Cristina ataca Judiciário e diz  que 'não será calada'

Rodeada por governadores, funcionários e militantes, Cristina evitou mencionar abertamente o promotor Alberto Nisman; mas o caso foi pano de fundo para suas críticas contra

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BUENOS AIRES- A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, criticou nesta sexta-feira, 30, o Poder Judiciário e advertiu que não permitirá que "lhe digam que cale a boca", e convocou os argentinos a conviver em "paz" até as eleições de outubro, em seu primeiro ato oficial em um mês.

A presidente argentina, Cristina Kirchner, faz pronunciamento Foto: Alejandro Pagni/AFP

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Rodeada por governadores, funcionários e militantes, Cristina evitou mencionar abertamente o promotor Alberto Nisman, que morreu com um tiro na cabeça em circunstâncias duvidosas no dia 18 após denunciá-la por supostamente acobertar terroristas iranianos.

No entanto, o caso de Nisman, que responsabilizava o Irã pelo atentado de 1994 contra a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia), esteve no cenário de fundo de suas críticas contra o Poder Judiciário e em suas advertências para evitar que conflitos de "países remotos" possam afetar a Argentina. "Ninguém de outro poder pode dizer à presidente que cale a boca e não fale. Vou falar todas as vezes que queira falar", declarou em discurso transmitido em rede nacional.

Cristina respondeu assim ao vice-presidente da Associação de Magistrados, Ricardo Sáenz, que afirmou esta semana que "não é conveniente que (a presidente) siga opinando desta forma. Uma coisa é o debate político e outra coisa é opinar diretamente sobre o caso".

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Tanto a governante como funcionários de seu governo opinaram nos últimos dias sobre o caso, a investigação e as pessoas relacionadas com Nisman. "Acho que é antidemocrático tentar silenciar vozes", disse Cristina, acrescentando que "não me interessa uma democracia sitiada e silenciosa".

A presidente sustentou que a morte de Alberto Nisman inscreve-se em uma conspiração para desestabilizar seu governo e chegou a responsabilizar à "mão negra" dos serviços secretos. Em seu discurso de hoje, a presidente sugeriu que o caso tem um contexto internacional relacionado com "países remotos" que não identificou.

"Apenas peço, por favor, como presidente, como militante e como cidadã, que não permitamos que nos tragam aqui conflitos que estão causando desolação, morte e angústia em outros povos porque não temos essas contradições", afirmou. "Essa sujeira que está aí fora, que ninguém a traga para dentro. Defendamos a Argentina mais que ao governo", continuou.

"Não permitamos que nos dividam", insistiu a presidente, que convocou os argentinos a viver até as próximas eleições, previstas para outubro, "em paz, com tranquilidade, com alegria para que o povo volte a votar e volte a se expressar".

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Cristina Kirchner aproveitou o ato para demonstrar que retomou o manejo da agenda política, com um resumo da gestão do governo e o anúncio do aumento das aposentadorias e de novos acordos com a China, às vésperas de sua visita ao país.

A presidente elogiou também o titular das Aerolíneas Argentinas, Mariano Recalde, duramente criticado pela oposição esta semana por revelar dados da viagem do jornalista Damián Pachter, o primeiro a noticiar a morte de Nisman nas redes sociais e que abandonou o país argumentando que temia por sua segurança.

Antes de concluir, Cristina Kirchner insistiu que não cederá perante as críticas e os insultos e que segue "à frente do barco". "Estou um pouco avariada, como na batalha naval, mas jamais afundada", concluiu a presidente, que interrompeu várias vezes seu discurso pelos cantos dos militantes que abarrotavam a Casa Rosada e que esperaram, em vão, que ela aparecesse nas varandas da sede do Executivo. / EFE