PUBLICIDADE

Em meio a crise, Trump retoma tom de campanha em redutos que o elegeram

Com popularidade em queda, presidente americano discursa na fábrica da Boeing, na Carolina do Sul, e marca comício para hoje na Flórida, dois Estados em que venceu; intenção é mudar imagem de desorganização instalada na Casa Branca

Por Cláudia Trevisan , Correspondente e Washington
Atualização:

Com popularidade em queda e um início de governo marcado por crises, protestos e desorganização, Donald Trump saiu de Washington e retomou seu discurso de campanha em território amigável. Em evento em uma fábrica da Boeing nesta sexta-feira, 17, na Carolina do Sul, o presidente prometeu trazer de volta aos EUA empregos levados para outros países. Amanhã, ele participará de comício na Flórida organizado por um grupo que trabalhou por sua eleição. 

Trump se prepara para embarcar no Air Force One, em Maryland Foto: AFP PHOTO / NICHOLAS KAMM

PUBLICIDADE

O republicano chegou à Casa Branca com o menor índice de aprovação para um líder recém-eleito e viu sua rejeição crescer antes mesmo de completar um mês no cargo. Pesquisa do Pew Research Center divulgada na quinta-feira mostrou que 56% dos entrevistados desaprovam sua gestão, enquanto 36% a veem de maneira positiva – 6% não responderam. No Gallup, a aprovação é de 40%, patamar 21 pontos porcentuais inferior à média histórica obtida por presidentes em início de mandato.

Mas os dados revelam a extrema polarização política dos EUA. Só 8% dos democratas aprovam a gestão de Trump, um índice sem precedentes entre os opositores do ocupante da Casa Branca. Em fevereiro de 2001, 31% dos democratas tinham uma avaliação positiva do presidente George W. Bush. Entre republicanos, a aprovação de Trump é de 87%. 

“Esse presidente tem uma necessidade psicológica de estar cercado por multidões que o adulam”, disse o cientista político David Cohen, professor da Universidade de Akron. Segundo ele, é inusitado que um ocupante da Casa Branca faça comícios como o de amanhã no início de seu mandato. “Normalmente, os presidentes usam este período para promover sua agenda e articular a aprovação de leis no Congresso.”

Trump enfrenta questionamentos crescentes sobre a natureza de seu vínculo com a Rússia. As suspeitas foram reforçadas pela queda de seu ex-conselheiro de Segurança Nacional, Michael Flynn, afastado na segunda-feira, depois da revelação de que discutiu sanções impostas à Rússia pelo ex-presidente Barack Obama em conversas telefônicas com o embaixador do país em Washington. 

O novo governo também sofreu desgaste com os resultados do decreto que suspendeu a entrada nos EUA de cidadãos de sete países de maioria muçulmana e de refugiados de todo o mundo. A medida afetou dezenas de milhares de pessoas e causou protestos. Uma semana depois de sua promulgação, o decreto de Trump foi suspenso pelo Judiciário. 

“O governo é um trem descarrilado”, disse Cohen. “Não houve um pior início de governo na história moderna dos EUA.” O professor observa que há diferentes polos de poder na Casa Branca, o que contribuiu para que o vazamento de informações para a imprensa atingisse um patamar sem precedentes.

Publicidade

No evento da Boeing, o presidente retomou as promessas marcadas pelo nacionalismo econômico que garantiram sua vitória sobre Hillary Clinton em novembro e prometeu castigar empresas que transfiram linhas de montagem a outros países com o objetivo de exportar para os EUA. Ele começou seu discurso exaltando o quanto gosta da Carolina do Sul, em razão da vitória avassaladora que teve no Estado contra Hillary.

“Nós estamos aqui hoje para celebrar a engenharia americana e a manufatura americana”, disse Trump, que visitou a Boeing para participar da apresentação do mais recente avião da empresa. “Nós também estamos aqui hoje para celebrar empregos. Empregos!” O presidente discursou em frente a um Dreamliner 787-10.

O cenário semelhante a muitos de seus eventos de campanha realizados em hangares será repetido no comício de amanhã, marcado para o aeroporto de Melbourne. Mas em vez do avião pintado com seu nome, Trump terá ao fundo o Air Force One da presidência dos EUA.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.