FBI não encontra evidências de espionagem contra Trump, diz diretor

James Comey e o chefe da NSA negam que o governo de Barack Obama tenha colocado escutas na Trump Tower e confirmam investigação sobre possíveis ligações entre a campanha do republicano e a Rússia

PUBLICIDADE

Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
Atualização:

WASHINGTON - O diretor do FBI, James Comey, desafiou o presidente americano, Donald Trump, publicamente nesta segunda-feira, 20, e disse que a agência sob seu comando e o Departamento de Justiça não possuem nenhuma informação que sustente a acusação do presidente de que seu antecessor, Barack Obama, grampeou seus telefones durante a eleição de 2016. Em depoimento na Comissão de Inteligência da Câmara dos Deputados, ele afirmou que nenhum ocupante da Casa Branca tem poder de ordenar diretamente a realização de escuta telefônica.

"Não tenho informações que sustentem esses tuítes", afirmou o diretor de FBI, se referindo às mensagens publicadas por Trump acusando Obama de espioná-lo durante a campanha do ano passado. O chefe da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), Mike Rogers, que também responde perguntas no Congresso, concluiu que "as alegações de Trump não fazem sentido" e negou que o governo Obama tenha pedido à inteligência britânica para realizar qualquer tipo escuta envolvendo Trump, se referindo a outra acusação do republicano.

O diretor do FBI, James Comey (E), e o diretor da Agência de Segurança Nacional, Mike Rogers, respondem questionamentos de legisladores que investigam interferência russa na eleição americana Foto: AFP PHOTO / MANDEL NGAN

PUBLICIDADE

O porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, havia citado em entrevistas coletivas na semana passada uma afirmação feita por um comentarista da emissora "Fox" sobre as acusações de Trump de que Obama grampeou sua linha telefônica na Trump Tower, em Nova York. Rogers explicou que tal pedido de escutar um cidadão americano estaria "expressamente contra" os acordos de inteligência com os britânicos e outros aliados próximos. 

Além de negar as duas acusações, Comey submeteu Trump a outro constrangimento público ao confirmar a existência de investigação sobre contatos e possível "coordenação" entre integrantes de sua campanha e a Rússia para interferir na eleição presidencial americana com o objetivo de prejudicar a candidata democrata, Hillary Clinton. 

Poucas horas antes do início do depoimento de Comey, Trump tuitou que a "história russa" foi inventada pelos democratas para justificar a derrota do partido na disputa pela Casa Branca. Desde antes de sua posse, ele tem atacado de maneira recorrente os relatos de que a Rússia atuou para beneficiá-lo, o que vê como uma tentativa para deslegitimar sua vitória.

O FBI não costuma confirmar nem negar a existência de investigações, especialmente se elas envolvem informação confidencial. Mas exceções podem ser abertas em "circunstâncias inusuais, quando isso é do interesse público", afirmou Comey. "Essa é uma dessas circunstâncias."

Segundo ele, a investigação foi iniciada em julho no âmbito da missão de "contra-inteligência" do FBI. Isso significa que o objetivo é determinar se indivíduos ligados a Trump atuaram como agentes de um governo estrangeiro contra os interesses dos EUA, o que constitui crime.

Publicidade

Apesar de não dar detalhes da investigação, Comey fez uma série de afirmações sobre as intenções do presidente russo, Vladimir Putin, que deixaram Trump em posição desconfortável. "Putin odiava tanto a secretária Clinton que o outro lado da moeda era que ele tinha uma clara preferência pela pessoa que disputava contra a pessoa que ele odiava."

Em janeiro, as agências de inteligência dos EUA concluíram que o presidente russo, Vladimir Putin, estava por trás das tentativas de interferir no processo eleitoral americano. Não havia confirmação, até agora, se a possível relação entre Moscou e a campanha de Trump estavam sob investigação.

Versões. O presidente da Comissão da Inteligência da Câmara dos Deputados dos EUA, o republicano Devin Nunes, iniciou a primeira audiência pública realizada no Congresso sobre o caso afirmando que "não havia evidências até o momento de que membros da campanha (de Trump) conspiraram com agentes russos".

O congressista Adam Schiff, o democrata de mais alta categoria da comissão, disse que "os russos se intrometeram com sucesso" na democracia americana e alertou que eles "vão fazê-lo de novo". Schiff citou uma a uma as relações entre membros da campanha de Trump e o governo russo, mas ressaltou que as investigações não esclareceram se esses encontros eram para elaborar uma ação coordenada para influenciar nos resultados eleitorais.

PUBLICIDADE

O democrata citou, além dos já comprovados vínculos do ex-assessor de Segurança Nacional de Trump, Michael Flynn, que provocaram a renúncia dele do Cargo, as reuniões com o embaixador russo em Washington que o agora procurador-geral dos EUA, Jeff Sessions, omitiu do Senado e também as remodelações do programa eleitoral republicano em relação às posições sobre a Ucrânia.

"É possível que todos esses eventos e informações estejam completamente desvinculados e não sejam mais do que uma infeliz coincidência. É possível. Mas também é possível que eles estejam ligados e é um dever com o nosso país investigá-los", afirmou./ COM AP, REUTERS e EFE

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.