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DNA achado em arma era só de Nisman

Investigação da Justiça argentina não encontra outros rastros em revólver ligado à morte

Por ARIEL PALACIOS , CORRESPONDENTE e BUENOS AIRES
Atualização:

A promotora Viviana Fein, que investiga a morte do promotor federal Alberto Nisman, no dia 18, com uma bala na cabeça, anunciou ontem que os únicos vestígios de DNA encontrados na arma calibre 22 eram do próprio Nisman. Desta forma, os peritos não encontraram nem mesmo rastros genéticos do dono da arma, o técnico em informática Diego Lagomarsino, que emprestou a arma ao promotor na véspera de sua morte. A promotora também confirmou que as escadas do edifício onde Nisman morava, no bairro de Puerto Madero, não têm câmeras de segurança. Além disso, as câmeras do elevador de serviço não estavam funcionando no fim de semana da morte de Nisman. Dias antes da morte, Nisman havia denunciado a presidente Cristina Kirchner por ter ordenado em 2012 um suposto acobertamento de um grupo de altas autoridades iranianas que teriam realizado em 1994 o atentado contra a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia). Na semana passada, a promotora Fein declarou que não existiam sinais de pólvora na mão direita de Nisman, embora essa mão - na hipótese de suicídio - tivesse supostamente sido usada para disparar a arma. Enquanto isso, o governo da presidente Cristina Kirchner aponta Lagomarsino como o principal suspeito da misteriosa morte do promotor federal. No início da semana a presidente Cristina Kirchner, em rede nacional de TV, insinuou que Lagomarsino e Nisman eram "amigos íntimos". Além disso, Cristina, tentou enquadrar o técnico como um "opositor", citando tuítes que Lagomarsino havia postado em sua conta pessoal de Twitter de maio de 2013, ofendendo a presidente argentina.

Dias antes da morte, Nisman havia denunciado a presidente Cristina Kirchner por ter ordenadoacobertamento de um grupo iranianoque teriarealizadoatentado contra a Associação Mutual Israelita-Argentina (Amia); Morte do promotor gerou série de protestos pelo país Foto: EFE

A presidente também afirmou que o irmão dele era um "alto executivo" de uma empresa associada ao Grupo Clarín, holding multimídia que considera seu "inimigo número 1". No entanto, o irmão de Lagomarsino não era um alto executivo, mas um freelancer da empresa que nunca teve vínculos de sociedade com o Clarín. O secretário-geral da presidência, Aníbal Fernández, também criticou Lagomarsino. "Esse moço começa a nos preocupar, pois fazia serviços de inteligência nas marchas de Cromañón", em referência aos protestos feitos desde 2004 pelos parentes das vítimas de um incêndio em uma discoteca em Buenos Aires, que eram seguidos de perto pelos serviços de inteligência durante o governo do então presidente Néstor Kirchner (2003-2007). Cristina, que na segunda-feira anunciou um projeto de lei para dissolver a Secretaria de Inteligência (SI) para substituí-la por uma estrutura totalmente nova, a Agência Federal de Inteligência (AFI), assinou um decreto que aumenta os salários dos espiões a partir de amanhã. Os 2 mil agentes de inteligência orgânicos da SI serão transferidos para a AFI. Mas a nova agência ficará sem as prerrogativas atuais para os grampos telefônicos, que passaria para a Procuradoria-Geral da República, comandada por Alejandra Gils Carbó, declarada militante kirchnerista. Cristina, em discurso de uma hora de duração ontem na Casa Rosada, o palácio presidencial, não fez referências diretas ao caso Nisman. No entanto, fez alusões às investigações da Justiça argentina sobre a participação de iranianos no atentado contra a Amia: "Não vamos trazer para cá o drama de outras regiões, remotas, deste planeta, onde existem pessoas que jogam bombas umas nas outras, além de mísseis, e onde se tortura e se mata". Cristina rebateu as críticas feitas pela Associação de Magistrados sobre seus comentários sobre o caso Nismam, entre os quais o de indicar Lagomarsino como suspeito, que foram considerados uma "interferência" na Justiça: "Ninguém pode dizer à presidente que não fale. Eu vou continuar falando!" Cristina, sem explicitar o contexto, também afirmou que está "avariada - como em uma batalha naval -, mas jamais afundada".

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