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Cubanos ficam entre esperança e ceticismo com acordo bilateral

Ânimo é visível entre mais jovens, enquanto gerações mais velhas mostram desconfiança na queda do embargo

Por Rodrigo Cavalheiro e HAVANA
Atualização:
Homem hasteia bandeira de Cuba em Miami, na Flórida Foto: Joe Reedle/AFP

No dia seguinte ao anúncio de medidas para retomar a normalidade das relações entre Estados Unidos e Cuba, a União Europeia deu sinais de que vai acelerar negociações para seguir a mesma direção. O presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, afirmou ontem que o bloco deve avançar para relação mais profunda com os cubanos.

"Agora, podemos colocar as coisas em ordem", disse Schulz. Europeus e cubanos retomaram diálogo em abril. Sem grandes avanços, as conversas ganharam novo impulso quando Barack Obama e Raúl Castro discursaram na quarta-feira.

Schulz reconheceu que a questão dos direitos humanos na ilha tem peso, mas a situação não deve ser entrave para os negócios. "Infelizmente, Cuba não é o único país que não respeita os direitos humanos com quem temos relações econômicas, políticas, sociais e culturais."

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Esperança.

O grau de confiança dos cubanos na reaproximação com os Estados Unidos e na mudança no cotidiano é variável, mas obedece a pelo menos um critério: o geracional. No dia seguinte ao anúncio feito por Obama e Raúl, os olhos dos jovens brilhavam com a perspectiva de conhecer a tecnologia apresentada basicamente em novelas velhas vistas em televisores antigos. Os mais velhos, contemporâneos da revolução de 1959, tinham toda espécie de ressalva ao acordo.

Na mesa de informações do Aeroporto José Martí, em Havana, Luis Martínez, de 65 anos, exibia com orgulho a edição do Granma. "Volvieron! (voltaram)", manchetou o principal veículo do regime comunista, uma alusão a uma promessa feita por Fidel Castro. O ex-presidente cubano, que passou o poder ao irmão Raúl em 2008, disse em 2001 que espiões capturados pelos EUA tratados como heróis no país, regressariam. "O comércio vai aumentar, pela entrada de dinheiro, mas a revolução seguirá. Nos acusam de ter só um partido, e é verdade, mas os EUA têm dois que são iguais. Nosso regime político não mudará", ponderava.

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Martínez vende guias de Havana e o aumento de visitantes previsto com o acordo o beneficiaria - está previsto que as viagens de americanos serão liberadas. Mas nem isso o faz apostar numa "revolução" capitalista. "Obama quer marcar seu governo por isso, mas não pode derrubar o embargo, que é uma lei do Congresso. Em dois anos, os republicanos vencem a eleição e anulam tudo."

O motorista José González, de 57 anos, outro que vive do turismo, também condicionou mudanças reais ao fim do embargo. "Nós cubanos deveríamos ter mais a cultura de esperar e ver o que vai acontecer. Só sei que eles (os espiões soltos) resolveram seus problemas, mas eu continuo tendo que pagar ao Estado o aluguel do táxi.". Ele paga o equivalente a US$ 50 dólares por dia ao governo para manter o veículo e reclama do que sobra.

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