Em Gaza, intifada é limitada por bloqueio e descrédito de facções

Com desgaste causado por conflito entre Fatah e Hamas, palestinos afastam-se do levante e aguardam eleição

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Atualização:

Eram quase 15h de terça-feira em Gaza quando agentes de fronteira de Israel informaram as autoridades do Hamas que controlam o ingresso do lado palestino que a entrada e saída de pessoas, já muito limitada, seria bloqueada por tempo indeterminado.  A razão alegada era a ação de jovens, que provocavam focos de incêndio isolados no trecho de terra seca que separa os muros israelenses do acesso à Faixa de Gaza. O protesto dos jovens era o que ambos os lados chamaram de intifada.

Mas o levante árabe tem sido até agora tão limitado que tem menos intensidade e violência do que manifestações de grupos black blocs em ruas da França ou da Alemanha. Para os moradores de Gaza ouvidos pelo Estado, a maioria em condição de anonimato, a mobilização é pequena em razão da situação social e econômica no território, que vem corroendo o capital político do Hamas. “Não temos energia elétrica, o desemprego é muito alto. As pessoas estão cansadas”, diz o arquiteto S.H., que ganha a vida com bicos.

EPA1078. GAZA (GAZA Y CISJORDANIA), 14/12/2017.- El jefe pol?tico del movimiento islamista Ham?s, Ismail Haniye, ofrece un discurso durante un desfile celebrado para conmemorar el trig?simo aniversario del movimiento en Gaza, en la Franja de Gaza hoy, 14 de diciembre de 2017. El movimiento islamista Ham?s dijo ayer que "continuar? con su proyecto de liberaci?n y resistencia en todas sus formas hasta que la hist?rica tierra de Palestina sea liberada", en un comunicado difundido con motivo del 30 aniversario de su fundaci?n. EFE/ Mohammed Saber Foto:

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Para Omar Shakir, diretor da ONG Human Rights Watch em Israel e Palestina, a situação humanitária levou a população à exaustão e à desconexão com as duas facções, Fatah e Hamas. Hoje a economia do território é 23% mais pobre do que em 1996 e 70% da mão de obra feminina, autorizada a trabalhar, não encontra emprego. “As duas autoridades palestinas usaram a população de Gaza como se disputassem um jogo de futebol, para marcar pontos em suas causas. Ambas estão engajadas em prisões de indivíduos de grupos contrários, e hoje o PIB de Gaza é menor do que era 20 anos atrás”, diz Shakir, para quem a responsabilidade maior recai, mesmo com as divergências palestinas, sobre Israel. Isso porque, segundo a HRW, o isolamento não para de crescer, ilustrado pelo número escasso de travessias no posto de fronteira de Ezras, entre Israel e a Faixa de Gaza. “Israel criou um bloqueio em torno de Gaza com grandes impactos sociais e econômicos: separa famílias, perpetua pobreza e desemprego.

Apesar da desmobilização em torno da intifada, moradores e analistas não descartam a possibilidade de a mobilização crescer em caso de excessos na repressão ou um fato político novo. A situação é instável porque, com as negociações entre Fatah e Hamas em curso, ainda é possível, por exemplo, que setores do Tanzim, o braço armado da Fatah, possam se juntar ao Hamas em ações organizadas. Mas Gershon Baskin, fundador do Centro Israel-Palestina para Pesquisa e Informação, de Jerusalém, aposta que a paz entre as duas facções possa ajudar a estabilizar a disputa na Palestina, abrindo o caminho para eleições em 2018. “O mais importante até a decisão de Trump era que havia um processo de reunificação entre Hamas e Fatah e de unificação da AP”, diz. “Há uma longa história de disputa na sociedade palestina. Fatah e Hamas continuam a ser fortemente representados. Mas haverá novas forças políticas. Os palestinos querem escolher suas autoridades em um processo eleitoral limpo.”/ A.N.

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