Em novo recorde, mais de 5 mil pessoas morreram tentando chegar à Europa em 2016

Aumento de vítimas foi de 35% entre 2015 e o ano passado, segundo a Organização Internacional para as Migrações, que apela para que os países europeus 'entrem em acordo sobre como gerenciar' a crise

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Por Jamil Chade , Correspondente e Genebra
Atualização:

GENEBRA - O ano de 2016 bateu o recorde em mortes de imigrantes e refugiados no Mar Mediterrâneo, com um salto de 35% em relação a 2015. Dados divulgados nesta sexta-feira, 6, pela Organização Internacional para as Migrações (IOM, na sigla em inglês) apontam que mais de 5 mil pessoas perderam a vida tentando chegar até a Europa em barcos frágeis e nas mãos de grupos criminosos. Por dia, foram quase 14 vítimas mortais, em média. 

Contando todas as regiões de fronteira do mundo, 2016 registrou 7,4 mil mortos em tentativas de fuga de seus países. Apenas na África foram cerca de 1,1 mil vítimas, ao passo que na fronteira entre o México e os EUA fora 432 mortos, além de outros 174 na América Central. 

Imigrantes comemoram ao chegar no porto de Pozzallo, na Itália, dois dias depois de o barco deles, à deriva, ser resgatados por uma ONG no Mediterrâneo Foto: REUTERS/Yannis Behrakis

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Mas são os dados para o Mediterrâneo que mais cresceram e revelam, para as instituições internacionais, que a política de migração da Europa não está dando resultado. Em 2015, foram 3,7 mil mortos, o que já havia sido um recorde. Agora, o número voltou a atingir marcas inéditas. Em apenas três anos de crise de refugiados, 18 mil estrangeiros morreram tentando cruzar fronteiras.

O que surpreende aos especialistas é que o número de mortes vem aumentando, mesmo com a queda no fluxo de estrangeiros tomando o caminho para a Europa. No total, 2016 registrou 363 mil pessoas cruzando o mar. Em 2015, o número havia superado a marca de 1 milhão. 

Para a Frontex, a agência de fronteiras do bloco europeu, a queda no fluxo ocorreu principalmente por conta de um acordo entre Bruxelas e Ancara, fechando a passagem entre a Turquia e as ilhas gregas. Ainda assim, 173 mil pessoas tomaram essa rota. 

Mas, enquanto o caminho grego é restrito, o que se registrou foi um salto no fluxo de pessoas usando a Líbia e Egito como ponto de partida para uma travessia mais perigosa até o sul da Itália. Em 2015, 153 mil pessoas haviam tomado essa rota. Em 2016, esse número chegou a 181 mil, o mais alto já registrado pelas autoridades italianas. 

Parte da explicação para o salto no número de mortes está relacionado com esse "novo caminho". Outro problema seriam as táticas usadas por grupos criminosos. Sabendo do compromisso dos europeus em resgatar os náufragos, barcos ainda mais frágeis são lançados ao mar na esperança de que sejam rapidamente recolhidos. Muitos, porém, não são identificados ou o resgate não ocorre com a velocidade necessária.

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"Ainda que elevado, esses números não refletem a realidade e os números estão subestimados", disse o porta-voz da IOM, Joel Millman, que afirma não ter condições de saber qual o real número de mortos. 

No que se refere ao Mar Mediterrâneo, 4,2 mil dos 5 mil mortos foram vítimas de afogamento. Outros ainda perderam a vida por sufocamento, hipotermia ou desidratação. 

"A frustração só vai acabar quando governos europeus entrarem em um acordo sobre como gerenciar a migração", alertou William Swing, diretor-geral da IOM. "Migrantes e refugiados não estão atravessando o mar para serem resgatados. Estão fazendo a travessia porque sabem que, onde estão, não terão uma vida", disse. 

Em sua avaliação, não adiantará a Europa apenas aumentar a capacidade de resgatar náufragos. A solução teria de passar por caminhos legais de migração e acordos com países de origem."Temos de tentar algo novo e que funcione", disse Swing. 

Desde 2010, a Itália aumentou em dez vezes o número de resgates em sua costa. Nigerianos seriam os principais migrantes nessa rota, que também conta com eritreus e pessoas da Guinea, Costa do Marfim e Gâmbia.

No total, contando imigrantes e refugiados que tentam entrar na Europa por aeroportos e atravessando fronteiras secas, a Frontex estima que 503 mil estrangeiros irregulares foram detectados nas portas de entrada da UE em 2016.