Economia e discurso mais pragmático explicam triunfo de Evo, dizem analistas

Presidente boliviano, que segundo pesquisas de boca de urna deve ter 35 pontos porcentuais de vantagem sobre segundo colocado nas eleições de domingo, venceu até mesmo em tradicional reduto da oposição, como Santa Cruz de la Sierra

PUBLICIDADE

Por Murillo Ferrari e LA PAZ
Atualização:
O presidente da Bolívia, Evo Morales Foto: Cris Bouroncle/AFP

Apesar de os resultados oficiais das eleições na Bolívia ainda não terem sido divulgados pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE), as pesquisas de boca de urna não deixaram dúvidas sobre a conquista de um terceiro mandato à frente do país pelo presidente Evo Morales, do partido Movimento ao Socialismo (MAS).

O ex-líder cocaleiro aparece em duas sondagens feitas no domingo com cerca de 35 pontos porcentuais de vantagem sobre o opositor mais bem colocado, Samuel Doria Medina, da Unidade Democrática (UD).

Segundo projeções, o MAS obteria 82 deputados (63% da Assembleia) e 25 senadores (69% do Senad0). A UD faria a segunda maior bancada, com 35 deputados e 10 senadores. A terceira força seria o Partido Democrata Cristão (PDC), que teria 12 deputados e 1 senador. O Movimento Sem Medo e o Partido Verde elegeriam 1 deputado cada.

Se confirmadas as projeções, o partido de Evo perderia 6 cadeiras na Assembleia (o MAS tem hoje 88 deputados) e uma no Senado (a legenda tem hoje 26 senadores). A bancada do MAS, mantida a estimativa de 82 cadeiras na Assembleia, ficaria a apenas 1 deputado da maioria de dois terços, que daria a Evo poder para alterar a Constituição.

Especialistas ouvidos pelo

Estado

disseram que a vitória fácil de Evo deve-se à estabilidade econômica e à capacidade que ele teve para se reinventar politicamente, estipulando novas metas e desafios políticos.

Publicidade

PUBLICIDADE

"Em relação à economia, é muito claro o efeito a estabilidade e a bonança vivida pelo país teve sobre os eleitores", afirmou à reportagem o cientista político Carlos Cordero, da Universidade Maior de San Andrés e da Universidade Católica Boliviana. "Por outro lado, não podemos deixar de considerar que os enormes recursos financeiros, além da possibilidade de usar o aparato público para fazer campanha, tiveram um papel importante na fidelidade dos eleitores."

O possível uso desproporcional dos meios de comunicação estatais em favor de Evo foi questionado pelos principais líderes opositores durante a campanha. No entanto, não foi apenas a grande vantagem sobre os adversários que caracterizou a votação. Um dos principais triunfos de Evo foi ter vencido, pela primeira vez, nos Departamentos (Estados) de Tarija, Pando e Santa Cruz, tradicionais redutos da oposição.

É nesse novo cenário que a capacidade de adaptação do presidente teve maior importância. "Nas três eleições vencidas por Evo, tanto ele como o MAS se reinventaram e isso resultou na conquista de eleitores e no aumento dos votos do presidente em regiões onde ele nunca teve bom desempenho", avaliou a cientista política e socióloga Helena Argirarkis.

"A proposta de Evo que, naturalmente, representa a continuidade da situação econômica da Bolívia, aliada ao maciço investimento em obras públicas nessas regiões e ao pacto de interesses mútuos que ele fez com muitos líderes nesses Departamentos, foi sendo assimilada pelos eleitores desde o ano passado", disse a especialista.

Esse novo momento vivido pelo MAS, porém, pode ter vida curta e não se repetir nas próximas eleições para governadores e prefeitos. "Esse desempenho está muito relacionado ao próprio Evo. Não há garantia de que ele vai passar isso para os candidatos e é preciso lembrar que, apesar da vitória, o partido do presidente não tem hegemonia nessas regiões", afirma Helena.

Repercussão.

A presidente Dilma Rousseff parabenizou ontem o presidente boliviano por sua reeleição. "Foi uma grande vitória e mostra que todo preconceito contra ele é algo que não tem base, pois ele é um grande presidente e estabilizou a Bolívia", disse Dilma, que evitou comentar o fato de Evo ter obtido um terceiro mandato. "Eu não comento, porque não comento isso de país nenhum", afirmou.

Publicidade

Ontem, chefes de governo e de Estado também cumprimentaram Evo. Em sua conta no Twitter, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, enalteceu a aliança com La Paz e a "grande vitória da pátria sul-americana". Maduro também citou o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez, Fidel Castro e Simón Bolívar em suas felicitações. Evo também recebeu cumprimentos dos governos de Cuba, Colômbia, Equador, Espanha e França, entre outros.

Ontem, Evo prometeu queixar-se formalmente ao papa Francisco em razão do que considera ser a oposição feita por setores da Igreja Católica a seu governo. O presidente disse que pedirá um controle dos sacerdotes que estariam utilizando meios de comunicação para "dominar e submeter" os fiéis.

/ COM AFP

, COLABORARAM

RICARDO DELLA COLETTA E TÂNIA MONTEIRO

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.