Diplomatas e políticos criticam cortes de Tillerson

Democratas e republicanos dizem que reforma do Departamento de Estado prejudica capacidade dos EUA de exercerem liderança globa

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Por Cláudia Trevisan
Atualização:

Chefe da diplomacia da maior potência global, o secretário de Estado americano, Rex Tillerson, é desautorizado em público pelo presidente Donald Trump, criticado por parlamentares republicanos e democratas e visto por muitos dos funcionários que comanda como um outsider que está provocando danos irreparáveis à capacidade dos EUA de exercerem liderança global.

No mês passado, uma diplomata em ascensão renunciou, sob o argumento de que o governo abandonou a promoção da democracia e direitos humanos e cedeu lugar ao Pentágono na elaboração da política externa. A presidente da associação que representa os diplomatas, Barbara Stephenson, alertou para o que considera “ameaças crescentes” à instituição, na forma da redução de pessoas em posição de liderança e escalões intermediários e do congelamento de novas contratações.

U.S. Secretary of State Rex Tillerson speaks to media during a stakeout after attending the UN Security Council Ministerial Briefing on Non-Proliferation and the DPRK, at the United Nations, on December 15, 2017, in New York. / AFP PHOTO / EDUARDO MUNOZ ALVAREZ 

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 De setembro a novembro, o número de ministros-conselheiros caiu de 431 para 359, disse Stephenson em artigo publicado no Jornal do Serviço Exterior. O quadro de embaixadores de carreira que servem em Washington passou de 5 para 2 e o de ministros foi reduzido de 33 para 19.

Quase um ano depois do início do governo, ainda há inúmeros cargos vagos, ocupados por pessoas que desempenham as funções de maneira interina. Entre eles, está o de secretário-assistente para o Hemisfério Ocidental, responsável pela política dos EUA para as Américas. “Honduras está passando por uma crise política e não temos embaixador lá”, observou Eric Farnsworth, vice-presidente do Conselho das Américas.

Em carta enviada a Tillerson no mês passado, democratas da Comissão de Relações Exteriores da Câmara alertaram para o “êxodo de mais de cem” servidores de carreira desde janeiro. “A rápida perda de tantos funcionários de alto escalão tem um efeito sério, imediato e tangível na capacidade dos EUA de moldarem eventos mundiais”, escreveu Stephenson, da Associação do Serviço Exterior Americano.

A diplomata que renunciou é Elizabeth Shackelford, que havia entrado no Departamento de Estado em 2010 e servia em Nairóbi, Quênia, de onde atuava na Somália. Em carta divulgada na semana passada pela revista Foreign Policy, ela criticou o corte de pessoal promovido por Tillerson e o vê como desrespeito do governo Trump pela diplomacia. “O departamento é uma instituição duradoura e vital. Tenho certeza de que ele vai resistir e superar esse período de marginalização, mas as consequências afetarão nossa liderança global e nosso status no exterior por muito anos”, escreveu Shackelford.

 Peter Hakim, presidente emérito do Diálogo Interamericano, disse que há “certo vazio” no Departamento de Estado e falta de consistência na política externa. “O governo invoca direitos humanos e democracia nos casos de Cuba e Venezuela, mas não para o restante da região.” Em sua avaliação, Tillerson perdeu a credibilidade e se transformou em alvo de parlamentares de ambos os partidos, insatisfeitos com a “reestruturação” do Departamento de Estado promovida por ele.

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Em carta enviada ao secretário no mês passado, os senadores John McCain (republicano) e Jeanne Shaheen (democrata) ressaltaram que o Congresso ainda não foi consultado sobre o plano de Tillerson, um ex-CEO da Exxon Mobil que nunca havia ocupado um cargo público. “O poder diplomático dos EUA está sendo enfraquecido internamente, enquanto crises globais complexas crescem externamente”, escreveram.

O Departamento de Estado questionou a narrativa de redução generalizada de funcionários e disse que o objetivo de Tillerson é tornar o órgão “mais eficiente” e “mais efetivo”. Dados oficiais mostram que o número de funcionários em todo o mundo está em 74.880, pouco abaixo dos 75.231 registrados em 2016. Mas as estatísticas confirmam a redução em posições de comando apontada pela Associação do Serviço Exterior Americano.

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