Mentor de atentados em Paris morreu, diz 'Washington Post'

Mais cedo, o procurador de Paris, François Molins, anunciou que a operação em Seine-Saint-Denis acabou com ao menos dois mortos e oito presos, mas não confirmou se Abaaoud morreu na operação

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Por Andrei Netto , CORRESPONDENTE e PARIS
Atualização:
Ação contra o terror em Saint-Denis Foto: Jacky Naegelen/Reuters

(Atualizada às 23h30) O terrorista que planejou os ataques que mataram 129 pessoas na sexta-feira em Paris pode ter morrido durante uma operação policial de busca na cidade de Seine-Saint-Denis, subúrbio ao norte da capital francesa. Em uma ação com sete horas de duração, os policiais chegaram a uma quarta célula terrorista que se preparava, segundo as autoridades, para a realização de mais atentados com fuzis e explosivos.

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A intervenção resultou na morte de duas ou três pessoas – incluindo uma mulher-bomba que detonou seus explosivos – e na prisão de outras oito. Segundo o jornal Washington Post, o mentor do massacre da semana passada, Abdelhamid Abaaoud, estava entre os mortos. A polícia e o governo francês ainda esperavam, na noite desta quarta-feira, uma confirmação da identidade por exame de DNA. Salah Abdeslam, belga que participou dos ataques e fugiu em seguida, continua desaparecido.

A violência e a complexidade da operação policial ficou clara pelo estado de destruição do edifício em que os terroristas se entrincheiraram para enfrentar os policiais. O piso de um dos apartamentos desabou com a explosão, janelas foram demolidas e portas, derrubadas. Mais de 80 granadas foram detonadas e 5 mil tiros disparados só pela polícia.

A força da intervenção se explica pela resistência dos extremistas. Logo no início da invasão, às 4h16, uma mulher – provavelmente Hasna Ait Boulahcen, de 26 anos, prima de Abaaoud – detonou um cinturão de explosivos, em um ato suicida que não teria deixado mais vítimas. O estado de fragmentação do corpo, no entanto, impedia até a noite o Ministério do Interior de confirmar se se tratava de uma única pessoa morta. 

Por mais de duas horas, os terroristas trocaram rajadas de metralhadora com as forças de segurança, até que os agressores fossem neutralizados.  O alvo da operação era bem preciso. De acordo com o procurador do Polo Antiterrorismo do Ministério Público de Paris, François Molins, rastreamentos telefônicos indicaram que Abaaoud, jihadista belga que se uniu ao Estado Islâmico e é considerado o mentor dos ataques de sexta-feira, não apenas retornou à Europa, mas estaria em território francês e escondido no imóvel situado na Rue Corbillon, no centro de Saint-Denis. “Os investigadores recolheram um testemunho que indicou a presença de Abaaoud na França em 16 de novembro, no final do dia”, confirmou Molins, citando “verificações telefônicas e bancárias”.

Ao término da operação, o balanço do MP indicou pelo menos dois mortos – a hipótese de que um terceiro terrorista tenha se desintegrado no momento da explosão da mulher-bomba não está descartada.

“Ainda não há um balanço preciso do número definitivo e da identidade das pessoas mortas. O que sabemos é que há ao menos dois”, confirmou Molins. Oito pessoas foram presas, dentre as quais três terroristas, mas as identidades, já confirmadas, não foram reveladas.

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Molins deu apenas uma pista. “Abdelhamid Abaaoud e Salah Abdeslam não estão entre as pessoas detidas”, advertiu. Na prática, Abaaoud pode estar entre os mortos, mas Abdeslam continua em fuga – ao que tudo indica, na Bélgica. Oficialmente, no entanto, ambos eram considerados apenas desaparecidos até a noite desta quarta-feira.

Entre os presos estariam parentes de dois outros terroristas que participaram dos ataques – Ismael Omar Mostafai e Samy Amimour, responsáveis pelo massacre na casa de shows Bataclan, em Paris.

Segundo o magistrado, o arsenal encontrado e o grau de preparo deixa claro que a disposição dessa quarta célula terrorista – três atacaram na sexta-feira – indica que um atentado estava sendo preparado para ocorrer na capital ou na região metropolitana, como o realizado no Stade de France, também em Seine-Saint-Denis.

“A quantidade de armas encontradas demonstra uma ação determinada de ir até o fim”, avaliou. “Uma nova equipe de terroristas foi neutralizada e deixa entrever que este comando poderia partir para a ação.”

O salto nas investigações que permitiu à polícia localizar e neutralizar os agressores foi possível graças à descoberta de um telefone celular jogado no lixo perto do Bataclan.  Além de ligações feitas e recebidas, os investigadores encontraram uma mensagem SMS enviada às 21h42 de sexta-feira – instantes antes dos atentados de Paris –, na qual se lia “Vamos lá. Vai começar” .

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