Apesar de os resultados oficiais das eleições na Bolívia ainda não terem sido divulgados pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), as pesquisas de boca de urna não deixaram dúvidas sobre a conquista de um terceiro mandato à frente do país pelo presidente Evo Morales, do partido Movimento ao Socialismo (MAS).
O ex-líder cocaleiro aparece em duas sondagens feitas no domingo com cerca de 35 pontos porcentuais de vantagem sobre o opositor mais bem colocado, Samuel Doria Medina, da Unidade Democrática (UD).
Segundo projeções, o MAS obteria 82 deputados (63% da Assembleia) e 25 senadores (69% do Senad0). A UD faria a segunda maior bancada, com 35 deputados e 10 senadores. A terceira força seria o Partido Democrata Cristão (PDC), que teria 12 deputados e 1 senador. O Movimento Sem Medo e o Partido Verde elegeriam 1 deputado cada.
Se confirmadas as projeções, o partido de Evo perderia 6 cadeiras na Assembleia (o MAS tem hoje 88 deputados) e uma no Senado (a legenda tem hoje 26 senadores). A bancada do MAS, mantida a estimativa de 82 cadeiras na Assembleia, ficaria a apenas 1 deputado da maioria de dois terços, que daria a Evo poder para alterar a Constituição.
Especialistas ouvidos pelo
Estado
disseram que a vitória fácil de Evo deve-se à estabilidade econômica e à capacidade que ele teve para se reinventar politicamente, estipulando novas metas e desafios políticos.
"Em relação à economia, é muito claro o efeito a estabilidade e a bonança vivida pelo país teve sobre os eleitores", afirmou à reportagem o cientista político Carlos Cordero, da Universidade Maior de San Andrés e da Universidade Católica Boliviana. "Por outro lado, não podemos deixar de considerar que os enormes recursos financeiros, além da possibilidade de usar o aparato público para fazer campanha, tiveram um papel importante na fidelidade dos eleitores."
O possível uso desproporcional dos meios de comunicação estatais em favor de Evo foi questionado pelos principais líderes opositores durante a campanha. No entanto, não foi apenas a grande vantagem sobre os adversários que caracterizou a votação. Um dos principais triunfos de Evo foi ter vencido, pela primeira vez, nos Departamentos (Estados) de Tarija, Pando e Santa Cruz, tradicionais redutos da oposição.
É nesse novo cenário que a capacidade de adaptação do presidente teve maior importância. "Nas três eleições vencidas por Evo, tanto ele como o MAS se reinventaram e isso resultou na conquista de eleitores e no aumento dos votos do presidente em regiões onde ele nunca teve bom desempenho", avaliou a cientista política e socióloga Helena Argirarkis.
"A proposta de Evo que, naturalmente, representa a continuidade da situação econômica da Bolívia, aliada ao maciço investimento em obras públicas nessas regiões e ao pacto de interesses mútuos que ele fez com muitos líderes nesses Departamentos, foi sendo assimilada pelos eleitores desde o ano passado", disse a especialista.
Esse novo momento vivido pelo MAS, porém, pode ter vida curta e não se repetir nas próximas eleições para governadores e prefeitos. "Esse desempenho está muito relacionado ao próprio Evo. Não há garantia de que ele vai passar isso para os candidatos e é preciso lembrar que, apesar da vitória, o partido do presidente não tem hegemonia nessas regiões", afirma Helena.
Repercussão.
A presidente Dilma Rousseff parabenizou ontem o presidente boliviano por sua reeleição. "Foi uma grande vitória e mostra que todo preconceito contra ele é algo que não tem base, pois ele é um grande presidente e estabilizou a Bolívia", disse Dilma, que evitou comentar o fato de Evo ter obtido um terceiro mandato. "Eu não comento, porque não comento isso de país nenhum", afirmou.
Ontem, chefes de governo e de Estado também cumprimentaram Evo. Em sua conta no Twitter, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, enalteceu a aliança com La Paz e a "grande vitória da pátria sul-americana". Maduro também citou o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, Fidel Castro e Simón Bolívar em suas felicitações. Evo também recebeu cumprimentos dos governos de Cuba, Colômbia, Equador, Espanha e França, entre outros.
Ontem, Evo prometeu queixar-se formalmente ao papa Francisco em razão do que considera ser a oposição feita por setores da Igreja Católica a seu governo. O presidente disse que pedirá um controle dos sacerdotes que estariam utilizando meios de comunicação para "dominar e submeter" os fiéis.
/ COM AFP
, COLABORARAM
RICARDO DELLA COLETTA E TÂNIA MONTEIRO