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De olho em Londres

A premiê Theresa May será observada por todos os telescópios da Europa

Por Gilles Lapouge , Correspondente e Paris
Atualização:

Nós já conhecemos os chefes de Estado da Europa. Conhecemos os cabelos tingidos de François Hollande e os trajes de monja de Angela Merkel. Agora uma nova figura entra na roda, a inglesa Theresa May, que substituiu David Cameron, o conservador que deixou o cargo em razão do Brexit. Não espanta, portanto, que ela seja examinada por todos os telescópios do Velho Continente.

May realizou sua primeira viagem à Europa continental. Esteve em Berlim com Angela Merkel. E ontem no Palácio do Eliseu. Com Angela Merkel a inglesa tem um ponto comum: as duas são filhas de pastor, luterano no caso da alemã, anglicano da inglesa. Ninguém duvida que esse traço similar tem muita importância.

Merkel recebe em Berlim a nova premiê britânica, Theresa May (E) Foto: REUTERS/Hannibal Hanschke

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Mas, na questão do “look” as duas mulheres são bem diferentes. A inglesa apareceu com um batom vermelho, unhas pintadas, um imenso colar de pérolas e joias. A seu lado, a chanceler alemã, com seus trajes austeros parecia uma prima que chegou do interior. 

O interesse era saber dela sobre o Brexit, pois, nesse aspecto, os britânicos se serviram amplamente do gênio bizarro que faz o encanto de três quartos da sua literatura. Analisemos: Cameron decide convocar um referendo sobre a Europa, esperando que os ingleses votassem em favor da permanência do Reino Unido na União Europeia. Ora, o Brexit ganha. Cameron perde, e renuncia ao cargo de premiê.

Mas que deputado conservador o substituiria? Um daqueles que fizeram campanha em favor da saída da Grã-Bretanha da UE, por exemplo o prefeito de Londres, Boris Johnson, político de cabelos de fogo e maluco. Mas não. Boris rejeitou assumir o cargo e então foi nomeada para a função a deputada Theresa May, conhecida por ser contra o Brexit e em favor da UE.

Esta é a questão: a nomeação de uma adversária do Brexit para ocupar Downing Street 10, significa que a Grã-Bretanha, apesar dos resultados do referendo, vai ignorar os resultados da votação e se manter na União Europeia?

Questionada a respeito, May não vacilou: “Brexit quer dizer Brexit”. Ou seja, ela deixa de lado suas preferências. Aplicará a linha escolhida pelo povo inglês. A Grã-Bretanha sairá da UE, mas o fará tranquilamente, sem pressa nem nervosismo. May afirmara que a chanceler alemã compreenderia essa exigência. E não se enganou. Merkel não é apenas uma negociante de primeira linha, mas adora esse exercício intelectual, sobretudo quando seus adversários são tenazes. Digamos que, com a Grã-Bretanha de May, Merkel estará bem servida.

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Eis uma característica da primeira-ministra que detectamos a partir das suas primeiras aparições no palco europeu. A britânica, mesmo que seja uma pessoa cortês, com joias e batom, gosta do diálogo franco. Os que convivem com ela há alguns anos já preveniram. Por exemplo, o conservador Ken Clarke a qualifica como “uma mulher extremamente difícil.

Ela defende suas posições com dureza, unhas e dentes (será um traço comum às filhas de pastor?).

Para ela é indiferente se seus interlocutores a apreciam ou não. Mesmo na escolha de seus ministros, isso ficou evidenciado. Não é uma pessoa que se pode dizer, “se você me nomear secretário de Estado terá o meu apoio”. Um de seus parentes afirma que “no caso dela é ‘aceita ou não?’”. E um de seus admiradores completou seu retrato com palavras menos amáveis: “Ela pode ser absolutamente enervante”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO   

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