Deficiência de Scioli entra na campanha

Randazzo, rival por indicação kirchnerista, falou de 'projeto manco'; governador lidera pesquisas

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Por Rodrigo Cavalheiro , CORRESPONDENTE e BUENOS AIRES
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Um argentino que conhece o governador de Buenos Aires, Daniel Scioli, sabe que ele não tem o braço direito. Sabe que o perdeu em 1989, quando disputava uma competição de lanchas e tem lá sua prótese, que tira para jogar futebol nos fins de semana. O tema, que todo mundo conhece, mas do qual ninguém fala, foi tocado pelo único kirchnerista que ameaça a indicação de Scioli a candidato governista à presidência - ambos disputam a prévia em agosto. Numa gravação divulgada ontem de uma reunião no sábado, o ministro dos Transportes, Florencio Randazzo, refere-se a um "projeto manco", minutos depois de repetir com ironia termos usados por Scioli, como "otimismo", "produção", "consenso" e "diálogo". O kirchnerismo duro, que apoia Randazzo, considera Scioli um moderado incapaz de comprar brigas, algo indissociável dessa corrente peronista. Diante das gargalhadas da plateia, um grupo de intelectuais governistas chamado Carta Aberta, Randazzo faz um sinal de que não se refere à deficiência do rival, mas também começa a rir. "Não digo isso por alguma razão. Saiu bem, mas não (foi intencional)", afirmou. Numa entrevista na noite de terça-feira, a mulher de Scioli, a ex-modelo Karina Rabolini ficou surpresa ao ver o vídeo ao vivo em um programa de TV e se emocionou. "Não há pessoa mais íntegra e completa que Daniel. Não se pode brincar com a deficiência de alguém." Randazzo defendeu-se no Twitter. Disse que falava do projeto kirchnerista - realmente, ele fala de "projeto manco" após a operação de Cristina, a derrota eleitoral em 2013 e a impossibilidade de ela ser reeleita, mas começa a rir. "Um político com a experiência dele não se engana com essa palavra. Ele quis dizer que é o único que pode completar o projeto kirchnerista", avalia o analista político Carlos de Angelis, da Universidade de Buenos Aires (UBA). Randazzo pediu desculpas, mas não evitou um recado, interpretado como uma bronca sutil da chefe, ao lado dele ontem em uma inauguração de trens: "Quero ouvir de meus aliados ideias, não bobagens".

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