Nós já conhecemos os chefes de Estado da Europa. Conhecemos os cabelos tingidos de François Hollande e os trajes de monja de Angela Merkel. Agora uma nova figura entra na roda, a inglesa Theresa May, que substituiu David Cameron, o conservador que deixou o cargo em razão do Brexit. Não espanta, portanto, que ela seja examinada por todos os telescópios do Velho Continente.
May realizou sua primeira viagem à Europa continental. Esteve em Berlim com Angela Merkel. E ontem no Palácio do Eliseu. Com Angela Merkel a inglesa tem um ponto comum: as duas são filhas de pastor, luterano no caso da alemã, anglicano da inglesa. Ninguém duvida que esse traço similar tem muita importância.
Mas, na questão do “look” as duas mulheres são bem diferentes. A inglesa apareceu com um batom vermelho, unhas pintadas, um imenso colar de pérolas e joias. A seu lado, a chanceler alemã, com seus trajes austeros parecia uma prima que chegou do interior.
O interesse era saber dela sobre o Brexit, pois, nesse aspecto, os britânicos se serviram amplamente do gênio bizarro que faz o encanto de três quartos da sua literatura. Analisemos: Cameron decide convocar um referendo sobre a Europa, esperando que os ingleses votassem em favor da permanência do Reino Unido na União Europeia. Ora, o Brexit ganha. Cameron perde, e renuncia ao cargo de premiê.
Mas que deputado conservador o substituiria? Um daqueles que fizeram campanha em favor da saída da Grã-Bretanha da UE, por exemplo o prefeito de Londres, Boris Johnson, político de cabelos de fogo e maluco. Mas não. Boris rejeitou assumir o cargo e então foi nomeada para a função a deputada Theresa May, conhecida por ser contra o Brexit e em favor da UE.
Esta é a questão: a nomeação de uma adversária do Brexit para ocupar Downing Street 10, significa que a Grã-Bretanha, apesar dos resultados do referendo, vai ignorar os resultados da votação e se manter na União Europeia?
Questionada a respeito, May não vacilou: “Brexit quer dizer Brexit”. Ou seja, ela deixa de lado suas preferências. Aplicará a linha escolhida pelo povo inglês. A Grã-Bretanha sairá da UE, mas o fará tranquilamente, sem pressa nem nervosismo. May afirmara que a chanceler alemã compreenderia essa exigência. E não se enganou. Merkel não é apenas uma negociante de primeira linha, mas adora esse exercício intelectual, sobretudo quando seus adversários são tenazes. Digamos que, com a Grã-Bretanha de May, Merkel estará bem servida.
Eis uma característica da primeira-ministra que detectamos a partir das suas primeiras aparições no palco europeu. A britânica, mesmo que seja uma pessoa cortês, com joias e batom, gosta do diálogo franco. Os que convivem com ela há alguns anos já preveniram. Por exemplo, o conservador Ken Clarke a qualifica como “uma mulher extremamente difícil.
Ela defende suas posições com dureza, unhas e dentes (será um traço comum às filhas de pastor?).
Para ela é indiferente se seus interlocutores a apreciam ou não. Mesmo na escolha de seus ministros, isso ficou evidenciado. Não é uma pessoa que se pode dizer, “se você me nomear secretário de Estado terá o meu apoio”. Um de seus parentes afirma que “no caso dela é ‘aceita ou não?’”. E um de seus admiradores completou seu retrato com palavras menos amáveis: “Ela pode ser absolutamente enervante”. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO