvidos em sigilo pela PBS, TV publica do país, revelaram que os EUA acreditam que Putin decidiu invadir a Ucrânia e já teria comunicado seus planos aos oficiais militares. Fontes diplomáticas disseram que Biden entrou em contato com líderes de países aliados para dizer que a decisão havia sido tomada. Em seguida, no entanto, Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, afirmou que o Kremlin ainda não havia batido o martelo.
“A maneira como Putin mobilizou suas forças e as colocou no terreno, juntamente com os outros indicadores que coletamos por meio de inteligência, deixa claro que existe uma possibilidade muito alta de que a Rússia deva lançar uma operação militar, e há razões para acreditar que isso pode acontecer em um prazo razoavelmente curto”, disse Sullivan.
Apesar da movimentação intensa de tropas e dos exercícios militares conjuntos com o Exército de Belarus, na fronteira com a Ucrânia, a Rússia nega a intenção de invadir o país vizinho.
Sobre a necessidade de retirar os americanos, Sullivan mandou um recado direto. “Quem ficar, estará assumindo riscos, sem garantias de que haverá outra oportunidade de sair”, disse. “É provável que o ataque comece com bombardeios aéreos e lançamento de mísseis, que podem matar civis sem levar em conta a nacionalidade. Uma invasão terrestre subsequente envolveria uma força maciça, sem aviso prévio. As comunicações para organizar uma retirada seriam prejudicadas e o comércio, interrompido.”
A Casa Branca confirmou que Biden estava telefonando para os aliados da Otan para discutir a crise, as opções que restam de dissuasão e a troca de informações. As agências de inteligência ocidentais acreditam que o objetivo mais provável de uma ofensiva russa seria cercar Kiev e forçar uma mudança de regime logo nas primeiras horas do ataque.
Imediatamente após a ligação de Biden, a chancelaria do Reino Unido pediu que os cidadãos britânicos deixem a Ucrânia de qualquer maneira. O embaixador da Holanda em Kiev, Jennes de Mol, também pediu aos holandeses que fizessem o mesmo. Segundo ele, se a situação sair do controle, quem quiser deixar a Ucrânia deve seguir até Lviv, maior cidade do oeste do país, onde o governo montou um ponto de acolhimento.
Os EUA também decidiram enviar 3 mil soldados adicionais à Polônia para "tranquilizar os aliados da Otan". Os 3 mil soldados da base de Fort Bragg, na Carolina do Norte, tinham sido colocados de prontidão no fim de janeiro a pedido do presidente americano. Eles vão partir "nos próximos dias" e devem chegar à Polônia "no começo da próxima semana", destacou um funcionário, que pediu para ter a identidade preservada.
Conversas iniciais
Neste sábado, 12, diplomatas de ambos os países prepararam o terreno para a conversa. O secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, disse ao colega russo Sergei Lavrov, que os canais diplomáticos permaneceram "abertos" para evitar um conflito na Ucrânia, mas exigiriam que Moscou procedesse a uma "redução de escala", indicou o Departamento de Estado. Uma invasão russa da Ucrânia "resultaria em uma resposta transatlântica determinada, massiva e unida", disse o porta-voz do Departamento de Estado Ned Price, em comunicado.
O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, acusou os Estados Unidos de promoverem "uma campanha de propaganda" sobre o suposto ataque russo à Ucrânia em uma conversa telefônica com seu colega americano, Antony Blinken, neste sábado. "O ministro (Lavrov) enfatizou que a campanha de propaganda lançada pelos Estados Unidos e seus aliados sobre "agressão russa" contra a Ucrânia (...) encoraja as autoridades em Kiev a sabotar os acordos de Minsk", disse um comunicado do Ministério das Relações Exteriores da Rússia divulgado no final da ligação telefônica. / NYT, WP, REUTERS, AP, AFP e EFE