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Eleição para governador na Flórida, microcosmo da polarização nos EUA

Pesquisas mostram um empate entre os dois candidatos: o carismático democrata negro Andrew Gillum, de 39 anos, e o republicano branco anti-imigração Ron DeSantis, de 40 anos; disputa dará pistas sobre o que poderá ocorrer em nível nacional em 2020

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Por Redação
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MIAMI - Um carismático democrata negro contra um republicano branco anti-imigração: a corrida pelo governo da Flórida nas eleições de meio de mandato é um microcosmo da polarizada política americana e talvez um sinal do que pode acontecer em 2020

Do lado democrata está Andrew Gillum, de 39 anos, prefeito da capital, Tallahassee. Se vencer, será o primeiro governador negro da Flórida. Seus fervorosos seguidores consideram seu discurso tão inspirador quanto o do progressista Bernie Sanders ou o do ex-presidente Barack Obama.

Republicano Ron DeSantis (E) e o democrata Andrew Gillum representam polarização da política americana e dão sinais para a disputa presidencial de 2020 Foto: Chris O'Meara/Pool via REUTERS

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Seu adversário republicano, o ex-congressista Ron DeSantis, de 40 anos, tem o mesmo viés populista do presidente Donald Trump. Quer impor limites ao aborto, reduzir os impostos, endurecer a política migratória e defender a livre venda de armas.

Forasteiros em seus próprios partidos, ambos ocupam extremos opostos do espectro ideológico. Segundo especialistas, é como se Trump tivesse enfrentado Sanders - e não Hillary Clinton - nas eleições presidenciais de 2016.

Mas os dois enfrentam obstáculos. Uma investigação por corrupção que o FBI conduz em Tallahassee está ofuscando a campanha de Gillum, enquanto DeSantis é criticado por um comentário sobre seu adversário que muitos denunciam como racista.

As pesquisas mostram um empate entre os dois candidatos. E o resultado de 6 de novembro dará pistas sobre o que poderá ocorrer em nível nacional se os democratas elegerem um candidato mais inclinado à esquerda para as presidenciais de 2020.

A Flórida, com 21 milhões de habitantes, é um peso pesado nas eleições presidenciais, com uma população diversa que encapsula as divisões da política americana atual.

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"Temos a oportunidade de enviar uma mensagem a todo o país, que penso que vai reverberar nos 50 Estados, em toda a nação, em todo o mundo", disse Gillum durante evento recente em Miami. "Nem tudo está perdido e ainda há esperança!"

Suas propostas - aumentar os impostos corporativos, controlar a venda de armas e investir em educação, saúde pública e meio ambiente - apelam aos jovens e aos progressistas. 

"É incrivelmente inspirador", disse Donald Shockey, planejador urbano de 60 anos, que chorou de emoção após o discurso. "Um ser humano maravilhoso", soluçava.

Prognósticos cautelosos

Os jovens, estimulados pelo movimento contrário às armas após o massacre de 17 pessoas em uma escola em Parkland, animam novos eleitores a votar em democratas com vídeos em que atores de Hollywood falam, em duplo sentido, de sua "primeira vez".

A geração X, a Y, os "Millenials" e a recém-chegada Z (de 18 a 21 anos) são 52% dos eleitores registrados na Flórida, disse a analista política Susan MacManus, professora da Universidade do Sul da Flórida (USF). "O que estamos presenciando aqui é uma mudança geracional completa", acrescentou.

Mas os especialistas advertem os democratas que seu otimismo poderia ser tão infundado como em 2016, quando votantes da Flórida elegeram Trump.

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"Parece que subestimam as pessoas que vão votar nos republicanos e boa parte disso vem do fato de que a imprensa demoniza quem se identifica como conservador", disse MacManus.

Segundo Michael McDonald, especialista em eleições da Universidade da Flórida, para Gillum vencer é preciso que se consiga levar às urnas mais jovens e mais negros.

Enquanto isso, DeSantis, que se beneficiou nas primárias graças ao apoio de Trump, começa a cortejar um eleitorado menos conservador ao mudar seu foco para a educação e o meio ambiente.

"O atrativo em Trump não vai muito além de sua base republicana", disse o especialista. Mas os hispânicos são sempre uma carta na manga.

O fator porto-riquenho

Os cubanos foram chave para dar a vitória a Trump na Flórida e DeSantis sabe disso. Além disso, em seu mais recente alerta televisivo, divulgado em espanhol, o candidato republicano alertou os eleitores sobre as "ideias socialistas" de Gillum.

"Nenhuma destas ideias funcionou nos países que conhecemos", disse a voz em off, sobre a imagem que evoca residências mal conservada de Havana. "A agenda de Gillum traria os mesmos resultados: Miséria."

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O representante DeSantis "foi um campeão de seu posto no Congresso" para promover políticas anticastristas em Washington, disse o advogado Marcell Felipe, presidente da fundação Inspire America.

Como contrapeso ao voto conservador dos cubanos, espera-se que cerca de 50 mil porto-riquenhos que se instalaram na Flórida após o furacão Maria punam Trump pela demora em responder ao desastre que deixou quase 3 mil mortos.

Como Porto Rico é um território americano, os porto-riquenhos podem votar se emigrarem para o território continental dos EUA. Assim, metade dos 13 milhões de eleitores é de origem cubana ou porto-riquenha (28% e 22%), segundo a ONG Hispanic Federation.

"Ambos os partidos estão buscando agressivamente este voto", disse McManus. "Mas penso que terá maior impacto na presidencial de 2020". / AFP

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