Crise política na Itália derruba euro, bolsas e ameaça economia da Europa

Presidente italiano rejeita governo eurocético e espalha desconfiança nos mercados da Europa; impasse aumenta popularidade de coalizão populista, que pretende aproveitar momento favorável e convocar novas eleições o mais rápido possível

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Por Andrei Netto ,  CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:

A decisão tomada pelo presidente da Itália, Sergio Mattarella, de rejeitar a formação de um governo populista lançou nesta terça-feira, 29, o país em uma crise de confiança que afetou os mercados financeiros da Europa. O euro caiu, as bolsas fecharam em baixa e os rendimentos dos títulos de dez anos da Itália deram um salto.

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Sergio Mattarella, presidente da Itália Foto: Fabio Frustaci/ANSA via AP

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Dois dias após o veto imposto à nomeação do economista Paolo Savona, de perfil “eurocético”, para o Ministério da Economia, a pressão dos partidos majoritários no Parlamento pela realização de novas eleições, somada às pesquisas que apontam o crescimento dos populistas, provocaram queda nas bolsas de valores do continente.

Os sinais de nervosismo apareceram em todos os indicadores. No mercado de câmbio, o euro caiu a US$ 1,16, pior cotação desde julho de 2017. As bolsas caíram. Em Londres, o índice FTSE fechou em baixa de 0,94%. Em Frankfurt, o DAX recuou 1,54% e, em Paris, o CAC 40 perdeu 1,71%. A maior queda foi a da Bolsa de Milão, que fechou em queda de 2,68%, o mais baixo nível desde agosto de 2017. 

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O que parecia ser uma série de más notícias para a Itália e para a União Europeia, no entanto, foi interpretada em Bruxelas como uma “lição” dos mercados financeiros aos eleitores italianos. Em uma declaração que provocou revolta em Roma, o comissário europeu de orçamento, o conservador alemão Günther Oettinger, afirmou que “os mercados ensinarão os italianos a votar melhor”.

“Estou inquieto e espero que, nas próximas semanas, os acontecimentos envolvendo a economia da Itália possam ser tão drásticos que produza um sinal aos eleitores para que não escolham populistas de esquerda ou de direita”, afirmou Oettinger.

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Longe de acalmar os ânimos, a declaração lançou ainda mais gasolina na fogueira italiana. Líder do Movimento 5 Estrelas (M5S), Luigi Di Maio, partido mais votado na eleição de março, atacou a União Europeia por desejar o pior para a Itália e por tentar manipular a democracia italiana. “Pessoas tratam a Itália como uma colônia de férias onde vêm passar o verão. Mas, em alguns meses, nascerá um governo de mudança que, enfim, nos fará ser respeitados na Europa”, advertiu.

Pelo Twitter, Matteo Salvini, líder da Liga, partido de extrema direita, parceiro de coalizão do M5S, foi ainda mais duro com a UE, a qual acusou de estar por trás da decisão de Mattarella de nomear o economista Carlo Cottarelli, ex-diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), ao posto de primeiro-ministro. 

“Em Bruxelas, eles não têm nem vergonha. Vejam se não é uma ameaça. Eu não tenho medo”, disse, reiterando sua estratégia de campanha com base em ataques a Bruxelas.

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Não bastasse a tensão política, a indefinição de uma data para o início do novo processo eleitoral causou fortes críticas terça-feira, 29, em Roma. Recém-nomeado, Cottarelli ainda precisa passar pelo voto de confiança do Parlamento – o que é quase impossível sem o apoio de M5S e Liga. 

Com isso, restará a Cottarelli apenas gerenciar os assuntos correntes e convocar eleições antecipadas. No entanto, para ganhar tempo, especula-se que o voto de confiança só será submetido ao Parlamento no dia 29 de julho, o que empurrará as eleições para setembro ou para o fim do ano. “Queremos a votação o mais rápido possível”, reclamou Di Maio.

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