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Dissidentes são céticos sobre reaproximação

Associações de direitos humanos elogiam a 'mudança histórica' nas relações entre Cuba e EUA; em Miami, cubanos rejeitam a medida

Por Guilherme Russo
Atualização:

HAVANA - Os dissidentes do governo de Cuba que vivem na ilha reagiram com desconfiança ontem ao anúncio dos presidentes Raúl Castro e Barack Obama sobre a normalização das relações entre Havana e Washington. Alguns rejeitaram completamente a medida, enquanto outros preferiram esperar mais desdobramentos da mudança, para avaliar com calma como isso influenciará a situação dos direitos humanos em Cuba. "Temos de ver que atitudes o governo de Raúl Castro vai tomar dentro da ilha daqui por diante", afirmou ao Estado o dissidente Elizardo Sánchez, presidente da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN), que se mostrou cético diante do anúncio da libertação dos 53 cubanos considerados presos políticos pelos EUA e o eventual levantamento do embargo de Washington. O dissidente Guillermo Fariñas - que em 2010 ganhou o Prêmio Sakharov para Liberdade de Pensamento, conferido pelo Parlamento Europeu - declarou que a aproximação dos EUA a Cuba será uma "traição" se isso significar o cancelamento do bloqueio contra a economia cubana.

Os presidentes Barack Obama e Raúl Castro anunciaram nesta quarta-feira, 17, a retomada das relações diplomáticas entre Estados Unidos e Cuba Foto: AFP

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"Se o reestabelecimento das relações diplomáticas entre Cuba e EUA servir para se obter o levantamento do embargo econômico, financeiro e comercial deflagrado para se obter a democracia em Cuba, isso é uma traição ao povo de Cuba e a todos os que caíram, estão presos e lutam pela democracia na ilha. Porque o importante é pressionar o governo cubano, que está em um estado praticamente de colapso, para que siga na direção de um estado de direito", afirmou Fariñas. Ele coordena em Santa Clara o Fórum Antitotalitário Unido e representa a União Patriótica Cubana (Unpacu), entidade dissidente que pretende concentrar a oposição no país.

Cubanos que vivem em Miami também rechaçaram a reaproximação entre Havana e Washington. Em um comunicado, o secretário executivo do Diretório Democrático Cubano, Orlando Gutiérrez-Boronat qualificou a "troca" dos "três espiões terroristas" presos nos EUA por Gross como "um grave erro".

ONGs.

"A Human Rights Watch (HRW) considera positiva a decisão do presidente Obama de revisar a política dos EUA em relação a Cuba e pedir ao Congresso que finalmente considere o levantamento do fracassado embargo, um passo que defendemos há muitos anos. Em vez de melhorar a situação dos direitos humanos em Cuba, o embargo somente impôs dificuldades ao povo cubano, enquanto fornecia ao governo castrista um pretexto para seus muitos abusos. Claramente, uma nova abordagem dos EUA e da comunidade internacional é necessária para ajudar a pôr um fim a décadas de abusos do Estado na ilha", declarou o presidente da HRW, José Miguel Vivanco.

A Anistia Internacional elogiou a "troca de prisioneiros" entre Cuba e EUA, qualificando a medida como o primeiro passo para uma "mudança histórica para os direitos humanos". /

COM AFP E EFE

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