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Cristina volta à mira da Justiça em caso levantado por Nisman

Promotor deu razão a recurso de colega sobre a denúncia de encobrimento de iranianos no caso Amia

Por Rodrigo Cavalheiro , correspondente e Buenos Aires
Atualização:
Presidente usou o Facebookpara se defender após ter sido indiciada pelo caso Amia Foto: AFP PHOTO / ALBERTO PIZZOLI

BUENOS AIRES - O promotor Germán Moldes deu razão nesta quinta-feira, 19, ao recurso de seu colega Gerardo Pollicita e recolocou nas mãos da Justiça argentina a denúncia por encobrimento feita por Alberto Nisman quatro dias antes de ser encontrado morto com um tiro na cabeça, em 18 de janeiro.

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A acusação que envolve a presidente Cristina Kirchner, o chanceler Héctor Timerman e outros dirigentes kirchneristas chegou a ser rejeitada pelo juiz Daniel Rafecas no dia 26 de fevereiro. Ele argumentou que o pacto entre Argentina e Irã para que iranianos acusados pelo atentado contra a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia), que matou 85 em 1994, fossem ouvidos em Teerã nunca foi colocado em prática. Segundo Rafecas, a tese de Nisman, de que o acordo era uma fachada para uma aproximação comercial, nunca se concretizou. Ele também alegou que os pedidos de captura de alguns acusados pela Interpol, que segundo o promotor morto seriam removidos pelo governo para que os negócios avançassem, continuaram valendo.

O bloqueio à investigação foi alvo de apelação do promotor Gerardo Pollicita, que no dia 13 de fevereiro havia impulsionado a denúncia de Nisman e indiciado os envolvidos. Sobre esse recurso decidiu agora Moldes com críticas ao juiz Rafecas, a quem considerou "inusualmente apressado". A oposição havia criticado a velocidade e a dureza com que Rafecas, envolvido em processos administrativos que podem lhe custar o cargo, havia decidido a favor do governo. Moldes pede ao tribunal que rejeite a decisão de Rafecas e siga a apuração.

"Um magistrado inusualmente apressado enervou todo o processo e chegou à conclusão - sem pedir a produção de nenhuma prova - de ausência de delito", escreveu. Moldes complementou: "É necessário investigar, pôr em movimento o processo e desentranhar o acontecimento que chegou a nosso conhecimento".

A autoridade de Moldes para trabalhar no caso foi contestada por dois dos indiciados, Andrés Larroque, pertencente à juventude kirchnerista La Cámpora, e Ramón Bogado, que o consideraram sem isenção suficiente por ter sido um dos líderes da marcha de 18 de fevereiro, uma homenagem a Nisman considerada um ato opositor pelo kirchnerismo. A argumentação deles foi ignorada pelo tribunal, sob alegação de que essa isenção se exigiria de um juiz, não de um promotor.

A expectativa recai agora sobre a sala 1 da câmara federal de Justiça, que decidirá o futuro da denúncia. A sala é composta por três juízes: Eduardo Freiler, Jorge Ballestero e Eduardo Farah. Segundo o jornal La Nación, eles mantêm certa afinidade com o governo, mas são os mesmos que declararam a inconstitucionalidade do acordo com o Irã na causa AMIA - nunca aprovado pelo Congresso iraniano - e confirmaram o processo contra o vice-presidente argentino, Amado Boudou, em um caso em que ele responde por corrupção, duas decisões contrárias aos interesses da presidente Cristina.

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