O ministro de Fazenda e Finanças argentino, Alfonso Prat-Gay, deu novos indícios ontem de que será o primeiro a descumprir uma promessa de campanha de seu chefe, o presidente Mauricio Macri. Um dos poucos compromissos concretos assumidos pelo político durante o ano foi remover o controle sobre o câmbio “no primeiro dia de mandato”. O dólar oficial é mantido pelo Estado a 9,75 pesos, enquanto no paralelo vale de 14,75 pesos.
Prat-Gay (lê-se gai), um ex-jogador de rúgbi que trocou o esporte pelo futebol ao descobrir que tinha apenas um rim, sugere que a medida será adotada gradualmente, e não como Macri queria. Questionado sobre datas, perde um pouco a paciência. “Já respondi isso. Será feito o mais cedo possível”, disse rispidamente ao Estado ontem, ao deixar o Congresso, logo após o juramento de Macri.
Ao sair do prédio e ir para a Casa Rosada, Prat-Gay foi recepcionado por um fã-clube, predominantemente feminino, incomum para um economista responsável pelas finanças do país. Menos ainda para um ministro que precisará efetuar uma desvalorização que tende a reduzir o poder de compra da população.
Ali também estava o aposentado de 70 anos Luis Carlos Osorio, que levantou quando o ministro passou um cartaz em que estava escrito “não desvalorizar, não se endividar”.
“Se ele fizer isso, serei um dos primeiros a protestar nas ruas”, ameaçou o aposentado, destoando das ovações recebidas por Prat-Gay.
Ao sair do Palácio San Martín, sede da chancelaria argentina, o ministro de origem liberal que compôs como deputado uma aliança de centro-esquerda, voltou a ter seu nome gritado por tietes. Sem graça, preferiu parar diante dos microfones de jornalistas para evitar o assédio do público. Mas também não ficou muito à vontade.
“Não haverá feriado cambial (hoje). Vamos normalizar tudo o que está fora de ordem e não é pouco. E cuidar para sofram menos os que têm menos. Não será um pacote de medidas”, afirmou, em resposta ao rumor de que a Argentina proibiria trocas cambiais hoje para evitar uma oscilação anormal na data reiteradamente prometida por Macri na campanha como a de uma mudança que afetaria todos os argentinos. Questionado pela relação com o principal país vizinho, foi assertivo. “Nosso destino é o Brasil. E a partir do Brasil vamos nos comunicar com o mundo”, declarou o ministro.