Documentos de Israel sobre Irã são 'autênticos' e 'reais', dizem EUA; França pede transparência

Secretário de Estado americano, Mike Pompeo, alega que acordo com iranianos foi negociado com base em mentiras; Agência Internacional de Energia Atômica diz não haver 'indicação crível' de que Teerã tentou desenvolver arma nuclear após 2009

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WASHINGTON - O governo dos Estados Unidos disse que os documentos sobre um suposto programa nuclear secreto do Irã revelados na segunda-feira pelo primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, são "reais" e "autênticos".

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"Eu sei que há gente que diz que estes documentos não são autênticos. Posso confirmar que estes documentos são reais; são autênticos", disse o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, a jornalistas em sua viagem de volta da sua primeira excursão internacional.

Pompeo cumprimenta Netanyahu; secretário de Estado dos EUA garantiu autenticidade de documentos coletados pelo Mossad, serviço de espionagem israelense Foto: Thomas Coex, AFP via AP-29/4/2018

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Teerã "mentiu repetidamente para a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA)" e "mentiu sobre seu programa aos seis países com os quais negociou" o acordo nuclear de 2015, afirmou Pompeo, ex-diretor da CIA, em comunicado posterior.

"O que isto significa é que o acordo não foi construído sobre uma base de boa fé ou transparência, foi construído sobre as mentiras do Irã", acrescentou o secretário de Estado.

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Pompeo anunciou que nos próximos dias estará em contato com os parceiros europeus que assinaram o acordo com o Irã (Alemanha, França e Reino Unido) para estabelecer "a melhor maneira de seguir a luz" dos documentos de Israel.

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Trump planeja anunciar antes do próximo dia 12 se retira os Estados Unidos do acordo nuclear assinado com o Irã pelo seu antecessor, Barack Obama, em 2015, ao lado da Alemanha, França, China, Rússia e Reino Unido, e que está destinado a conter as atividades atômicas de Teerã em troca de um alívio das sanções.

Muito crítico a esse acordo, Trump afirmou na segunda-feira que a situação "não é aceitável". "O que aprendemos hoje sobre o Irã demonstra realmente que eu tinha 100% de razão", disse.

Estas declarações chegaram depois que Netanyahu revelou documentos que supostamente mostram que o Irã tem um programa secreto de desenvolvimento de armas nucleares, e assegurou que Teerã está enganando ao mundo. 

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Nesta terça, no entanto, a AIEA reiterou que "não há nenhuma indicação crível de atividades no Irã ligadas ao desenvolvimento de uma arma nuclear após 2009", em resposta às acusações israelenses.

Um porta-voz da AIEA afirmou que seu conselho "declarou ter encerrado sua análise sobre esta questão" após o relatório que lhe foi apresentado em dezembro de 2015.

Paris

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A França pediu nesta terça ao Irã uma "cooperação total" e transparência após as acusações de Netanyahu, cujas declarações reforçam a importância do acordo assinado em 2015 por Teerã com as potências mundiais.

Para a França, a pertinência do pacto é reforçada pelos elementos apresentados por Israel, pois "todas as atividades vinculadas ao desenvolvimento de uma arma nuclear estão proibidas pelo acordo de maneira permanente".

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Essas informações "deverão ser estudadas e analisadas em detalhes", segundo um comunicado do Ministério de Relações Exteriores francês.

"Em uma primeira análise, confirma que parte do programa nuclear iraniano não tinha fins civis, como a França e os seus parceiros constataram após as primeiras revelações de 2002" e essa conclusão foi a que guiou a negociação do pacto de Viena de julho de 2015, explica a nota.

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As autoridades francesas consideraram "essencial" que a AIEA possa seguir verificando o respeito a esse compromisso e o "caráter pacífico" do programa nuclear do país. "As novas informações apresentadas por Israel poderiam confirmar igualmente a necessidade de garantias a longo prazo sobre o programa iraniano, como propôs o presidente da República (Emmanuel Macron)", acrescentou.

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A França destacou, além disso, que o AIEA deve ter um "acesso pleno" aos dados apresentados por Israel "e decidir depois" o que fazer. / EFE e AFP

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